Nem de propósito, quando acabámos de escrever o texto anterior,
encontrámos um pomerano de Rostock/Alemanha que se dedica há largos anos ao
adestramento de cães, um homem simpático que sorrateiramente se acercou de nós,
brando de linguagem e contido de expressões mímicas, espelhando um misto de
humildade e curiosidade, como quem quer saber sem incomodar. Estivemos à
conversa com ele cerca de 30 minutos, para além ficarmos a saber que era
luterano, depois de alguma insistência nossa, debatemos com ele a questão da
necessidade de inibição canina, pormenor que obteve a sua aprovação mas com uma
ressalva: “quem não sente necessidade de perdão, jamais conseguirá perdoar”.
Segundo ele e com carradas de razão, o estabelecimento da inibição não dispensa
a paciência que induz ao perdão, para que o medo não fale mais alto e impeça a
sua aceitação natural pelos cães, enquanto decorrência do amor dos seus mestres
por eles. Indo mais adiante no seu raciocínio continuou: “um treinador
inflexível só poderá ter dos seus cães duas respostas: o medo generalizado pela
liderança ou a formação de cães assassinos (medo ou revolta), porque a
correcção só surte efeito quando alcançada pela confiança em quem a opera, o
que sempre estará ligado à certeza do perdão, manifesta na recompensa que induz
ao acerto por mais tempo, já que o adestramento é para todos os efeitos um
processo de adopção que se deseja feliz”. Não lhe tirámos o chapéu porque
raramente o usamos e o céu estava encoberto.
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