terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O DEVANEIO, A GIÁRDIA E A FALTA DE HIGIENE

Se a natureza exerce um grande fascínio sobre os homens, nos cães esse fascínio é bem maior, porque alguns deles ainda se encontram cativos ao relógio biológico, anseiam por maior liberdade, adoram partir em excursão e redescobrir prazeres antigos que a sua memória já não abrange mas que neles continuam presentes. Ao ver tamanha alegria, os donos ficam extasiados e são dominados pela contemplação que os põe também a sonhar, como se o mundo parasse naquela hora e o perigo não rondasse. A cadela da imagem acima encontrou um tanque de água numa tapada, local idílico, intemporal e húmido, destinado à preservação e reprodução de gamos, veados e javalis, que usam também aquele tanque para se refrescarem, particularmente no Verão, quando o calor aperta e a água desaparece dos regatos.
O facto destas espécies cinegéticas ali se banharem, particularmente os javalis que tendem a transformá-lo num chiqueiro, pode condenar os cães à infestação por Giárdia, uma infecção causada por um protozoário flagelado (Giárdia Lamblia), que afecta o intestino delgado dos cães, doutros animais e até dos homens, sendo portanto uma zoonose, já que as fontes mais comuns de infecção são as águas paradas e as fezes contaminadas. A infecção ocorre quando o animal ingere o “cisto” (forma em que o protozoário se apresenta nas fezes), tanto pelo contacto com outros animais como pela água e demais alimentos contaminados, pela transmissão fecal-oral da Giárdia. Torna-se evidente que as taxas de infecção são mais altas nas áreas ou locais onde existem grandes populações de pessoas e animais, devido à maior oportunidade de transmissão directa e indirecta da doença. A ingestão de apenas 10 cistos é bastante para causar a infecção e ao alojarem-se também no pelo dos cães, podem também infectar as pessoas que mais directamente contactam com eles. Os principais sintomas da Giardíase são diarreia, vómitos, depressão e perca de peso (por vezes provoca também o seu aumento). A maior prevalência da doença acontece entre indivíduos jovens, sem resistência imunológica e que se encontram mais sujeitos à ingestão de matéria fecal. A doença uma vez instalada concorre para outras enfermidades mais graves e algumas até fatais.
Nos lares ou nos locais onde a higiene não impera, a reinfecção por Giárdia é mais do que certa, particularmente onde os dejectos não são removidos, onde existem bebedouros na linha do solo com água choca, comedouros com ração empapada e até nos bebedouros automáticos que não são limpos diariamente, por norma enegrecidos, rodeados de lodo e com um cheiro característico (“a rabacos”/ruivacos, dirão alguns). Há que ter especial cuidado com os bebedouros e comedouros destinados aos cachorros, especialmente se dividirem o mesmo espaço com os seus pais ou outros cães adultos. Nos locais concorridos por cães de diversos tamanhos, em abono da higiene, do seu bem-estar e para se evitar este tipo de infecção, é de todo conveniente que os bebedouros e comedouros não permanecem esquecidos no solo por tempo indeterminado. Se por acaso o seu cachorro manifestar alguns dos sintomas que atrás mencionámos, leve-o de imediato ao veterinário. Que bom é observar os cães em contacto com a natureza, melhor será que disso não lhes resulte qualquer dano. Neste, como noutros casos, dono precavido vale por dois! 

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