Por
força das circunstâncias e não nos restando outra sorte, tornámo-nos
especialistas em ligar orelhas a Pastores Alemães, a indivíduos que
geneticamente apresentavam a tendência para as tombar, tanto por má implantação
quando pela fragilidade das cartilagens, mas sempre aconselhámos a quem
resolvemos o problema, que evitassem o uso desses exemplares na reprodução,
sabendo que ele se faria presente nas suas futuras proles, mesmo que
beneficiados com cães com excelente implantação de orelhas e livres dessa menos
valia (raramente fomos ouvidos). O problema é mais antigo do que a raça e
remonta à sua proto-selecção, quando indivíduos de orelhas erectas carregavam
ascendentes com elas tombadas. Ao longo destes 117 anos, os criadores sérios da
raça foram dispensando da criação os indivíduos portadores desta
característica, no intuito da banirem do seu seio, sendo hoje muito raro o seu
aparecimento, que fica a dever-se a gente menos escrupulosa que faz da mentira
prática corrente, ao omitir para os outros a presença do problema nas suas
ninhadas, o que tem contribuído para a sua perpetuação. E a verdade é esta:
quem gosta da raça não a estraga!
Outro
dos problemas que assola ciclicamente a raça é o exagerado abatimento de
metacarpos, que nalguns indivíduos é tão grave que chegam a assentar as mãos
até às almofadas superiores por cima das patas. Como o problema não se
resolverá por si mesmo ou com o passar da idade, antes se agravará, resta como
solução a desesperada opção pela injecção de cálcio, que na maioria dos casos
resolve o problema mas que não evita que ele se propague, caso esses indivíduos
venham a ser reprodutores. Nas gíria da cinotecnia e da canicultura chamam-se a
esses indivíduos “cães de laboratório”, porque ficam a dever a sua apresentação
ao auxílio humano e não à sua rusticidade própria, como seria desejável e
expectável. Caso venham a ser usados na reprodução, transmitirão à sua
descendência idêntica anomalia e deficiência, na impossibilidade de lhe legar
os tratamentos de que foram alvo. Graças a este abuso de confiança e ausência
de escrúpulos, passa-se a batata quente a outros, que surpresos ficam a dizer
mal da sua “sorte”, exclamando para si mesmos: “quem diria que pais tão
perfeitos dariam um filho tão torto!” Quando nos referimos a esta anomalia,
estamos a referir-nos a cães a quem nada lhes faltou, não sendo a incapacidade
resultado de inactividade, fome, subnutrição, duma alimentação inadequada,
imprópria ou distribuída em exagero. Para a eliminação peremptória destes dois
problemas, o das orelhas tombadas e do exagerado abatimento de metacarpos, atendendo
ao bom nome da raça, a castração é a solução indicada.
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