quarta-feira, 2 de setembro de 2015

ÁRBITRO NAS DISPUTAS ENTRE LÍDERES E SUBORDINADOS

Tal como sucede com os homens, também nos cães existem mais subordinados do que líderes, merecendo respectivamente as designações de “submissos” e “dominantes”, o que possibilita a sobrevivência das duas espécies enquanto seres sociais. Hoje, devido à ausência de trato directo com os animais e à aquisição tardia dos cães, que levam ao aumento do medo, criam-se por aí dominantes que nunca o foram e que lembram de certa maneira o “Cão Cérbero”, um animal com 3 cabeças, presente na mitologia grega e tido como guarda do mundo inferior (inferno). Como importa adequar no adestramento os perfis psicológicos binomiais, o adestrador vê-se no papel de árbitro nas disputas entre cães e donos que obstam ao seu rendimento colectivo. Avaliaremos em seguida os quatro casos possíveis: condutor líder/cão dominante, condutor líder/cão submisso, condutor subordinado/cão líder e condutor subordinado/cão submisso, no intuito de identificar os problemas mais comuns e adiantar as soluções mais acertadas, tendo em vista a necessária e efectiva liderança humana.
Os condutores que são líderes inatos carecem por norma de algum travamento, porque a sua ambição pode impedir-lhes a necessária identificação dos cães que os acompanham, o que normalmente obsta ao seu desenvolvimento laboral por via de uma precária comunicação, por vezes imprópria e nalguns casos até abusiva, capaz de gerar medo ou revolta nos animais que conduzem. Tomando como exemplo o 1º caso, o do condutor líder/cão dominante, importa dizer que, caso alcancem a plena constituição binomial, dificilmente serão ultrapassados e o seu rendimento será excelente, ainda que eventualmente possam surgir algumas dificuldades no seu processo pedagógico, mercê do dualismo das vontades, expresso na resistência do cão, que não dispensa um condutor experimentado, para que a harmonia das acções consiga evitar as desnecessárias confrontações. Aqui o dono terá que ser um disciplinador não temerário e seguro, alguém capaz de estabelecer regras e de recompensar o animal pelo acerto, assim como proceder à reprovação e inibição dos seus exageros, já que o cão tende a capitanear as acções ou a despoletá-las sem ordem expressa. Para que o animal aceite a liderança sem maiores atropelos, o seu condutor deverá ser alertado e estar preparado para aguentar seguro e impenetrável as manifestações de desagrado do cão e ser pronto na sua cessação. A palavra de ordem aqui é disciplina e ela não deverá sucumbir diante de qualquer provocação. Ainda que sejam objecto de grande procura, os cães muito-dominantes não são próprios para qualquer um.
Quando um condutor possui todas as qualidades que o identificam como líder e tem como companheiro um cão submisso ver-se-á obrigado a trocar, sempre que necessário, a disciplina pelo alento, o que nem sempre acontece, para que a primeira não produza inusitado travamento e venha a transformar um cão num autómato sem préstimo, o que o tornará excessivamente dependente, impedirá a sua defesa, obstará ao seu bem-estar e diminuir-lhe-á a autonomia, impossibilitando-lhe a ousadia só alcançável pela investidura que o tornaria mais seguro. Encontrar quem dê alento e transmita ânimo nunca foi fácil e muito menos nos dias atribulados em que vivemos, onde por norma a esperança não abunda. Um dono decidido com um cão submisso em mãos terá que valer-se da cumplicidade para o alcance dos objectivos, abdicando sempre que possível da liderança pura e simples, que intimida e não anima. Adianta-se que as fêmeas raramente são dominantes, ficando isso a dever-se ao dimorfismo sexual presente nos cães e ao seu desempenho na reprodução.
 Quando um condutor subordinado é obrigado a educar um cão dominante estamos diante de um processo pedagógico difícil, porque naturalmente o cão tentará dominar sobre quem o conduz, tudo fazendo para que a sua vontade impere e a liderança do seu condutor jamais aconteça. Aqui o adestrador é obrigado a intervir, quantas vezes for necessário, procedendo à instalação dos comandos no cão até que eles garantam, por si, a liderança do seu condutor, já que o condicionamento operado por ele dificilmente será objectivo e incondicional. A acção do adestrador torna-se obrigatória diante dos previsíveis riscos pró condutor, uma vez que não inibe e o cão tudo fará para o inibir, o que infelizmente acontece com alguma frequência. Com o tempo, a acção do adestrador e o empenho do dono, que gradualmente vai ganhando ânimo e força pelo exemplo, o binómio virá ser constituído. Quando a um condutor subordinado cabe um cão submisso, há que injectar doses maciças de ânimo no líder, visando  a sua investidura e o robustecimento do cão, que jamais se sentirá seguro e protegido se for objecto de uma liderança passiva, passividade que a acontecer, virá a comprometer por receio qualquer serviço destinado ao animal. Resumindo, as disputas binomiais resolvem-se, consoante os casos, com disciplina, cumplicidade, interajuda e ânimo, cabendo ao adestrador indicar qual destes antídotos utilizar diante dos problemas encontrados, acção que o transforma num árbitro apostado no sucesso, porque resolve, a contento das partes e objectivando um fim útil, os possíveis litígios entre homens e cães.

Sem comentários:

Enviar um comentário