Pelo que nos é adiantado pelo “Phys.Org”, portal de notícias e site
dedicado à ciência, investigação e tecnologia especializadas na Física, Ciência
Espacial, Ciências da Terra, Saúde, Medicina, Biologia, Química, Electrónica, Nano
tecnologia e Tecnologia em geral, na sua edição do dia 16 do corrente mês, os
lobos apresentam uma capacidade de resolução superior à encontrada nos cães
domésticos, valendo-se para isso dos experimentos da Dr.ª Monique Udell,
Professa Assistente da Universidade Estatal do Oregon/USA, especialista em Ciência
Animal e Rangeland (na relação entre os animais e os ecossistemas), que
sujeitou 10 cães de companhia, 10 de um abrigo animal e também 10 lobos ao
mesmo tipo de problema de fácil resolução para todos eles. Foi colocada uma
salsicha dentro duma caixa de plástico com uma tampa. Para alcançarem o
petisco, os animais teriam que puxar uma corda inserida na tampa para abrirem a
caixa. Estranhamente nenhum dos cães de companhia conseguiu abrir a caixa,
apenas um cão resgatado o conseguiu e… 8 dos 10 lobos acabaram por abri-la!
Depois usou-se uma pessoa para incentivar os animais na tarefa, o mesmo número
de lobos foi bem-sucedido, 4 dos cães de abrigo também e nenhum dos animais de
estimação conseguiu abrir a caixa. Todos os cães passaram a maior parte do
tempo a olhar para a pessoa procurando ajuda, contrariamente à persistência
visível nos lobos, que por si mesmos resolveram o problema. Esta experiência demonstrou
que os cães domésticos apresentam maior inibição de comportamento na resolução
de problemas quando comparados com aos lobos. Porque será?
Devido à sua
extraordinária adaptação e à pobreza de instintos, que se reflecte numa maior
propensão para serem orientados pelos humanos nas tarefas, os cães
acostumaram-se a pedir ajuda aos seus donos ou tratadores diante de trabalhos
para eles insolúveis, perdendo com a isso a persistência que os levaria a vencê-los,
o que por um lado é um avanço sociocognitivo mas que não esconde a sua invulgar
dependência relativa às pessoas, o que lhes irá dificultar a sobrevivência
quando isolados. Esta dependência aumenta-nos a responsabilidade e o treino
canino irá exigir-nos maiores cuidados, visando a salvaguarda dos cães que
normalmente é preterida pelo seu uso, o que sendo assim pouco difere de uma
comum actividade circense. O aproveitamento e transformação das suas respostas
naturais, obra da convivência e fruto do adestramento, deverá ser acompanhado
pelo desenvolvimento da sua autonomia e pelo enriquecimento das suas
experiências para que atinjam maior capacidade de resolução e consigam
desenvencilhar-se dos problemas que terão pela frente sem o socorro dos
humanos. Trata-se aqui de contrabalançar as respostas advindas do
condicionamento com as que lhe são naturais, devolução mais que obrigatória.
Não faz qualquer sentido
procurar consecutivamente cães com maior impulso ao conhecimento e depois privá-los
de maior capacidade de resolução, procurando apenas a nossa satisfação pelo seu
desempenho em trabalhos previamente definidos e de natureza complementar. O
adestramento é no panorama actual um conjunto de truques, quando deveria ser
uma oficina de jogos, onde os cães desenvolveriam as suas habilidades e
capacidades inatas a par com as respostas artificias exigidas pelas diferentes
disciplinas cinotécnicas. Estamos a falar de pistas tácticas, de obstáculos
compostos, multiusos e de projecção negativa, de desempenhos em diversos
ecossistemas, de diferentes horários escolares, de percursos de evasão e de
acções tão elementares como nadar, saltar, escavar, romper, rastejar, escalar,
transportar, roer, esconder-se, emboscar-se, caçar, etc., que uma vez assimiladas
pelos cães mais enriqueceriam o seu desempenho interdisciplinar. Para além da
autonomia condicionada que o adestramento procura, há que desenvolver neles a
persistência e a curiosidade que lhes aumentam a confiança pela certeza do
sucesso. Qualquer cão é capaz de abrir uma porta, accionar um interruptor ou de
ligar uma máquina, ainda que tenha que reaprender a usar o seu corpo para isso.
Todo o condicionamento a
haver com um cão não deverá resultar na inibição dos seus atributos naturais,
erro pedagógico que a breve trecho aumentará desnecessariamente a sua
dependência e o impedirá de usar o corpo para se bastar a si próprio, ele não
deverá ser um robot mas um companheiro a ser usado segundo as suas
características e mais-valias. Se o antropomorfismo é uma veleidade que nos
impede de ver os cães tal qual são, o exagerado especicismo irá comprometer a
sua sobrevivência. Assim como nenhuma disciplina canina pode alicerçar-se
exclusivamente em exercícios anaeróbios, o uso dos cães deverá considerar o seu
particular morfológico, o uso dos seus atributos físicos e as suas respostas
naturais para a sua autonomia, pormenor indispensável àqueles que possam horas
infindas entregues a si mesmos. Ainda que o treino vise o controlo dos instintos
e a potenciação dos impulsos, ele não deverá inibir os instintos necessários à
salvaguarda dos cães. Apesar das respostas naturais caninas serem mais
duradouras que as artificiais, que geralmente necessitam de reavivamento,
reciclagem e aprimoramento, as primeiras poderão ser eliminadas fácil e fatalmente
pelo desuso.
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