Perto da aldeia de Milton no burgo de Dumbarton, West Dunbartonshire, na
Escócia, existe desde o Séc. XIX, uma casa de campo senhorial mandada construir
por James White, um advogado mais tarde agraciado com o título de Barão, que
mereceu o nome de Overtoun House, ao estilo das típicas mansões góticas
escocesas, associada a um sem número de eventos trágicos e secundada por uma
ponte ainda mais famosa e fatídica para os cães, que deve o nome à casa a que
dá acesso, a amaldiçoada Overtoun Bridge, também conhecida como “ponte do suicídio
canino”, uma estrutura em pedra granítica, assente sobre um arco que se eleva
do solo 15 metros, onde vários cães, inexplicavelmente, se têm jogado dela
abaixo, sobrevivendo muito poucos.
Desde 1960 até ao início do novo milénio, cerca de 50 cães ali cometeram
suicídio e em 1994, Kevin Moy, um homem de 32 anos de idade, jogou o seu filho,
com apenas duas semanas de idade, daquela ponte abaixo, por julgá-lo possuído
pelo demónio. Apesar de tentar suicidar-se, o homem acabou internado num
hospital psiquiátrico de alta segurança. Há quem acredite que aquele local,
segundo a mitologia celta, é um “lugar fino”, uma espécie de portal entre a
terra e o céu, onde a fronteira entre ambos é muito ténue e por isso mesmo mais
susceptível a forças sobrenaturais. Quem não foi em cantigas foi a Sociedade
Escocesa para a Prevenção da Crueldade contra os Animais, que não encontrando
explicações para aqueles fenómenos, decidiu contratar dois experts: o Dr. David
Sands, um psicólogo canino e David Sexton, um especialista em habitats animais,
até porque os raros cães sobreviventes foram fatalmente reincidentes na mesma
acção, o que não deixa de ser muito estranho.
Antes de avançarmos para as conclusões destes e doutros especialistas,
para facilitar a análise dos nossos leitores, adiantamos que os cães “suicidas”
tinham características morfológicas comuns, todos saltaram do mesmo ponto e a
sua morte aconteceu em dias claros, ensoleirados e secos. Quando se fez o
levantamento dos cães assim desaparecidos, verificou-se que todos tinham em
comum o focinho comprido, sendo labradores, collies e retrievers. Os saltos
fatais aconteceram invariavelmente sobre o lado direito da ponte e nos seus dois
últimos parapeitos laterais.
Descartando a hipótese dos cães premeditarem a sua própria morte, de ali
sofrerem uma psicose momentânea (própria ou induzida involuntariamente pelos
donos), e indiferente às místicas opiniões populares, o recrutado Dr. Sands,
procurou explicações a partir dos três sentidos primários caninos: visão,
audição e olfacto, eliminando de imediato a contribuição da visão para o
fenómeno, porque baixando-se e colocando-se ao nível dos cães, nada lhe era
visível a não ser um ininterrupto corredor de granito. Valendo-se dos bons
ofícios de Sexton, que munido de aparelhos acústicos próprios, concluiu não
haver ali qualquer som passível de induzir os cães ao suicídio, descartou
também a contribuição da audição para a ocorrência do fenómeno, focando a sua
atenção no olfacto e para a possível libertação de odores particulares naquele
local, como responsáveis daquela atracção fatídica.
Sands, depois de testar vários cães na procura de odores de ratos e visons
nas imediações do local, verificou que cães com as mesmas características dos
desaparecidos corriam prontamente para os odores de vison (70%), atribuindo
como causa possível daquela desgraça, a presença desse animal nas redondezas da
Overtoun Bridge, sustentando as suas conclusões a partir dos testes efectuados,
corroborados pelo testemunho da presença de excrementos junto daquela ponte, pela
introdução desse mamífero na área nos anos 50 (altura em que os suicídios caninos
começaram), e no facto de existirem na Escócia cerca de 26.000 desses mamíferos,
que não lhes sendo diluído o odor pela humidade, o cheiro a mofo produzido pela
sua urina e glândulas anais é por demais perceptível e convidativo para os cães
(todos os suicídios aconteceram em dias secos).
Contudo, as conclusões não
são peremptórias, ainda que façam todo o sentido, porque há moradores que dizem
nunca ter visto tal animal à volta daquela ponte, nos limites de Overtoun
House, no Rio Clyde ou nos charcos adjacentes, o que não é de estranhar
atendendo ao carácter furtivo do vison. A altura dos parapeitos da ponte, por
permitir a sua transposição fácil e não possibilitar aos cães aquilatar do seu
desnível, poderá, por engano, ser também responsável pelo seu suicídio, que uma
vez dominados pela procura do odor, não se aperceberam de que altura se lançaram.
Por vezes, pequenos muros podem causar grandes problemas, particularmente
diante de cães “saltitões” ou condicionados a saltar tudo o que tiverem pela
frente. Lembramos aqui o caso de um Labrador, que prontamente saltou um muro de
pedra com 60cm de altura, a rematar a entrada subterrânea de um estacionamento
automóvel, indo parar 5m mais abaixo, também o sucedido com um híbrido de
pastor belga, que na ânsia de caçar um gato, se jogou fatalmente dum 4º andar.
Como prevenção e segurança na transição de pontes com vedações inferiores a
1.8m e que não indiciem o seu desnível, convém circular com os cães atrelados.
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