O Saluki também
conhecido como “Sloughi”, “Greyhound Arabian”, “Arabischer Windhund”, “Sloughi
Moghrebi”, “Sighthound Arabian”, “Levrier Marocain”, “Egypt Royal Dog” e “Greyhound
Persa” é uma das raças de cães mais antigas conhecidas. Pela variedade de nomes
que lhe atribuem, que exaltam as suas qualidades, facilmente se deduz tratar-se
de um lebrel veloz e hábil caçador, que viajou do Oriente até Marrocos, um cão
que nunca dormiu ao relento porque sempre o consideraram nobre, pernoitando nas
tendas dos seus proprietários, na sua maioria beduínos. Para nós que conhecemos
a raça, andamos nos cães há algum tempo e somos inclinados à língua alemã, a
designação “Arabischer Windhund” é a que lhe assenta melhor, porque “galgos” há
muitos mas tão rápidos como o Saluki há muito poucos!
Este
caçador do deserto, que se especializou na caça à gazela e outros animais entre
penhascos (abetardas, lebres raposas e chacais), é o cão mais rápido em
distâncias até aos 800m, tendo apenas como rival o Whippet, a quem
invariavelmente ganha naqueles terrenos, graças à morfologia das suas patas que
lhe suavizam os impactos, evitam-lhe a prisão e mantêm-lhe a celeridade. Animal
de propensão independente, naturalmente reservado com estranhos, dos quais
mantém distância, é gentil e afectuoso, sensível e inteligente, necessitando de
precoce sociabilização quando obrigado a conviver com maior número de pessoas,
porque é naturalmente tímido. Não se interessa pelas brincadeiras que a maioria
dos cães adora, resiste à mecanicidade das acções, exige uma abordagem afectuosa
e tende à letargia quando obrigado a métodos duros ou violentos, dando a
impressão de pensar por si mesmo e de tratar com indiferença quem não lhe diz
respeito, o que o torna impróprio para as modalidades caninas suburbanas agora
muito em voga e do agrado do populacho, quer elas sejam bélicas ou lúdicas, por
se sentir nelas como peixe fora de água, porque a sua “guerra” é outra, nasceu
para a imensidão e não para andar as voltas sempre no mesmo sítio.
Os
Salukis oriundos das linhas europeias de criação, criados debaixo doutros olhos
e por isso objecto de outros pressupostos selectivos, não podendo olhar para o
deserto e não tendo caça por perto, são animais que pouco se confundem com os
seus iguais nas tórridas zonas do globo que se dedicam ao ofício cinegético,
tendo uma aparência mais frágil e estilizada quando comparados eles, mantendo
ao mesmo tempo o semblante e mímica ascéticos que caracterizaram e continuam a
caracterizar a raça desde o tempo em que chegou à China Imperial (Sec.XIV), já
farto de acompanhar as caravanas na rota da seda.
O Saluki caçador tanto pode ser usado sozinho como coadjuvado por um
falcão, sendo o último caso bastante comum, porque a falcoaria árabe tem uma
tradição milenar. Quando trabalham em conjunto, a presa é perseguida por via
aérea e terrestre, o que torna a captura mais pronta e eficaz, cabendo à ave de
rapina cegar o animal em fuga, não sendo por isso de estranhar ver na mesma
casa Salukis e falcões.
A criação de Salukis caçadores tem sofrido um forte incremento nos
Emiratos Árabes Unidos, onde a multivariedade das suas cores é deslumbrante e a
sua aptidão sublime. Entre os criadores de Saluki naquela região destaca-se
Shaheen Hamad al Ghanem Ghanem em Al Ain, “o Senhor dos Galgos”, também
fundador e presidente do Centro de Saluki Árabe, instituição que alberga
algumas dezenas desses animais. Para este Senhor o Saluki não é um cão mas um
“hound” (um cão caçador que é ao mesmo tempo um cão de salão), sublinhando
sempre esta distinção, já que o único canídeo permitido a um muçulmano é o galgo,
sendo portanto “halal” (puro). Segundo ele, toda a criatura que vai para o
deserto fica automaticamente limpa, como é o caso do Saluki, um galgo que não
apresenta o odor que caracteriza os outros cães. E a paixão pelos Salukis é tal
que os filhos do deserto não se cansam de relembrar um facto histórico: que
seleccionaram primeiro o Saluki e só depois o cavalo árabe.
Entendido como dom de Deus para prazer e benefício do Povo, o Saluki,
que outrora acompanhou as caravanas árabes desde o Sahara até ao Mar Cáspio, é
hoje um símbolo de status para os árabes ricos, multimilionários americanos e
aristocratas ingleses, que oferecem por ele avultadas quantias, podendo ou não
ter a sorte de adquirir um, porque os criadores dos Emiratos preferem
entregá-los a familiares e amigos. Quando por muita insistência e manifesto
interesse vendem um cão a um estrangeiro, a quantia entre 10 a 12.000€ é
considerada uma pechincha. Felizmente os criadores ocidentais da raça vendem-no
15 ou 20 vezes mais barato, ao que os árabes retorquirão que o preço espelha a
qualidade.
É sabido e já há muito que se nota, que este blogue tem como
destinatários os cidadãos da classe média dos diversos pontos do Globo,
extracto social onde a presença dos cães é mais comum, enquanto animais de
companhia, de serviço ou de desporto, porque os muito ricos não desperdiçam
tempo com cães e os mais pobres não têm como sustentá-los. O Saluki presta-se
muito bem como animal de companhia, muito embora não suporte bem o passar das
horas isolado e haja outras raças igualmente belas, mais baratas interactivas e
multifacetadas. Como cão de serviço só se presta para o tipo de caça que atrás
indicámos, por sinal bastante incomum em Portugal. Como cão de desporto tanto
pode concorrer na corrida às lebres como servir de beneficiador doutros galgos,
apesar das outras variedades terem preços mais apelativos e ao alcance de
qualquer um.
Sem corrermos o risco de exagerar, ao falarmos do Saluki estamos a
endereçá-lo a outros destinatários, a gente que ao invés de pôr a cara na
varanda, sentir o Sol, imaginar o Sul e sair para trabalhar, já para lá rumou, usufruindo
dos benefícios do Astro-Rei e do clima ameno, do contacto com a natureza e com
as planícies arrebatadoras, infindas e quase eternas, onde o passar dos dias
reforça o equilíbrio biológico, permanecendo ali até ao final do Outono, quando
as primeiras neves despontam nas montanhas e as estâncias de esqui começam a
ser procuradas. Sim, o Saluki é um cão para estar ao lado de quem se levanta e
se vira para o lado do Sahara, sem olhar às horas e despido de preocupações, de
cima de um terraço e com os olhos postos no Mare Nostrum de águas quentes e
tranquilas, porque faz parte do ecossistema, não incomoda e reforça o status de
quem o tem. O Saluki é um presente de reis e para reis.
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