quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

CERTA VEZ CONHECI UM VELHACO

 

Certa vez conheci um velhaco que era tão mentiroso que nunca falava verdade, nem mesmo para si próprio e que infelizmente não teve bom fim. Conheci-o como criador de uma raça de cães de orelhas erectas, geralmente mal alimentados, muito pouco cuidados e de prestação laboral lamentável. E como se isto não bastasse, este pseudocriador ainda fazia da violência método de ensino. Na vã tentativa de fazer os seus cachorros maiores e com as orelhas em pé mais cedo, o homem, sem dizer nada a ninguém e querendo ser felicitado, começou a administrar aos cachorros um cálcio contra-indicado, recomendado por alguém conhecido e “entendido no assunto”. Daí em diante, os cachorros não só levantavam precocemente as orelhas, como reviravam as suas pontas. Perante tal sobrecarga, os animais diminuíam a sua curva de crescimento, mostravam-se aptos mais cedo, acabavam tragicamente pequenos, com o dorso numa miséria e os rins numa desgraça (sobre o seu final atroz nem vale a pena falar!). E, como diz o povo, que “cesteiro que faz um cesto, faz um cento”, este reputado aldrabão ainda pedia a terceiros que mexessem nos seus cães para depois fazer figura na escola. Sempre pensou que me enganava e eu nunca lhe disse nada, só para o ver feliz e aumentar a sua auto-estima. Lamentavelmente, o clínico que dava assistência aos seus cães parece nunca ter dado pela fraude. Não tenho saudades do indivíduo nem do seu malfadado fim, mas peço encarecidamente a Deus que não me envie mais velhacos!  

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