quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

OS CÃES DE GUERRA DO LESTE EUROPEU E ASIÁTICO

Quem já conviveu de perto com eslavos e teuto-russos, reconhece-lhes características bem diversas das nossas, porque juntam à ingenuidade raro empenho e engenho, não são de “meias tintas” e tanto nos podem surpreender pela positiva como pela negativa, pelo torto é difícil vencê-los e se é para arrear, arreiam mesmo, passando sem dificuldade da candura à efervescência, revelando por vezes instintos que há muito subtraímos, o que os torna respeitáveis como opositores. E se a sua natureza é essa, vão exigir dos seus cães idêntica prestação. Contrariamente ao que fazem as companhias cinotécnicas militares ocidentais, que desnudam tudo o que fazem pela internet, revelando métodos, exercícios e objectivos, das companhias cinotécnicas russas pouco sabemos e o que nos chega é pouco esclarecedor, remetendo-se a umas escassas fotos de exercícios há muito conhecidos.
Esta falta de informação não deverá levar-nos a considerar os adestradores de Leste como básicos, pacóvios ou ultrapassados, porque sabemos que partiram adiantados na cinotecnia, que são pragmáticos e ligados à investigação científica, que trabalham ordinariamente para além dos limites e sempre alcançam alguma novidade. Numa das raras fotos que nos chegou e que publicamos abaixo, vemos um cão a fazer um pódio de difícil execução, tirado a partir da mecanicidade das acções, com degraus quadrados de 20cm de lado e distantes entre si de 35cm (aproximadamente). O exercício obriga a um grande controlo por parte do tratador e a rara concentração do cão que, para aumentar o grau de dificuldade, ainda o executa com os olhos vendados, lembrando um dos feitos do “Dox” (Dox von Coburger Land), um Pastor Alemão da Polícia Italiana, várias vezes considerado o melhor cão polícia do mundo e outrora conduzido por Giovanni Maimone.
Se não podemos negar o carácter empreendedor e científico dessa gente, de igual modo somos obrigados a considerar o seu afinco ao trabalho. Na foto seguinte vemos um trio de soldados, constituídos em rampa para o transporte do cão, que é conduzido por uma tratadora, que intencionalmente se coloca para trás da progressão do animal, para que ele não salte e se apoie nos três militares. Pelas cores da bandeira presentes no braço da tratadora, julgamos tratar-se dum exercício do Exército Bielorusso. Se do ponto de vista atlético o exercício é elementar, o mesmo não se pode dizer da obediência que exige, tanto aos homens como aos cães, considerando que estão a trabalhar debaixo de temperaturas negativas, evidenciadas pela neve que cai e pela que se encontra alojada no solo, obrigando os soldados ao uso justificado de luvas.
A riqueza da cinotecnia militar soviética que serve a Rússia de hoje e os seus países satélites, para além dos exageros cometidos por ocasião da Segunda Guerra Mundial, estamos a recordar-nos dos malogrados cães antitanque, muito embora tenham contribuído para vitória e poupado muitas vidas humanas (outros fizeram o mesmo), sempre foi reconhecida e conhecida como uma escola onde o condicionamento canino sempre atingiu nota máxima, mercê da extraordinária obediência patenteada pelos seus cães e pela rara cumplicidade com os seus tratadores. É pena que não haja mais intercâmbio entre a cinotecnia de Leste e a Ocidental, porque a nosso ver, todos sairíamos a ganhar, especialmente agora que os excelentes treinadores militares e policiais do passado recente caíram no esquecimento. Alguém se lembra ou sabe quem foi o então Capitão Costa Campos, que criou e dirigiu o Centro de Instrução de Cães de Guerra em Boane, a 45km de Lourenço Marques, quando Moçambique era ainda uma colónia portuguesa, contando com mais de meio milhar de cães no seu efectivo e onde foram treinados cerca de 1000 deles para o Estado, para entidades privadas e particulares, assim como para os Fuzileiros e para a Força Aérea?
Por razões político-ideológicas, a herança da cinotecnia soviética estendeu-se às nações do Leste e Sudeste Asiático, nomeadamente àquelas que tiveram ou ainda conservam regimes comunistas, onde se destaca a designada República Popular da Coreia (vulgo Coreia do Norte), hoje governada por um déspota de frágil saúde mental, onde o treino canino é levado ao extremo e onde os direitos de homens e animais são constantemente ignorados e aviltados. Dessa Coreia entregue ao diabo, também sabemos pouquíssimo, quiçá porque não lhe sobrar tempo para além do culto obrigatório ao seu “líder”, fortemente empenhado no seu isolamento. Não obstante, conseguimos deitar mão a uma foto duma Companhia Cinotécnica Militar Norte-Coreana, numa progressão debaixo de fogo, onde as diferentes reacções caninas não comprometem o alinhamento dos seus tratadores (é curioso reparar na linha dos Pastores Alemães, que não deverão ser Wienerau nem Arminius).
Por nossa vontade já não existiriam mais cães de guerra, também não haveriam mais guerras, apesar de sabermos que alguns avanços na cinotecnia resultaram do uso canino para fins militares, que muitos dos seus conteúdos de ensino se prestam e continuarão a prestar-se à paz e ao auxílio de muita gente, já que tanto se pode treinar o arco do fogo para acções ofensivas como para a salvaguarda de pessoas e cães. E é nesse sentido que entendemos a utilidade do treino militar canino, enquanto precioso subsídio para o bem-estar, adequação e longevidade daqueles que nos seguem pela trela, companheiros insubstituíveis na prestação de socorro. Debaixo desta preocupação é que gostaríamos de saber um pouco mais acerca dos cães do Leste, do seu treino e possível avanço, o que nos parece pouco viável com a Guerra da Ucrânia à porta, guerra fratricida que sobrepõe ideais caducos à vida do seu próprio povo. Stepán Banderas e Josef Stalin já morreram, de Hitler só sobrou a má memória, será que é necessário que continuem a matar depois de mortos? Há que enterrar velhos ódios e dar paz à Ucrânia e aos ucranianos!

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