quinta-feira, 9 de abril de 2015

ELES DIZEM-NOS QUE NÃO E NÓS TEIMAMOS QUE SIM! PARA QUÊ?

O adestramento, no seu sentido mais genuíno e autêntico, porque é obrigado a considerar os indivíduos, não é um método mas uma sumula deles, obrigando os seus agentes ao conhecimento, estudo, observação, temperança e versatilidade, considerando o reforço do carácter dos animais, a sua salvaguarda e autodefesa, princípios de respeito obrigatório para quem se dedica ao ensino dos cães de guarda ou treina outros para qualquer fim. O que torna qualquer método válido é a sua praticidade, assimilação e sucesso absolutos, tornando-se obsoleto quanto inválido, impróprio ou lesivo para um ou mais cães, ainda que por vezes o desacerto se deva mais aos agentes de ensino (adestradores e condutores) do que ao método propriamente dito, por não o terem compreendido, haverem-no transmitido mal ou por não ter sido correctamente assimilado.
Assim como não existe “tábua rasa” em matéria de ensino, também não existe um método universal no adestramento, porque mais do que adaptar o cão a um método, importa escolher o mais apropriado para o cão que temos na frente. Quando o método escolhido é impróprio, ou subaproveita-se ou esfrangalha-se o animal, que carregará as marcas do confronto das vontades, que tanto poderão levar à não-aceitação da liderança como ao seu temor, reacções extremadas que obstarão à constituição da equipa (binómio) e à complementaridade laboral do cão, que no primeiro caso não acatará as nossas ordens e que no segundo deixará de confiar em nós, deméritos que o levarão a desprezar a nossa segurança, quer atentando contra nós quer desprezando a nossa defesa. Ensinar cães nunca foi fácil e rebentá-los nunca foi difícil, porque adestradores seguros há poucos e cobardes não faltam, sobrando alguns que “mordem” nos cães como medo de serem mordidos, sobrecarregando-os na obediência para subverterem os seus impulsos à luta e à defesa, cujos benefícios vão muito para além do comum ataque à dentada.
A menos que se torne estritamente necessário, sendo muito raros os casos hoje em dia, nenhum método que se preste à confrontação entre homens e cães é válido, porque a resistência canina dificulta o seu aprimoramento e não estamos cá para dobrar cães mas para melhor aproveitar o que têm para dar, conceito que não é de hoje e sobre o qual assentaram os rudimentos da cinotecnia. E como cada cão é um caso, uns precisarão mais de regra e outros de alento, uns de travamento e outros de estímulo, porque nasceram assim ou não têm donos para os acompanhar. Todos sabemos que as alterações produzidas pelo treino não são definitivas e que o desuso das condições que as sustentam leva ao seu desaparecimento. Pergunta-se: que benefícios alcançados pelo treino terão maior duração, os tirados a partir das características individuais dos cães ou os alcançados por imposição? Como a resposta é óbvia, será o cão a indicar-nos qual o método a aplicar-lhe e não aquele que mais nos agrada ou no qual nos sentimos mais confortáveis.
Teimar com um cão por sistema é uma manifestação de impropriedade, falta de recursos ou subsídios, uma incapacidade que não esconde barreiras na comunicação e que provoca fricção e desgaste. Não estamos com isto a defender uma macedónia de métodos ou a dar a razão unicamente aos cães, muito pelo contrário, mas a afirmar que o adestramento não dispensa a sensibilidade e a clarividência responsáveis pela supressão dos momentos de tensão, imprestáveis a qualquer tipo de condicionamento. Dar a volta ao animal significa compreendê-lo, ajudá-lo nas suas dificuldades e usá-lo para fim útil segundo a sua vocação, pelo que importa induzi-lo e desprezar a prepotência.

Sem comentários:

Enviar um comentário