Para além da hospitalidade
das suas gentes, de paisagens idílicas, uma histórica antiga e muito rica (é a
nação cristã mais antiga do mundo), lindas mulheres e muitas igrejas, uma
joalharia em expansão e requintada, a Arménia tem também um super-cão: o Gampr,
raça pouco conhecida fora das suas fronteiras, ainda não reconhecida pelos mais
renomados Kennel Clubs, cujo nome significa cão de guarda, um molosso similar a
outros existentes na região do Cáucaso, multifacetado e muito apreciado,
nascido no Planalto Arménio, de uso popular e único na sua polivalência e
desempenho, que espelha também ele, pelas suas características, o carácter independentista
presente na Arménia e no seu povo, sendo também um símbolo da sua autonomia e nacionalismo.
Por curiosidade adianta-se que Calouste Gulbenkian, que tanto bem fez e
continuar a fazer a Portugal através da sua fundação, era de origem arménia,
facto que muita gente desconhece.
Retornemos ao Gampr. Quando
atrás dissemos tratar-se de um cão multifacetado e único na sua polivalência,
qualidades advindas do seu tamanho e envergadura (ele pode alcançar os 89cm de
altura e pesar até 84kg), apesar do seu standard adiantar como altura
recomendada 65cm para os machos) que lhe possibilitam trabalhar excelentemente como
cão de guarda, tracção, pastoreio, de caça ao lobo, ao urso, ao leopardo e
demais caça grossa, para além de o capacitarem na procura e resgate de pessoas
soterradas na neve e a grande altitude, já que é forte, poderoso, resistente e
grande, predicados que associados a uma máquina sensorial pouco vista, aumentam
substancialmente o seu quadro de atribuições. O particular da sua máquina
sensorial adveio-lhe de cruzamentos com os lobos da região, primeiro espontâneos
e depois intencionais, graças às mais-valias obtidas pela hibridação (um raro
caso de sucesso). Quem teria aprendido com quem: os checos com os arménios ou
vice-versa?
Este molosso rectangular arménio apresenta uma cabeça e crânio volumosos,
o dorso paralelo ao solo, uma garupa larga, é pouco angulado e ostenta uma
ossatura bastante forte, um manto de pelo duplo independentemente do
comprimento da sua pelagem (os exemplares castanhos ou malhados são
indesejáveis à luz do seu estalão), particulares que uma vez somados o
transformam num típico cão de montanha. É na verdade um falso lento, porque de
antemão a sua envergadura não indicia a sua tenacidade, arranque, desenvoltura,
velocidade e resistência, deslocando-se ordinariamente em marcha e cobrindo a
cada passada 180cm de terreno, numa cadência viva, suspensa e constante,
andamento que em molossos deste tipo é muito pouco comum ou usual. Acresce
ainda o facto da raça não se encontrar ainda flagelada pela endogamia e pela
consanguinidade.
Caçador excursionista mas
extraordinariamente territorial, o Gampr diferencia-se dos seus pares pelos
seus dotes naturais, porque é independente, inteligente, com um grande instinto
de auto preservação, alto sentido de protecção ao gado e raro apego aos donos,
tarefas que lhe são inatas e que lhe dispensam o treino para esses fins. Dotado
de uma saúde e longevidade invejáveis (vive em média até aos 15 anos), dispensa
maiores cuidados de grooming, é tolerante às baixas temperaturas e mantém o
mesmo desempenho diante de diferentes amplitudes térmicas. Costuma dizer-se que
o melhor guarda-se para o fim: o Gampr apercebe-se quando o dono precisa ou não
de ajuda, ajudando-o quando necessário e não se intrometendo quando for caso
disso, qualidade ímpar que o torna fiável e seguro.
Como já atrás dissemos, o
cão dos arménios ainda foi reconhecido internacionalmente pelas entidades
maiores que presidiam á canicultura, sendo apenas reconhecido pela
International Kennel Union (IKU) no ano de 2011, organização que actua já em 17
países, entre eles: Arménia, Bulgária, Espanha, Geórgia, Grécia, Rússia e
Ucrânia. Os arménios continuam a defender a pureza dos seus cães e a estabelecer
diferenças entre eles e outros cães do Cáucaso de idêntica morfologia,
adiantando as qualidades e características que tonam o único o seu cão.
Não será só para canicultura
do Leste que a Europa terá que olhar, mas também para as nações daquela latitude
geoestratégica que melhor garantirão o seu espaço vital, ainda que isso colida
com os interesses da Mãe-Rússia ou com os do Papão Russo, especialmente agora
que se encontra enfraquecida a Sul com a invasão massiva de emigrantes e
refugiados. Estamos a lembrar-nos da Arménia, Montenegro e Sérvia, também da
Geórgia e da Ucrânia, porque se não o fizer, de um jeito ou de outro, elas
virão a até nós e melhor seria que viessem como aliadas. O muro de Berlim ruiu,
foi deitado abaixo, mas outros muros continuam de pé, impedindo a soberania de
alguns povos e entaramelando o seu progresso. Política à parte, o Gampr é sem
dúvida o melhor cão da região do Cáucaso, um molosso alupinado que não tem
igual na Europa Ocidental.
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