quinta-feira, 9 de abril de 2015

H3N8: UM 31 E UM BICO-DE-OBRA!

Lá pelas terras do "Tio Sam”, primeiro em Chicago e agora também no Wisconsin e em Indiana, grassa um surto epidémico de gripe canina nunca visto que, segundo o que foi apurado, se deve ao contágio pelo vírus H3N8, um subtipo de "Influenza A" responsável pela transmissão duma nova estirpe da Tosse do Canil. Só em Chicago, já foram infectados cerca de 1000 cães e 5 deles acabaram por falecer. Ao que tudo indica, as actuais vacinas não combatem esta estirpe da afecção, apesar de já haver sido criada uma, que ainda não se encontra disponível no mercado norte-americano. O vírus foi isolado pela primeira vez na Flórida, em Janeiro de 2004, entre uma população de galgos e foi transmitido de cão para cão (pensou-se a princípio que o contágio seria operado a partir dos equinos), estendendo-se depois às outras raças. Daí até Abril de 2008, 5000 cães foram infectados no Distrito de Colúmbia e em mais 25 Estados. A doença não tem poupado a Flórida, que entre Janeiro e Maio de 2005, em cães alojados em canis, viu afectados a priori 58 cães, com e sem pedigree, com idades compreendidas entre os 3 meses e os 9 anos, acabando por vitimar 6 deles. No mesmo ano, numa clínica ao Sul deste mesmo Estado, foram também detectados 40 cães com a mesma doença, vindo 1 deles a morrer. O exame histológico feito veio a revelar a presença de traqueíte, bronquite, e bronqueolitis broncopneumonia purulenta associada com a erosão extensiva de células epiteliais com a infiltração de neutrófilos. Ninguém melhor que o seu veterinário saberá dizer-lhe do que se trata (o dicionário também poderá dar-lhe uma ajuda).
Numa altura em que se questiona, no mundo mais desenvolvido, o uso das vacinas nos seres humanos, os veterinários de Chicago estão a aconselhar a vacinação para conter o surto desta gripe, que segundo eles mata 5% dos animais infectados, podendo esse número duplicar na ausência de contenção. De acordo com o que dizem o “Aurora Beacon-News” e o “Chicago Tribune”, o H3N8 não afecta as pessoas mas é facilmente transmitido entre cães até 20m, alerta que teve como consequência o encerramento dos hotéis caninos daquela área. Estes jornais adiantam ainda os sintomas da infecção: tosse, espirros, febre, dificuldade respiratória, perca de apetite e letargia, concluindo que esta gripe pode tardar 10 dias a manifestar-se e que os seus sintomas podem durar até 2 semanas, que o contágio tanto pode acontecer pelo contacto com outros cães como pelos humanos, no primeiro caso por derramamento e no segundo por ausência da lavagem das mãos e troca de roupa, logo após terem tocado ou convivido com um animal doente, cuidados que em Portugal seriam dificilmente respeitados, atendendo ao mau hábito generalizado de afagar os cães alheios, com ou sem permissão. Alguns veterinários de Chicago, que entendem não ser a vacinação sempre recomendável, diante deste surto, recomendam-na apenas para os cães com alto risco de contágio, vacinando para além deles aqueles que pela sua idade se encontram mais vulneráveis, os cachorros com menos de 1 ano e os cães a partir dos 7 anos.
A Dr.ª Cynda Crawford, professora e assistente clínica no Programa de Medicina Shelter do Maddie, na Universidade do Florida College of Veterinary Medicine, em Gainesville, que se tem dedicado ao diagnóstico, tratamento, gestão e prevenção de doenças infecciosas de cães e gatos em alojamentos comuns, dando especial enfoque ao diagnóstico de vírus e bactérias que causam infecções respiratórias agudas nos cães instalados em canis, centros de acolhimento e hotéis, adianta e sintetiza 10 coisas que importa saber sobre a gripe canina provocada pelo vírus H3N8, que vamos já saber.
