segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

TRELA NO CHÃO, PÉ AO TRAVÃO

No centro-oeste brasileiro e nalguns rincões gaúchos (e se calhar por outras partes do território) é visível um tipo de doma rural que diverge e atenta contra o desbaste clássico. Os equídeos sujeitos a essa pedagogia destinam-se ao controlo das manadas e são normalmente usados pelos “peões” das fazendas, gente que merecidamente ganhou a designação de “cow-boys sul-americanos”. A pedagogia empregue consiste em amarrar os cavalos durante 2 ou 3 dias (como borregos) e depois soltá-los com o peão em cima campo a fora, num bailado ébrio de congostas, quedas e pinotes: “ baita moleque, segura o pangaré!” Entre nós e no mundo da cinotecnia, um novo método é visível nas urbes: o da “trela no chão e pé ao travão”. Os cães entram em classe com um arnês (a esta hora já lhe atribuíram um nome pomposo ou algum estrangeirismo) e rebocam a trela pelo chão quando evoluem no “junto”. O processo é rudimentar: se o cão se adiantar, o condutor pisa-lhe a trela. Graças ao arnês, o fecho de prisão passou do pescoço para o dorso, o que torna o travamento menos violento. Pensando bem, o método nada tem de inovador, porque se vale do condicionamento oferecido pelo corriqueiro uso da corrente. Sempre será mais fácil conduzir à trela um cão normalmente acorrentado do que outro que sempre andou em liberdade. Contudo, o método é coercivo e de difícil execução para o condutor, porque se desloca acocorado e de biscoito na mão direita, quiçá na tentativa de suavizar as marcas da coerção. Infelizmente, o recurso à recompensa não esconde a violência do método nem tão pouco a sua rudeza. E por falar em correntes: se tiver que acorrentar o seu cão, faça-o a partir de um cabo aéreo (nunca com menos de 5 m), para salvaguardar a saúde articular do bicho e evitar que tropece nos seus dejectos. Somos contra a instalação sistemática dos cães na corrente porque os seus malefícios ultrapassam em muito as suas vantagens, já que esse confinamento para além de poder colocar em risco a saúde animal (o que o torna abusivo e impróprio), aumenta a vulnerabilidade do cão, impedindo em simultâneo a sua fuga e defesa.

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