Desde que tive conhecimento deles sempre me apaixonaram. Estou a
referir-me aos Cossacos, povo livre e guerreiro, de exímios cavaleiros por
detrás da formação da Ucrânia e da Rússia. Depois de alguma pesquisa, porque
não os estava a ver sem cão, vim a descobrir qual deles os acompanhava na caça
a cavalo: o Borzoi das Estepes, um galgo pertencente genericamente à categoria
dos wolfhounds, muito embora seja um típico sigthound (caçador à vista), menos
conhecido que o Borzoi por não estar associado à realeza, um lebrel mais rápido
do que resistente, de uso popular, capaz de avistar a caça até aos 300m e
possuidor de um arranque inigualável, de pelagem dupla, curta e grossa, também
de herança tártara e muito idêntico ao Sloughi (galgo do Norte de África),
desfilando ordinariamente com a cauda abatida e entre as pernas, nas estepes
compreendidas entre as Montanhas do Cáucaso e os rios Volga e Don. A sua
selecção continua a efectuar-se pelo abate dos menos aptos e os cães mais novos
são capacitados pela parceria com outros mais velhos e experientes. O termo
russo “Borzoi” aplica-se a todo e qualquer wolfhound (cão de caça ao lobo).
Por vezes o Borzoi das Estepes é tratado como “South Russian Steppe
Hound” devido à distribuição geográfica dos cossacos, nas estepes da Ucrânia e
do Sul da Rússia. Para todos os efeitos estamos na presença de um galgo
descendente dos seus pares do Médio-Oriente, um sigthound com um quociente de
envergadura 2.3 parar os machos (71cm/34ks) e de sensivelmente 3 para as fêmeas
(61cm/20.5kg). A raça não é muito fecunda e as suas ninhadas oscilam entre os 3
e os 6 cachorros, número que aponta para a selecção natural e que desnuda pouca
ou nenhuma interferência humana. Este cão, que exige poucos cuidados de limpeza
(grooming), é um animal leal, rústico, próprio para a tarefa, pouco protector,
com uma energia acima da média, de fácil sociabilização com crianças, outros
cães e demais animais domésticos, que exige e necessita de muito exercício
físico, apesar de ser calmo dentro de casa. A raça apresenta uma grande variedade
de cores, sendo cada uma delas sólida nos seus exemplares. Por demais
negligenciado nas aldeias onde é comum ver-se vadio, aparecer faminto e
subnutrido, o Borzoi das Estepes sofreu maior cuidado, incremento e
melhoramento a partir de 1952, altura em que o “All-Union Cynological Congress”
o considerou digno de preservação.
Estamos na presença de um
“parente pobre” do Borzoi mas mais apto e saudável do que ele, podendo caçar
até aos 12 anos de idade. O cão dos cossacos foi e continua a ser usado para
dar caça ao lobo, acompanha o dono a cavalo e tanto pode trabalhar em parceria
com um falcão como em matilha, sendo por excelência um cão de campanha. Pouco
se sabe sobre o cão seu ancestral, se o “Canis Familiaris Leineri” ou outro,
como não se sabe se todos os galgos provêm da mesma origem, muito embora
ninguém duvide que nalgum momento da antiguidade galgos e podengos tiveram um
ancestral comum. Quem diria que um cão de origem árabe, provavelmente
introduzido pela “Rota da Seda” iria parar às gélidas estepes ucranianas e
russas, adquirir pelo duplo e acompanhar cavaleiros cossacos, rutenos e
eslavos. Realmente o Mundo é muito pequeno! Como os cossacos e os galgos
nasceram para ser livres, a máxima “cara de um, focinho do outro” ganha neles
maior sentido.
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