quarta-feira, 1 de abril de 2015

ORELHAS TOMBADAS E MENTIRA, CÃES DE LABORATÓRIO E ENGANO

Por força das circunstâncias e não nos restando outra sorte, tornámo-nos especialistas em ligar orelhas a Pastores Alemães, a indivíduos que geneticamente apresentavam a tendência para as tombar, tanto por má implantação quando pela fragilidade das cartilagens, mas sempre aconselhámos a quem resolvemos o problema, que evitassem o uso desses exemplares na reprodução, sabendo que ele se faria presente nas suas futuras proles, mesmo que beneficiados com cães com excelente implantação de orelhas e livres dessa menos valia (raramente fomos ouvidos). O problema é mais antigo do que a raça e remonta à sua proto-selecção, quando indivíduos de orelhas erectas carregavam ascendentes com elas tombadas. Ao longo destes 117 anos, os criadores sérios da raça foram dispensando da criação os indivíduos portadores desta característica, no intuito da banirem do seu seio, sendo hoje muito raro o seu aparecimento, que fica a dever-se a gente menos escrupulosa que faz da mentira prática corrente, ao omitir para os outros a presença do problema nas suas ninhadas, o que tem contribuído para a sua perpetuação. E a verdade é esta: quem gosta da raça não a estraga!
Outro dos problemas que assola ciclicamente a raça é o exagerado abatimento de metacarpos, que nalguns indivíduos é tão grave que chegam a assentar as mãos até às almofadas superiores por cima das patas. Como o problema não se resolverá por si mesmo ou com o passar da idade, antes se agravará, resta como solução a desesperada opção pela injecção de cálcio, que na maioria dos casos resolve o problema mas que não evita que ele se propague, caso esses indivíduos venham a ser reprodutores. Nas gíria da cinotecnia e da canicultura chamam-se a esses indivíduos “cães de laboratório”, porque ficam a dever a sua apresentação ao auxílio humano e não à sua rusticidade própria, como seria desejável e expectável. Caso venham a ser usados na reprodução, transmitirão à sua descendência idêntica anomalia e deficiência, na impossibilidade de lhe legar os tratamentos de que foram alvo. Graças a este abuso de confiança e ausência de escrúpulos, passa-se a batata quente a outros, que surpresos ficam a dizer mal da sua “sorte”, exclamando para si mesmos: “quem diria que pais tão perfeitos dariam um filho tão torto!” Quando nos referimos a esta anomalia, estamos a referir-nos a cães a quem nada lhes faltou, não sendo a incapacidade resultado de inactividade, fome, subnutrição, duma alimentação inadequada, imprópria ou distribuída em exagero. Para a eliminação peremptória destes dois problemas, o das orelhas tombadas e do exagerado abatimento de metacarpos, atendendo ao bom nome da raça, a castração é a solução indicada. 

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