quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O MISTÉRIO DOS CÃES SUICIDAS DE OVERTOUN BRIDGE

Perto da aldeia de Milton no burgo de Dumbarton, West Dunbartonshire, na Escócia, existe desde o Séc. XIX, uma casa de campo senhorial mandada construir por James White, um advogado mais tarde agraciado com o título de Barão, que mereceu o nome de Overtoun House, ao estilo das típicas mansões góticas escocesas, associada a um sem número de eventos trágicos e secundada por uma ponte ainda mais famosa e fatídica para os cães, que deve o nome à casa a que dá acesso, a amaldiçoada Overtoun Bridge, também conhecida como “ponte do suicídio canino”, uma estrutura em pedra granítica, assente sobre um arco que se eleva do solo 15 metros, onde vários cães, inexplicavelmente, se têm jogado dela abaixo, sobrevivendo muito poucos.
Desde 1960 até ao início do novo milénio, cerca de 50 cães ali cometeram suicídio e em 1994, Kevin Moy, um homem de 32 anos de idade, jogou o seu filho, com apenas duas semanas de idade, daquela ponte abaixo, por julgá-lo possuído pelo demónio. Apesar de tentar suicidar-se, o homem acabou internado num hospital psiquiátrico de alta segurança. Há quem acredite que aquele local, segundo a mitologia celta, é um “lugar fino”, uma espécie de portal entre a terra e o céu, onde a fronteira entre ambos é muito ténue e por isso mesmo mais susceptível a forças sobrenaturais. Quem não foi em cantigas foi a Sociedade Escocesa para a Prevenção da Crueldade contra os Animais, que não encontrando explicações para aqueles fenómenos, decidiu contratar dois experts: o Dr. David Sands, um psicólogo canino e David Sexton, um especialista em habitats animais, até porque os raros cães sobreviventes foram fatalmente reincidentes na mesma acção, o que não deixa de ser muito estranho.
Antes de avançarmos para as conclusões destes e doutros especialistas, para facilitar a análise dos nossos leitores, adiantamos que os cães “suicidas” tinham características morfológicas comuns, todos saltaram do mesmo ponto e a sua morte aconteceu em dias claros, ensoleirados e secos. Quando se fez o levantamento dos cães assim desaparecidos, verificou-se que todos tinham em comum o focinho comprido, sendo labradores, collies e retrievers. Os saltos fatais aconteceram invariavelmente sobre o lado direito da ponte e nos seus dois últimos parapeitos laterais.
Descartando a hipótese dos cães premeditarem a sua própria morte, de ali sofrerem uma psicose momentânea (própria ou induzida involuntariamente pelos donos), e indiferente às místicas opiniões populares, o recrutado Dr. Sands, procurou explicações a partir dos três sentidos primários caninos: visão, audição e olfacto, eliminando de imediato a contribuição da visão para o fenómeno, porque baixando-se e colocando-se ao nível dos cães, nada lhe era visível a não ser um ininterrupto corredor de granito. Valendo-se dos bons ofícios de Sexton, que munido de aparelhos acústicos próprios, concluiu não haver ali qualquer som passível de induzir os cães ao suicídio, descartou também a contribuição da audição para a ocorrência do fenómeno, focando a sua atenção no olfacto e para a possível libertação de odores particulares naquele local, como responsáveis daquela atracção fatídica.
Sands, depois de testar vários cães na procura de odores de ratos e visons nas imediações do local, verificou que cães com as mesmas características dos desaparecidos corriam prontamente para os odores de vison (70%), atribuindo como causa possível daquela desgraça, a presença desse animal nas redondezas da Overtoun Bridge, sustentando as suas conclusões a partir dos testes efectuados, corroborados pelo testemunho da presença de excrementos junto daquela ponte, pela introdução desse mamífero na área nos anos 50 (altura em que os suicídios caninos começaram), e no facto de existirem na Escócia cerca de 26.000 desses mamíferos, que não lhes sendo diluído o odor pela humidade, o cheiro a mofo produzido pela sua urina e glândulas anais é por demais perceptível e convidativo para os cães (todos os suicídios aconteceram em dias secos).
Contudo, as conclusões não são peremptórias, ainda que façam todo o sentido, porque há moradores que dizem nunca ter visto tal animal à volta daquela ponte, nos limites de Overtoun House, no Rio Clyde ou nos charcos adjacentes, o que não é de estranhar atendendo ao carácter furtivo do vison. A altura dos parapeitos da ponte, por permitir a sua transposição fácil e não possibilitar aos cães aquilatar do seu desnível, poderá, por engano, ser também responsável pelo seu suicídio, que uma vez dominados pela procura do odor, não se aperceberam de que altura se lançaram. Por vezes, pequenos muros podem causar grandes problemas, particularmente diante de cães “saltitões” ou condicionados a saltar tudo o que tiverem pela frente. Lembramos aqui o caso de um Labrador, que prontamente saltou um muro de pedra com 60cm de altura, a rematar a entrada subterrânea de um estacionamento automóvel, indo parar 5m mais abaixo, também o sucedido com um híbrido de pastor belga, que na ânsia de caçar um gato, se jogou fatalmente dum 4º andar. Como prevenção e segurança na transição de pontes com vedações inferiores a 1.8m e que não indiciem o seu desnível, convém circular com os cães atrelados. 

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