quarta-feira, 1 de abril de 2015

BOM VENTO DE ESPANHA

Sempre senti maior animosidade dos portugueses contra os espanhóis do que o contrário, algo também presente no aforismo que diz: “ de Espanha nem bom vento nem casamento”. Julgo que muitos dos nossos provérbios populares, longe de serem lições de vida atemporais, são reflexo de episódios históricos já ultrapassados e produto de julgamentos a que o chauvinismo e a ignorância popular não são alheios. Exemplo disso foi também a nossa criação do verbo “judiar”, geralmente usado como sinónimo de troçar, escarnecer, ridicularizar e zombar, substituindo também por vezes o verbo “maltratar” (fazer judiarias). Apesar da relutância histórica de alguns, parece que ainda temos muito a aprender com os espanhóis, até porque no País vizinho não há um só povo mas um conjunto de povos, por vezes bem diferentes entre si dos pontos de vista étnico e etnológico, abrigados debaixo da mesma bandeira. E nesta trica entre portugueses e espanhóis, sempre me considerei galego, um português de Espanha ou um galego de Portugal, atendendo a minha origem e nome familiar, porque sou bisneto dum que, abandonando a Galícia, assentou primeiro arraiais no Norte e desceu até Lisboa. Talvez por causa disto, sempre abominei fronteiras, tolero imigrantes e sinto-me em casa nos países de cultura celta. E se porventura precisasse de um padroeiro, que dispenso, inclinar-me-ia mais para Santiago do que para Santa Maria.
 Deixemos de parte a minha humilde herança genética e passemos ao bom vento que veio de Espanha, sem dúvida com boas notícias para os cães que nasceram com pouca sorte. Em 13 de Março desde ano, tornou-se ilegal eutanasiar cães em Madrid, mesmo os vadios e abandonados, que terão assim direito a desfrutar das suas vidas. Há 19 anos que a ONG “El Refugio” lutava pela aprovação desta lei, que prevê a punição dos indivíduos que venham a sacrificar os animais doravante. Até aqui, lá como cá, os animais abandonados eram caçados e alojados nos canis terminais municipais, vindo a ser mortos passados alguns dias, se entretanto ninguém os reclamasse. Não sabemos até que ponto o abate do cão da enfermeira que contraiu ebola, ocorrido no ano passado, pesou no apressar desta decisão, já que as autoridades de Madrid sofreram na altura duras críticas vindas de toda a parte. Independentemente disso, Madrid está de parabéns, a organização “El Refugio” também e os animais domésticos agradecem. Oxalá outras cidades e municípios sigam o bom exemplo da Capital espanhola, em Espanha, na Europa e no Mundo. Deus permita que o bom vento espanhol aqui chegue e surta efeito. Ao comentar esta notícia com um homem dedicado à indústria hoteleira, que religiosamente se desloca ao MARL todos os dias, obtive dele o seguinte comentário: “Não é para admirar, lá em Espanha tudo acontece mais cedo porque eles têm uma hora a menos!”.
 

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