Longe vai o tempo onde em cada esquina se tropeçava num híbrido de
Pastor Alemão com Serra da Estrela, fenómeno resultante de ambas as raças
concorrem para o mesmo fim, a quem entregavam a guarda de explorações
pecuárias, estâncias e unidades fabris, resultando a mistura mais da
proximidade e da experiência do que pela qualidade do seu produto, já que
gerava indivíduos maldosos, que juntavam à inteligência do cão alemão o
carácter subversivo do cão serrano nacional. Hoje assiste-se a uma nova
hibridação, também ela a partir do Pastor Alemão, que acontece quase no segredo
dos anjos, por veneração e respeito à qualidade laboral do Rottweiler e porque
a raça se encontra indexada à lista dos cães perigosos. A hibridação Pastor
Alemão X Rottweiler é uma prática mais próxima dos indivíduos que se dedicam à
segurança com cães, que não querendo perder o potencial operacional do molosso
alemão, não lhes sobrando outro remédio, o disfarçam com uma aparência de
Pastor Alemão, o que muito ajuda na entrega das ninhadas e na libertação de
maiores encargos, já que as características exteriores do Cão de Stephanitz
predominam sobre os outros cães. A acentuada baixa de preços nos cães e em
particular nos Pastores Alemães tem garantido a proliferação da novidade.
Os híbridos provenientes deste cruzamento são praticamente iguais aos
Pastores Alemães genuínos, diferindo mais deles quando adultos, já que em
cachorros as diferenças são pouco notórias, muito embora manifestem desde cedo
uma harmonia craniofacial diferente. Quando o Rottweiler é cruzado com um
Pastor Alemão de linha estética homozigótica (sem a contribuição de exemplares
de trabalho), os cachorros nascerão angulados e com a cauda a rasar o chão,
ainda que melhores de peito, aprumos, ossatura e garupa, para além de logo
evidenciarem uma maior envergadura, ratificada pelo peso e pela presença de
costelas mais arredondadas. Alguns deles chegarão a levantar as orelhas,
ficando isso a dever-se à excelente implantação de orelhas do Pastor Alemão
usado no cruzamento e ao pouco peso das orelhas do Rottweiler que com ele
cruzou. Os cachorros descendentes de mãe Pastor Alemão e pai Rottweiler serão
os que mais características lupinas exteriores evidenciarão.
Se do ponto de vista morfológico a mestiçagem tende a omitir a presença
do Rottweiler, do ponto de vista psicológico não há como escondê-lo, porque os
cachorros apresentam-se mais sóbrios e menos sujeitos a provocações, como
cientes da sua força ou condicionados por ela, denotando maior capacidade
atlética do que a visível no molosso e herdando dele o mesmo apego e vontade de
servir, aceitando prontamente a liderança como modo de vida. Por outro lado,
por influência directa do Pastor Alemão, estes híbridos terão uma maior
propensão para marcha, chegando alguns a adoptá-la como andamento preferencial.
Com a chegada das diferentes maturidades assiste-se à substituição das “vozes”,
porque nas situações em que o Pastor avisava (ladrava), o híbrido passa a
rosnar. Também são visíveis diferenças na curva de crescimento dos híbridos,
quando comparada com a do Pastor, porque crescem por mais tempo, ainda que
atinjam a maturidade emocional sensivelmente na mesma altura e antes da
verificada no Rottweiler. Com o passar do tempo, o pseudo-Pastor transformar-se-á
num Rottweiler disfarçado de lupino, o que servirá em absoluto os propósitos
iniciais dos seus mentores.
Pelas razões atrás indicadas, se fosse esse o caso, mais depressa se
chegaria com dois híbridos destes ao Rottweiler do que ao Pastor Alemão. A
entrada escondida, abusiva e isolada de um híbrido com estas características
dentro de uma linha de criação de Pastores Alemães, bem depressa o omitiria
devido a dominância da raça lupina, muito embora as características
psicológicas do molosso perdurassem por mais algum tempo. Apesar de abominarmos
a mestiçagem e de sermos avessos à hibridação canina, que só a aceitaríamos por
razões ligadas à saúde e ao bem-estar das presentes raças caninas, somos
obrigados a reconhecer as mais-valias laborais destes híbridos actuais, que
ficam a dever mais ao Rottweiler do que ao tipo de Pastor que lhes serviu de
“embrulho”. Para que o Pastor Alemão não se estagne, como se tem vindo a
verificar, torna-se imprescindível aproveitar a multivariedade ainda presente
na raça, que dispensa em absoluto qualquer tipo de mestiçagem ou o mais
excelente dos híbridos ou mestiços.
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