Ao que tudo leva a crer e
segundo a curiosa história de Miss Joanne Greer, uma enfermeira irlandesa que
se tornou missionária presbiteriana e que foi enviada para a Libéria, longe vão
os tempos em que os missionários partiam para os locais mais remotos unicamente
confiados na protecção divina. Quando esta irlandesa foi enviada para aquele
país africano, fez-se acompanhar pelo Reilly, um Pastor Alemão doado por uma
faculdade da Irlanda do Norte, incumbido da sua segurança pessoal, que
inesperadamente acabou roubado por 4 homens armados às 3 horas da madrugada?!
Com o surto de ebola que grassou naquelas paragens, a missão presbiteriana
viu-se obrigada a sair daquele território a 05 de Agosto de 2014, sendo-lhe
permitido retomar as suas actividades ali em Fevereiro deste ano. Na foto
abaixo podemos miss Greer com o Reilly, o cão de defesa pessoal que acabou
roubado e do qual se ignora o paradeiro e a sorte.
A Libéria, cujo nome
deriva do latim e significa liberdade, foi o 1º país africano a tornar-se
independente, o que viria a acontecer a 26 de Julho de 1847, 30 anos antes das
expedições africanas de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens ao serviço da nossa
Coroa e 34 anos após o início da malfadada Conferência de Berlim (1884), que teve
como resultado a entrega de grande parte dos nossos territórios africanos à
Inglaterra, segundo a máxima dos nossos velhos aliados: “amigos, amigos,
negócios à parte”. Nenhuma potência colonizadora europeia disputou a Libéria, o
mesmo acontecendo com a Etiópia. O país foi fundado e colonizado por escravos
americanos libertos (apesar de já lá viverem 16 grupos étnicos diferentes), com
a ajuda de uma organização privada chamada “American Colonization Society”,
entre 1821 e 1822, na premissa de que os ex-escravos americanos teriam maior
liberdade e igualdade de oportunidades nesta nova nação, de acordo com uma
opinião prevalecente nalguns sectores da população dos Estados Unidos da época,
que defendia serem os negros incapazes de se integrar na sociedade norte-americana,
o que evitaria em simultâneo o aumento da criminalidade e os casamentos
inter-raciais.
Volvidos 168 anos, a Libéria é o 4º país mais miserável do mundo, com um
PIB per capita de 447.23€, só sendo nisso ultrapassado pelo Zimbabué, Chade e
Burundi, todos eles africanos. Segundo o “Bureau of Diplomatic Security” do
Departamento de Estado Norte-americano, como se já não bastasse o flagelo do
ebola, 75% dos liberianos tem menos de 35 anos de idade e grande número deles
encontra-se traumatizado pela brutal Guerra Civil, vivendo a sua maioria abaixo
do limiar da pobreza e sobrevivendo apenas com 1 euro diário, tendo difícil
acesso à saúde, a educação e a outros serviços governamentais, apesar dos
Estados Unidos contribuíram anualmente com 1 bilhão de dólares. É frequente
haver ali conflitos económicos, étnicos, políticos e religiosos. Os
estrangeiros e turistas são alvo do pequeno crime durante o dia e encontram-se
expostos a roubos e assaltos, à mão desarmada ou com catana, assim como à
violência de multidão, que pode ser despoletada por um vulgar acidente de
trânsito, o que não é difícil de acontecer, porque o desrespeito pelas regras
de trânsito é generalizado e apenas 6,9% das estradas são asfaltadas. As Nações
Unidas mantêm no território um efectivo de 5.838 militares: a UNMIL. Alguns
locais da Capital (Monróvia) são particularmente perigosos, como são os casos
de: Red Light, Waterside, Congo Town, ELWA Junction e todas as áreas do mercado.
Foi para aqui que a nossa Miss Greer foi enviada, a expensas da Free
Presbyterian Church of North America (FPCNA).
Depois de muitos quilómetros andados, de algumas peripécias e
dificuldades iniciais, esta missionária irlandesa recebeu o seu segundo cão,
também ele um Pastor Alemão, uma cadela chamada “Tina” que lhe foi doada por um
amigo. Queira Deus que tenha melhor sorte, que houvesse sido bem preparada e
seja melhor guarda, que tenham aprendido com a experiência e que não a percam
de vista, porque um cão isolado é como um discípulo sem mestre. Na foto
seguinte podemos ver Joanne Greer com a sua nova body-guard e com outro
companheiro de missão.
A história de Miss Joanne Greer, a quem desejamos que faltem muitos
capítulos ainda, porque é uma jovem, cativou-nos por dois aspectos: pela sua
decisão, ao ponto de colocar a sua vida em risco e, pelo particular dos
Pastores Alemães. Ainda que a irlandesa não seja caso único, não abunda por aí
gente capaz de abraçar idêntica vocação e muito menos fazer-se acompanhar por
cães, particularmente num país onde a fome grassa e os animais são objecto de
repulsa e inveja, uma compreensível afronta para quem vive atolado na miséria.
Grandes mudanças têm sofrido os Pastores Alemães nos 117 anos da sua
existência, jamais imaginaria que transitassem da guarda de rebanhos para
protectores de pastores de almas, percorressem todos os continentes e chegassem
aos lugares mais recônditos.
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