quinta-feira, 16 de abril de 2015

AZUL? SÓ SE FOR DE PRETO!

O interesse pelos Pastores Alemães Azuis (totalmente cinzentos) tem aumentado significativamente entre nós e também por essa Europa fora, facto que comprovamos pela leitura assídua dos textos que temos publicado sobre esta variedade cromática. Durante uma década dedicámo-nos a criá-la, não para a fazermos proliferar mas para sabermos mais acerca dela, por que razão ou razões se tornou tão rara e porque não alcançou o estatuto de variedade dominante na raça. Contam-se pelos dedos de uma mão os criadores de Pastor Alemão Azul em toda a Comunidade Europeia, normalmente tidos como experts pelos seus congéneres, apesar de operarem beneficiamentos com exemplares brancos para a sua obtenção, estratégia desaprovada pela “SV” a partir do momento em que expulsou a variedade branca do seu seio. Não foi esse o caminho que tomámos e alcançámos o azul pelo contributo do negro e do lobeiro (cinzento parcial ou bicolor), opção mais dispendiosa e menos rentável para o efeito, já que o uso dos Pastores Brancos torna mais célere o alcance de exemplares azuis, para além de diminuir a ocorrência de exemplares bicolores.
Retornar ao azul, dependendo dos casos, é retornar ao atavismo e desprezar os benefícios da selecção operada até há bem pouco tempo, porque esta variedade irá apresentar menos valias físicas e psicológicas há muito vencidas e tangentes às encontradas no lobo cinzento, que fica a dever a sua robustez às diferentes amplitudes térmicas provocadas pelas Estações do Ano, também responsáveis pelo enriquecimento e alteração das dietas. Os pastores azuis, quando beneficiados entre si ou com grande percentual de branco e lobeiro, tendem a abater os metacarpos em demasia e em não absorver os elementos minerais indispensáveis à formação do seu esqueleto e à sua saúde articular, para além de desaproveitarem a acção benéfica dos Sol e dos seus raios que os fixariam, advindo disto uma propensão para o pernatismo e gigantismo, já que a maioria deles ultrapassará os limites de altura toleráveis  para a raça e a sua envergadura deixará muito a desejar. A bem da variedade e para minorar estes problemas, quanto mais denso for o seu manto, melhor. Só a construção em 4/8 na variedade preto-afogueada lhes garantirá à supressão destas impropriedades, pelo que será lastimável e nefasto excluí-la da sua formação.
Nestas circunstâncias, também assistiremos a alterações psicológicas, interligadas a uma curva de crescimento maior, menor robustez física e atraso no alcance diferentes das diferentes maturidades, sendo estes cães “bebezões” por mais tempo, o que também retarda o seu uso e aproveitamento atlético, cujo desenvolvimento biomecânico obedecerá a maiores delongas, quando comparado com os restantes pastores. A procura pela cor azul e pela sua potenciação está também associada a comportamentos particulares: a uma menor parceria, maior carga instintiva, diminuição do sentimento gregário, indiferença e forte desejo de autonomia. Há nisto tudo um contra-senso, porque estes cães surgem maioritariamente entre os cães de trabalho e se assim é, para quê transformá-los em exemplares de exposição e de menor préstimo? Só porque a cor é rara e nascem com os olhos azuis ou verdes? Se cruzarem um Pastor Alemão com um Cão Leopardo Cataoula da Louisiana, para além da cor dos olhos, ainda alcançarão maior exotismo!
O retorno seguro, legítimo e autêntico às variedades hoje menos vistas ou praticamente extintas no Pastor Alemão só será possível pela contribuição do lobeiro, variedade dominante na proto-selecção, que possibilitou o aparecimento das variedades bicolores e que ainda carrega a maioria das uniformes por detrás da formação da raça, sendo recessivo nalgumas delas. Por causa disso, porque não há dois lobeiros iguais, já conseguimos identificar 18 tonalidades diferentes neste cão cinzento bicolor. Com ele e com o negro podemos chegar ao cinzento uniforme (azul), tanto a partir de exemplares destas variedades quanto dos recessivos nelas, o que possibilita a dois cães preto-afogueados geraram um ou mais cães azuis. As vantagens do uso do preto e não do branco para a obtenção de exemplares azuis são muitas e desejáveis, desde que o preto utilizado tenha pelo menos 3/8 de construção em preto-afogueado, porque doutro modo a sua prole será esganiçada e próxima dos limites mínimos de altura adiantados pela raça.
Os exemplares negros usados para o alcance de pastores Alemães Azuis, quando portadores de boa envergadura, excelentes aprumos e produto de beneficiamentos policromáticos, donde não se pode excluir o contributo da variedade dominante (preto-afogueado), transmitirão à sua prole azul, minoritária nas ninhadas, um crescimento harmonioso, a relação de envergadura desejável, uma curva de crescimento padronizada, melhor assimilação dos elementos minerais indispensáveis ao seu desenvolvimento, exigirão menor variedade e riqueza nas dietas, absorverão naturalmente os benefícios prestados pelo Astro-Rei, consolidarão o seu esqueleto no em simultâneo com as outras variedades cromáticas, alcançarão as respectivas maturidades sem maiores delongas (o que facilitará o seu uso) e serão mais manobráveis, menos esquivos e portadores de um carácter mais sólido, pormenores que, quando díspares, afastam desnecessariamente as variedades recessivas dos benefícios da dominante, revelando a causa ou as causas do seu desleixo.
Conhecedores destes aspectos, que comprovámos ao longo de décadas, sabemos que nenhuma variedade recessiva subsiste sem o contributo da dominante, porque a sua hegemonia não se prendeu exclusivamente à cor mas também à qualidade funcional dos seus exemplares (pelo menos até aos anos sessenta). Nenhuma variedade cromática, por si mesma, é superior à outra, todas contribuem dentro da raça para as suas mais-valias e em todas elas subsistem bons e maus exemplares, o que torna a criação isolada de uma variedade cromática numa quimera que a breve trecho se transformará num pesadelo, quer seja ela dominante ou recessiva, considerando os espectros inibidores da endogamia. A selecção dentro Pastor Alemão deverá ser orientada pela procura da qualidade e jamais baseada numa determinada cor, erro que os nazis cometeram quando expulsaram indevidamente o branco do seu estalão.
Se abominamos a criação exclusiva do preto-afogueado, de igual modo e com a mesma veemência condenamos a criação isolada de uma variedade recessiva e nisto incluímos também a azul que, dependendo dos casos, não se encontra isenta de problemas.

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