São elas: que a presente gripe canina é uma doença altamente contagiosa, só descoberta na América em 2004, específica e resultante dum subtipo particular do Vírus A, o H3N8; que o vírus se encontra restrito ao território norte-americano, afectando 30 Estados e o Distrito de Colúmbia, sendo mais prevalente em muitas comunidades do Colorado, Flórida, Nova Iorque e Pensilvânia; que o vírus causa uma infecção respiratória aguda nos cães, isoladamente ou em conjunto com outros agentes patogénicos respiratórios caninos e que contrariamente ao que sucede com a gripe humana, a doença não é sazonal; que os sintomas e sinais desta gripe são: tosse, espirros, corrimento nasal e possibilidade de ocorrência de febre, sintomas que não diferem doutras infecções respiratórias caninas. Apesar dos cães recuperarem em 2 semanas e não lhes sobrarem outras complicações para a sua saúde, a ausência de cura pode evoluir para pneumonia, facto associado a infecções bacterianas secundárias e, se o índice de mortalidade da gripe é baixo, o mesmo não se poderá dizer da pneumonia secundária e dos seus reflexos para a saúde dos animais, adiantando ainda que não existem evidências relativas à raça ou à idade dos cães que os tornem mais susceptíveis à pneumonia provocada pelo vírus; que a actual gripe canina, que não afecta humanos nem aves por provir dum vírus novo, faltando aos cães a preexistente imunidade e que tanto pode atacar os cães vacinados ou não, sendo mais frequente nos locais destinados ao alojamento, competição e convívio de vários cães, pelo que os animais instalados em casa correm menor risco.
Que o H3N8 é transmitido pelo contacto directo com outros cães infectados ou por pessoas que estiveram em contacto com eles, podendo ser também transmitido através de instalações, bebedouros, comedouros, trelas, coleiras e demais acessórios, assim como pelas mãos humanas nos casos atrás referidos, muito embora o vírus seja inactivado pelo lavar das mãos, das roupas e outros utensílios com água e sabão (Ah Orgi, sempre tiveste razão! 1); que só os veterinários estão habilitados e sabem como tratar a doença, prescrevendo a terapia de suporte adequada ou hospitalizando os vitimados pela pneumonia secundária; que esta gripe, ao ser altamente contagiosa, obriga ao isolamento dos cães infectados por 2 semanas e que pode ser transmitida por outros sem sinais exteriores da doença (o vírus da Influenza não provoca uma infecção permanente); que o diagnóstico desta gripe não pode ser encontrado pelos seus sintomas ou sinais clínicos, uma vez que são idênticos aos causados por outros patogenos respiratórios, mas através da colheita das secreções presentes na boca e nariz, submetendo-as depois a um teste laboratorial de PCR (Reacções em Cadeia da Polimerase) válido para a detecção do presente vírus. Contudo, o teste mais preciso e recomendado para confirmação da infecção, requer a recolha de uma pequena amostra de sangue do cão durante a primeira semana da doença, seguido pela recolha doutra amostra de 10 a 14 dias mais tarde, enviando-se essas amostras de soro emparelhadas para um laboratório de diagnóstico, afim de serem calculados os anticorpos formados em relação à infecção; que já existe uma vacina desenvolvida contra o H3N8, produto da Intervet / Schering Plough Animal Health Corporation, sem efeitos colaterais ou problemas de segurança, conclusões confirmadas por um teste de campo que incluiu mais de 700 cães na faixa etária das 6 semanas até aos 10 anos, de 30 raças diferentes (como contém um vírus inactivado, não existe a possibilidade da própria vacina poder causar infecções respiratórias). Infelizmente ainda não está disponível nos consultórios veterinários, porque o seu preço ainda não foi definido.
Como afortunadamente o vírus H3N8 ainda aqui não chegou (esperemos que não), para as estirpes mais comuns da Tosse do Canil, vão-nos valendo as vacinas combinadas junto com as específicas (a nasal ou a injectável). Depois do que fizemos saber, recomendamos, para evitar males maiores, as seguintes medidas:  meça diariamente a temperatura ao seu cão (o valor mais exacto acontece depois dele haver defecado) e se ele tiver febre leve-o ao veterinário; se o cão apresentar algum destes sintomas, tome o mesmo rumo; vacine-o contra a Tosse do Canil; afaste-se dos cães infectados; se o seu cão se encontra infectado conserve-o em casa durante duas semanas; evite acariciar os cães alheios (caso o faça lave as mãos e a roupa com sabão logo após tê-lo feito; passeie o seu cão por locais menos frequentados por outros; não divida o seu comedouro, bebedouro e outros acessórios com os demais; devido ao risco, não importe neste momento cães dos Estados Unidos. Para mais e melhores informações contacte o seu Médico-Veterinário, sem dúvida o melhor amigo do seu cão, para além de si é claro!
( 1 Senhora octogenária que connosco privou e que sempre primou pela higiene e limpeza, a quem por vezes chamam de exagerada).

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