Ao longo da nossa existência montámos 7 pistas
tácticas e servimos de inspiração a outras tantas, um legado que deixamos para
as futuras gerações e que esperamos que perdure, pelos benefícios que elas
oferecem para a manutenção, desenvolvimento, capacitação, potenciação e
selecção dos cães destinados ao trabalho, muito embora lhes possa suceder o
mesmo que às heranças que, quando mal entregues, depressa desaparecem. Os
benefícios reconhecidos às pistas tácticas só serão alcançáveis pelo saber de
quem as dirige, porque doutra forma poderão constituir-se em risco para os cães
ou num aglomerado de monos sem préstimo. Trabalhar ou solicitar trabalho sobre
obstáculos tácticos exige raro conhecimento biomecânico, respeito pelos mais
elementares princípios pedagógicos de ensino, conhecer os principais entraves
morfológicos dos distintos grupos somáticos caninos, considerar e identificar
os diferentes perfis psicológicos individuais, notória experiência, estudo
constante, equilíbrio emocional, bom senso e… saber quando parar, para que os
cães atinjam os índices atléticos ao seu alcance e não os desprezem pelo
aumento da resistência, invariavelmente ligada à inadaptação, à exaustão, a
lesões, à experiência infeliz, ao insucesso e ao medo resultantes do desacerto
e abuso de quem dirige. Assim como todos os grupos de obstáculos têm uma
sequência natural, a evolução nos obstáculos de endurance exige ser gradativa,
subsidiada e não instantânea, porque a adaptação física e psicológica dos cães
não é automática e quando se vai depressa demais corre-se o risco de ruptura.
Imaginemos o trabalho sobre a “Ponte-Quebrada”, que
exige como rendimento mínimo para um cão médio a distância de 180cm. Vamos
supor que uma cadela, que raramente concorre aos obstáculos, salta
inesperadamente 240cm. Deveremos continuar a aumentar a distância entre os
blocos para ver o que ela dá? É evidente que não, porque há que respeitar a
relação entre a preparação geral e a específica, porque só a primeira garantirá
a segunda! Essa tragédia “ de ver quanto dá” é uma insanidade típica dos
mancebos, naturalmente aventureiros e dados a jogos de sorte e de azar, que
acabarão por sujeitar os cães ao descalabro, à aversão e possivelmente a algum
tipo de lesão (os cães mais ajuizados pararão por si mesmos mas os mais afoitos
irão aleijar-se). Na introdução a este obstáculo a distância entre os blocos,
no caso dos cães médios, com alturas compreendidas entre os 50 e os 65cm e com
um quociente de envergadura nunca superior a 1.6 deverá ser de 60cm (nos cães
mais pequenos de 40cm), para que o consigam ultrapassar em marcha e venham a
vencê-lo confiantes a galope, andamento que é o indicado para a transposição
deste obstáculo e que tem muito a dizer acerca do aumento da distância de salto
a solicitar a um cão (já vamos ver porquê).
Como se depreende, o trabalho sobre a
Ponte-Quebrada carece de ser gradual e aturado (continuado), encontra-se
associado aos saltos sobre o Extensor de Solo, o Exel, as Verticais de 60cm,
Tambores, Castelos e Verticais Duplas, que para ele concorrem. Quanto se deverá
aumentar num só dia a distância na Ponte-Quebrada? Somente mais 22% sobre o
valor mínimo exigível (180cm) ou sobre o valor anteriormente alcançado pelo
cão, ainda que neste último caso os saltos se devam iniciar nos mesmos 180cm.
Qual a razão dos 22% de aumento e não mais? Porque o obstáculo não dispensa o
galope na sua execução e porque entre a marcha e um galope, num cão médio e de
média angulação de traseira, quando em galope cadenciado, atinge uma extensão
de mais 22%, o que transforma o desenvolvimento da marcha na preparação geral
para o galope. Para facilitar as contas, não vindo grande mal ao mundo por
causa disso, costuma-se proceder a um aumento de 20% (1/5). Idêntico
procedimento deverá verificar-se nos muros, pois não é por acaso que a sua
sequência natural acontece assim: 150cm, 180cm, 200cm e depois para aqueles com
barras escalares, que evoluem de 50cm em 50cm (250, 300 e 350cm), destinados a
cães extraordinários, com uma morfologia própria para isso, pouco vistos e
objecto de superior preparação. Facilmente se conclui que a extensão da marcha
possibilita o galope mais pronto, solto, harmonioso, duradouro e seguro.
É importante relembrar que os cães fazem os
obstáculos para agradarem aos donos e que os mais valentes têm outras
preferências, apelos sustentados pelos inegáveis impulsos à luta e o poder que
os obrigam à procura de alvos, desinteressando-se dos obstáculos sem captura à
vista, o que não implica em dispensá-los da ginástica cinotécnica, porque
precisam dela para o seu robustecimento físico, psicológico e funcional.
Advindo disso, os grandes atletas são na sua maioria submissos e mais cativos à
vontade dos donos, baseando a sua parceria na confiança que neles depositam.
Sujeitá-los a obstáculos para além das suas capacidades é promover a sua
desconfiança e aumentar a sua vulnerabilidade, factores que induzirão à
aceitação da liderança pelo medo e ao desenvolvimento da manha, acabando
precocemente a sua carreira atlética, pelo que deverão ir para os obstáculos a
gosto e não a varapau. A Ponte-Quebrada presta-se, como todos os obstáculos
tácticos, ao reforço na unidade binomial e jamais deverá dar azo ao contrário.
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