Se entendermos a música
como uma combinação de ritmo, harmonia e melodia, também como uma organização
temporal de sons e silêncios (pausas), produzidos pela voz humana e pelos
instrumentos, capaz de transmitir sentimentos e despertar emoções, facilmente
compreendemos da importância desta arte para o bem-estar dos cães, animais mais
dados a emoções e a estados anímicos, que entendem o mundo à sua volta e
respondem pela associação de sons e odores. Graças a este particular é que
conseguimos ensiná-los mediante comandos verbais, cuja entoação deverá ser apropriada
(diferenciada) segundo o carácter das respostas que deles esperamos, para
facilitarmos a sua apreensão e livrá-los do stresse. Pequenos trechos musicais
podem funcionar como ordens explícitas e despoletar neles diferentes acções,
desde que treinados assim, sucedendo o mesmo com os militares em relação ao
toque do clarim. Os cães bem treinados que fazem parte das forças que se
dedicam ao protocolo e honras do Estado, por força do hábito, reagem aos toques
militares em simultâneo com os seus tratadores, dispensando inúmeras vezes
outro tipo de ordem ou o seu reforço.
Há muito que sabemos dos
benefícios que a música oferece aos cães, tanto que sempre a usámos nos
cachorros recém-chegados a casa, depois da separação da mãe e dos seus irmãos,
para se acalmarem e não se sentirem sós, usando para isso um rádio nas
primeiras noites. Hoje a terapia musical está em voga no mundo canino, nos
países mais evoluídos chega até a ser usada nas associações que se dedicam a
recolha de cães abandonados. Nas clínicas e hospitais veterinários a música
faz-se presente para acalmar pacientes e convalescentes, minorando aversões e
ajudando na recuperação, enquanto veículo que transmite ânimo, calma, tranquilidade,
relaxamento e felicidade. Segundo uma pesquisa realizada pela Dr.ª Deborah
Wells, da Queens University de Belfast, na Irlanda do Norte, uma reputada
especialista em comportamento animal, os cães gostam realmente de música e a preferência
dos cachorros vai para a música clássica, que os mantém serenos e relaxados,
não sucedendo o mesmo quando sujeitos a música pop ou a shows. Em complemento,
outros etólogos descobriram que a música clássica soa aos cães como uma
conversa humana e que, se a esse tipo de peças musicais se juntar o ladrar de
um cão e o chilrear dos pássaros, tanto melhor. Ao que tudo indica, a harpa é o
instrumento musical que os cães mais apreciam.
É por demais evidente, se
juntarmos música à algazarra do treino, que a capacitação dos cães mais frágeis
será mais fácil e que os mais equilibrados renderão mais; que as classes terão
menor saturação, maior disponibilidade e melhor desempenho, a sociabilização
canina será facilitada e a constituição da matilha heterogénea escolar acontecerá
sem maiores delongas e percalços. Não há dúvidas: está na hora de dar música
aos cães, de a fazer presente nas sessões de treino e de usufruir das suas
vantagens, que também se estenderão aos adestradores, condutores e demais agentes
de ensino. A isto se chama inovar e o adestramento progride pelo avanço das
ciências que o sustentam. Dêem-lhes música que eles agradecem! E já agora, ao sair de casa para o trabalho, deixe um rádio ligado como companhia para o seu cão, verá que resulta! E se resulta ali, muito mais resultará nos canis.
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