sexta-feira, 24 de abril de 2015

PARA QUE FIQUE BEM CLARO!

Para que fique bem claro e antes que nos contradigam, apesar de nos termos dedicado à procura, reprodução e selecção das variedades recessivas no Cão de Pastor Alemão, jamais considerámos alguma delas, por si mesma, superior à variedade hoje dominante: a preto-afogueada (capa preta no Brasil). A nossa demanda pelas variedades recessivas (unicolores e bicolores) obedeceu à compreensão da eugenia operada dentro da raça, que nem sempre foi positiva e que resultou de princípios científicos rudimentares, hoje ultrapassados, desprezados ou complementados, mercê de condicionantes políticas que influíram desastrosamente na sua selecção e que resultaram na involução a que hoje assistimos, ao proibirem a variabilidade genética necessária e inerente à evolução da raça, disposições contrárias aos princípios que presidiram à sua formação e que obstam agora à sua melhor adaptação, prestação e uso, maioritariamente alicerçadas na cor dos indivíduos a despeito da sua qualidade biomecânica, sensorial e cognitiva.
A qualidade individual dos Pastores Alemães nunca esteve associada exclusivamente à sua cor mas à carga genética de que foram alvo, produto da multivariedade cromática que os destacou e os que os tornou multifacetados e melhor adaptados para os diferentes serviços, alcançando também maior longevidade. Em todas as variedades cromáticas existem indivíduos excelentes e desprezíveis, pelo que, como sempre foi dito, “se o cão é bom, a cor não pode ser ruim”. Os nossos melhores exemplares recessivos foram alcançados dentro duma política de “quadro aberto”, donde não isentámos (seria loucura se o fizéssemos e atentaríamos contra a raça) a variedade dominante. Os reprodutores recessivos que seleccionámos, para além do pormenor da sua cor, resultaram de indivíduos superiormente comprovados e apetrechados para o trabalho, como foi o caso dos nossos negros que tinham na sua construção entre 4 a 5/8 de preto-afogueado, ficando a dever a qualidade aos impulsos herdados e não à sua cor (o mesmo podemos dizer dos nossos exemplares vermelhos).
Podemos afirmar sem medo de errar que a escolha do preto-afogueado como variedade dominante foi uma decisão acertada, considerando a necessidade de padronização, mas também não nos inibimos e podemos provar que os beneficiamentos exclusivos entre indivíduos desta variedade comprometem a sua mais-valia (será que é preciso, atendendo aos cães actuais?). Se considerarmos isoladamente as variedades recessivas homozigóticas, chegamos á conclusão que a lobeira tende para o gigantismo, pernaltismo e nanismo, que psicologicamente é mais instintiva e tarda na maturidade emocional, que a negra perde envergadura, é precoce, apresenta uma curva de crescimento mais curta e tende à mansidão (o mesmo se passa com a chocolate/“liver”), que a vermelha assilvestra-se e a azul é por demais sensível, podendo ser distante, por demais concordata ou desconfiada de acordo com a variedade sólida usada para a sua obtenção, se negra ou branca e conforme a densidade da lobeira. A variedade preto-afogueada quando produto exclusivo dela tende a crescer mais rápido e a ter uma curva de crescimento menor, a ser mais de aviso do que persuasiva, a patentear uma menor máquina sensorial e índices atléticos médio-baixos, impropriedades advindas do desprezo pela excelência dos indivíduos das restantes variedades cromáticas.
Subsistem em termos biomecânicos, morfológicos, sensoriais, sociais e cognitivos, relacionados também com a maior ou menor disponibilidade, algumas pequenas diferenças entre os exemplares uniformes e bicolores, não dispensando uns e outros a contribuição recíproca, considerando as acções, o seu despoletar e suspensão. O que defendemos, fizemos uso e aconselhamos é que mais importa considerar os indivíduos do que a sua cor, que mais interessa ao cão de trabalho a qualidade do que o seu revestimento. Privilegiar uma cor em detrimento das outras é repetir o erro que hoje condenamos e que condena a raça, lamentavelmente baseado na consanguinidade e endogamia. O Cão de Pastor Alemão carece de evolução e ela só acontecerá pela variabilidade genética, através do retorno às distintas variedades presentes na sua construção. Muitos falam de Stephanitz mas muito poucos atentam para o que disse, deturpando as suas aspirações pela prática da eugenia negativa, doutrina a que foi alheio e que tantos amargos de boca lhe causou. Os melhores Pastores não são produto duma variedade cromática específica mas do contributo das várias que nos trouxeram o preto-afogueado, hoje a precisar de sangue novo e por isso mesmo cada vez mais distante da sua qualidade original. Criar uma variedade cromática isoladamente, seja ela qual for, pode ser um bom negócio mas será o pior dos investimentos para a raça.

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