Lá pelas terras do "Tio Sam”, primeiro em Chicago e
agora também no Wisconsin e em Indiana, grassa um surto epidémico de gripe
canina nunca visto que, segundo o que foi apurado, se deve ao contágio pelo
vírus H3N8, um subtipo de "Influenza A" responsável pela
transmissão duma nova estirpe da Tosse do Canil. Só em Chicago, já foram infectados
cerca de 1000 cães e 5 deles acabaram por falecer. Ao que tudo indica, as
actuais vacinas não combatem esta estirpe da afecção, apesar de já haver sido
criada uma, que ainda não se encontra disponível no mercado norte-americano. O
vírus foi isolado pela primeira vez na Flórida, em Janeiro de 2004, entre uma
população de galgos e foi transmitido de cão para cão (pensou-se a princípio
que o contágio seria operado a partir dos equinos), estendendo-se depois às
outras raças. Daí até Abril de 2008, 5000 cães foram infectados no Distrito de Colúmbia
e em mais 25 Estados. A doença não tem poupado a Flórida, que entre Janeiro e
Maio de 2005, em cães alojados em canis, viu afectados a priori 58 cães, com e
sem pedigree, com idades compreendidas entre os 3 meses e os 9 anos, acabando
por vitimar 6 deles. No mesmo ano, numa clínica ao Sul deste mesmo Estado,
foram também detectados 40 cães com a mesma doença, vindo 1 deles a morrer. O
exame histológico feito veio a revelar a presença de traqueíte, bronquite,
e bronqueolitis broncopneumonia purulenta associada com a erosão extensiva de
células epiteliais com a infiltração de neutrófilos. Ninguém melhor que o seu
veterinário saberá dizer-lhe do que se trata (o dicionário também poderá
dar-lhe uma ajuda).
Numa altura em que se questiona, no mundo mais desenvolvido, o uso das
vacinas nos seres humanos, os veterinários de Chicago estão a aconselhar a
vacinação para conter o surto desta gripe, que segundo eles mata 5% dos animais
infectados, podendo esse número duplicar na ausência de contenção. De acordo
com o que dizem o “Aurora Beacon-News” e o “Chicago Tribune”, o H3N8 não afecta
as pessoas mas é facilmente transmitido entre cães até 20m, alerta que teve
como consequência o encerramento dos hotéis caninos daquela área. Estes jornais
adiantam ainda os sintomas da infecção: tosse, espirros, febre, dificuldade
respiratória, perca de apetite e letargia, concluindo que esta gripe pode
tardar 10 dias a manifestar-se e que os seus sintomas podem durar até 2
semanas, que o contágio tanto pode acontecer pelo contacto com outros cães como
pelos humanos, no primeiro caso por derramamento e no segundo por ausência da
lavagem das mãos e troca de roupa, logo após terem tocado ou convivido com um
animal doente, cuidados que em Portugal seriam dificilmente respeitados,
atendendo ao mau hábito generalizado de afagar os cães alheios, com ou sem
permissão. Alguns veterinários de Chicago, que entendem não ser a vacinação sempre
recomendável, diante deste surto, recomendam-na apenas para os cães com alto
risco de contágio, vacinando para além deles aqueles que pela sua idade se
encontram mais vulneráveis, os cachorros com menos de 1 ano e os cães a partir
dos 7 anos.
A Dr.ª Cynda Crawford, professora e assistente clínica no Programa de
Medicina Shelter do Maddie, na Universidade do Florida College of Veterinary
Medicine, em Gainesville, que se tem dedicado ao diagnóstico, tratamento,
gestão e prevenção de doenças infecciosas de cães e gatos em alojamentos
comuns, dando especial enfoque ao diagnóstico de vírus e bactérias que causam
infecções respiratórias agudas nos cães instalados em canis, centros de acolhimento
e hotéis, adianta e sintetiza 10 coisas que importa saber sobre a gripe canina
provocada pelo vírus H3N8, que vamos já saber.
