Se a natureza exerce um grande fascínio sobre os homens, nos cães esse
fascínio é bem maior, porque alguns deles ainda se encontram cativos ao relógio
biológico, anseiam por maior liberdade, adoram partir em excursão e redescobrir
prazeres antigos que a sua memória já não abrange mas que neles continuam
presentes. Ao ver tamanha alegria, os donos ficam extasiados e são dominados
pela contemplação que os põe também a sonhar, como se o mundo parasse naquela
hora e o perigo não rondasse. A cadela da imagem acima encontrou um tanque de
água numa tapada, local idílico, intemporal e húmido, destinado à preservação e
reprodução de gamos, veados e javalis, que usam também aquele tanque para se
refrescarem, particularmente no Verão, quando o calor aperta e a água
desaparece dos regatos.
O facto destas espécies cinegéticas ali se banharem, particularmente os
javalis que tendem a transformá-lo num chiqueiro, pode condenar os cães à infestação
por Giárdia, uma infecção causada por um protozoário flagelado (Giárdia
Lamblia), que afecta o intestino delgado dos cães, doutros animais e até dos
homens, sendo portanto uma zoonose, já que as fontes mais comuns de infecção
são as águas paradas e as fezes contaminadas. A infecção ocorre quando o animal
ingere o “cisto” (forma em que o protozoário se apresenta nas fezes), tanto
pelo contacto com outros animais como pela água e demais alimentos
contaminados, pela transmissão fecal-oral da Giárdia. Torna-se evidente que as
taxas de infecção são mais altas nas áreas ou locais onde existem grandes
populações de pessoas e animais, devido à maior oportunidade de transmissão
directa e indirecta da doença. A ingestão de apenas 10 cistos é bastante para
causar a infecção e ao alojarem-se também no pelo dos cães, podem também
infectar as pessoas que mais directamente contactam com eles. Os principais
sintomas da Giardíase são diarreia, vómitos, depressão e perca de peso (por
vezes provoca também o seu aumento). A maior prevalência da doença acontece
entre indivíduos jovens, sem resistência imunológica e que se encontram mais
sujeitos à ingestão de matéria fecal. A doença uma vez instalada concorre para
outras enfermidades mais graves e algumas até fatais.
Nos lares ou nos locais onde a higiene não impera, a reinfecção por
Giárdia é mais do que certa, particularmente onde os dejectos não são
removidos, onde existem bebedouros na linha do solo com água choca, comedouros
com ração empapada e até nos bebedouros automáticos que não são limpos
diariamente, por norma enegrecidos, rodeados de lodo e com um cheiro
característico (“a rabacos”/ruivacos, dirão alguns). Há que ter especial
cuidado com os bebedouros e comedouros destinados aos cachorros, especialmente
se dividirem o mesmo espaço com os seus pais ou outros cães adultos. Nos locais
concorridos por cães de diversos tamanhos, em abono da higiene, do seu bem-estar
e para se evitar este tipo de infecção, é de todo conveniente que os bebedouros
e comedouros não permanecem esquecidos no solo por tempo indeterminado. Se por
acaso o seu cachorro manifestar alguns dos sintomas que atrás mencionámos,
leve-o de imediato ao veterinário. Que bom é observar os cães em contacto com a
natureza, melhor será que disso não lhes resulte qualquer dano. Neste, como
noutros casos, dono precavido vale por dois!
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