Ouvi esta história de tempos idos a quem a presenciou e não resisti a dividi-la com os meus leitores, porque testemunha o Portugal rural, a miséria e a crendice popular ainda visíveis nos anos 60 do século passado. Uma morgada havia contratado dois homens para sachar milho e o tempo parecia pressagiar alguma tempestade. De um momento para o outro estoirou uma violenta trovoada sobre os campos e todos correram assustados a abrigar-se debaixo de telha. A morgada, depois de queimar algumas folhas de oliveira num caco, deitou a mão a uma cartilha de orações e mandou todos rezar, familiares e jornaleiros. Um dos últimos, analfabeto e muito humilde, que nunca tinha ido à “doutrina”, por não saber mais o que dizer, repetia aterrorizado: “Santa Maria, Santa Maria”, quando na ocasião se clamava pelo auxílio de Santa Bárbara!
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