São elas: que a presente
gripe canina é uma doença altamente contagiosa, só descoberta na América em
2004, específica e resultante dum subtipo particular do Vírus A, o H3N8; que o vírus se encontra restrito ao
território norte-americano, afectando 30 Estados e o Distrito de Colúmbia,
sendo mais prevalente em muitas comunidades do Colorado, Flórida, Nova Iorque e
Pensilvânia; que o vírus causa uma
infecção respiratória aguda nos cães, isoladamente ou em conjunto com outros agentes
patogénicos respiratórios caninos e que contrariamente ao que sucede com a
gripe humana, a doença não é sazonal; que
os sintomas e sinais desta gripe são: tosse, espirros, corrimento nasal e
possibilidade de ocorrência de febre, sintomas que não diferem doutras infecções
respiratórias caninas. Apesar dos cães recuperarem em 2 semanas e não lhes
sobrarem outras complicações para a sua saúde, a ausência de cura pode evoluir
para pneumonia, facto associado a infecções bacterianas secundárias e, se o
índice de mortalidade da gripe é baixo, o mesmo não se poderá dizer da
pneumonia secundária e dos seus reflexos para a saúde dos animais, adiantando
ainda que não existem evidências relativas à raça ou à idade dos cães que os
tornem mais susceptíveis à pneumonia provocada pelo vírus; que a actual gripe canina, que não afecta humanos nem aves por
provir dum vírus novo, faltando aos cães a preexistente imunidade e que tanto
pode atacar os cães vacinados ou não, sendo mais frequente nos locais
destinados ao alojamento, competição e convívio de vários cães, pelo que os animais
instalados em casa correm menor risco.
Que o H3N8 é
transmitido pelo contacto directo com outros cães infectados ou por pessoas que
estiveram em contacto com eles, podendo ser também transmitido através de
instalações, bebedouros, comedouros, trelas, coleiras e demais acessórios,
assim como pelas mãos humanas nos casos atrás referidos, muito embora o vírus
seja inactivado pelo lavar das mãos, das roupas e outros utensílios com água e
sabão (Ah Orgi, sempre tiveste razão! 1); que só os veterinários estão
habilitados e sabem como tratar a doença, prescrevendo a terapia de suporte adequada
ou hospitalizando os vitimados pela pneumonia secundária; que esta gripe, ao ser altamente contagiosa, obriga ao isolamento
dos cães infectados por 2 semanas e que pode ser transmitida por outros sem
sinais exteriores da doença (o vírus da Influenza não provoca uma infecção
permanente); que o diagnóstico desta
gripe não pode ser encontrado pelos seus sintomas ou sinais clínicos, uma vez
que são idênticos aos causados por outros patogenos respiratórios, mas através da
colheita das secreções presentes na boca e nariz, submetendo-as depois a um
teste laboratorial de PCR (Reacções em Cadeia da Polimerase) válido para a
detecção do presente vírus. Contudo,
o teste mais preciso e recomendado para confirmação da infecção, requer a
recolha de uma pequena amostra de sangue do cão durante a primeira semana da
doença, seguido pela recolha doutra amostra de 10 a 14 dias mais tarde, enviando-se
essas amostras de soro emparelhadas para um laboratório de diagnóstico, afim de
serem calculados os anticorpos formados em relação à infecção; que já existe uma vacina desenvolvida contra
o H3N8, produto da Intervet / Schering Plough Animal Health Corporation, sem
efeitos colaterais ou problemas de segurança, conclusões confirmadas por um
teste de campo que incluiu mais de 700 cães na faixa etária das 6 semanas até
aos 10 anos, de 30 raças diferentes (como
contém um vírus inactivado, não existe a possibilidade da própria vacina poder
causar infecções respiratórias). Infelizmente ainda não está disponível nos
consultórios veterinários, porque o seu preço ainda não foi definido.
Como afortunadamente o
vírus H3N8 ainda aqui não chegou (esperemos que não), para as estirpes mais
comuns da Tosse do Canil, vão-nos valendo as vacinas combinadas junto com as
específicas (a nasal ou a injectável). Depois do que fizemos saber,
recomendamos, para evitar males maiores, as seguintes medidas: meça
diariamente a temperatura ao seu cão (o valor mais exacto acontece depois dele
haver defecado) e se ele tiver febre leve-o ao veterinário; se o cão
apresentar algum destes sintomas, tome o mesmo rumo; vacine-o contra a Tosse
do Canil; afaste-se dos cães infectados; se o seu cão se encontra
infectado conserve-o em casa durante duas semanas; evite acariciar os cães
alheios (caso o faça lave as mãos e a roupa com sabão logo após tê-lo feito; passeie o seu cão por locais menos frequentados por outros; não divida o seu
comedouro, bebedouro e outros acessórios com os demais; devido ao risco, não
importe neste momento cães dos Estados Unidos. Para mais e melhores informações
contacte o seu Médico-Veterinário, sem dúvida o melhor amigo do seu cão, para
além de si é claro!
( 1 Senhora octogenária que connosco privou e que sempre primou pela higiene
e limpeza, a quem por vezes chamam de exagerada).
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