O comum proprietário de um cão, portador de um exemplar da sua eleição, desconhece maioritariamente os pressupostos ou conceitos por detrás da raça do seu bicho, porque sempre a conheceu assim e isso lhe basta, ignorando a relação ou contributo da ciência para o seu aparecimento. O advento das diferentes raças caninas e as suas diferentes aptidões encontra-se intimamente ligado à “eugenia”, um termo cunhado por Francis Galton (1822-1911), que significa “bem-nascido” e que procurava o melhoramento genético. A doutrina de Galton, que era primo de Darwin (o criador da Doutrina da Evolução das Espécies), para além de lançar as bases da genética humana, contrapunha à selecção natural a artificial (eugenia), como meio para evitar a degeneração biológica, tanto cognitiva quanto física, através de casamentos seleccionados e considerando a genética como único determinante da inteligência ou das capacidades individuais, desprezando a contribuição ambiental e os meios neuro-sociais de modo parcial. A doutrina da supremacia da raça ariana adoptada pelos nazis teve como base a eugenia, sendo na origem inglesa e levada ao extremo. O dualismo eugenia-rascismo tende a confundir-se e a derrota da Alemanha na II Guerra Mundial despopularizou a doutrina. Contudo, ela revelou-se um contributo científico de suma importância, contribuindo para o avanço do conhecimento genético actual.
Ainda que a eugenia em termos de debate científico tenha sido derrotada pela genética mendeliana, ela continua activa e de todo não foi banida. Quando falamos dela, somos obrigados a destrinçar as suas duas vertentes: a positiva e original (ligada ao aconselhamento de casamentos selectivos) e a negativa (a relacionada com o racismo). O termo “disgenia” aponta para a degeneração genética nas populações modernas e encontra-se associado à modernidade da medicina, apostada numa maior esperança de vida e possibilitando a transmissão de certas doenças às gerações vindouras. Muito antes das “Leis de Nuremberg” (1935), que proibiam o casamento ou contacto sexual de alemães com judeus, pessoas com problemas mentais, doenças contagiosas ou hereditárias, culminando com a lei da esterilização aplicável às pessoas portadoras de problemas hereditários, aos delinquentes sexuais juvenis e aos homossexuais, entre outros, já a Alemanha havia abraçado o eugenismo, algo que saiu do prelo em 1854 através do “ Ensaio sobre as desigualdades das raças humanas”, obra do Conde de Gobineau. Apesar do assunto ser apaixonante, tanto do prisma ético como do científico, focar-nos-emos em exclusivo sobre a relação entre a eugenia, a canicultura e a cinotecnia.
A tipificação das actuais raças caninas jamais seria possível sem o contributo da eugenia e sem o recurso aos beneficiamentos endogâmicos que garantiram a homozigose e estabeleceram as diferenças entre elas. Os cães forneceram um vasto campo para a comprovação da eugenia e a ela se deve a diferença entre os cães originais e os actuais, intrinsecamente ligada à obra selectiva humana. Por isso não é de estranhar que a maioria dos estalões se remeta a finais do Sec.XIX e alvores do Sec. XX. Infelizmente tal levou ao desprezo pelos rafeiros e ao menor préstimo ou degeneração dos actuais exemplares “puros”, considerando o seu quadro clínico e a diminuição das suas aptidões, a sofrível sociabilização e a consequente coabitação. Quem se dedicar ao estudo das origens do Pastor Alemão, vê que a selecção da raça teve como origem e orientação as doutrinas inglesas desse tempo. Por obra e graça da eugenia, os actuais Clubes de Canicultura filiados na FCI abraçam somente os cães de raça, apesar da hibridação de alguns ser relativamente recente.
Nos centros de adestramento caninos somos confrontados com exemplares ancestrais e modernos, provenientes da selecção natural e artificial, e a todos temos que valer, segundo a sua necessidade e de acordo com a instalação de cada um. Não temos qualquer pejo em dizer: os rafeiros são mais aptos e colocam menos problemas que os raciais e que todos carecem de maior ou menor capacitação. A nossa opção pelo método de Trumler (o da precocidade) surge como resposta às dificuldades encontradas em cada grupo, para operar o desenvolvimento do impulso ao conhecimento pelo contributo da plasticidade e do sentimento gregário comum a todos eles. Tendo em conta as diferentes maturidades, somos obrigados ao acompanhamento dos seus ciclos infantis, exorcizando a genética pelo contributo ambiental, dando-lhes uma experiência directa que naturalmente alguns desprezariam, alcançando a sociabilização e um melhor rendimento físico, suscitando outras aptidões e instituindo a parceria, porque a tipificação morfológica não garante o desempenho e diversos factores ambientais podem suavizar algumas lacunas ou despoletar desejáveis mecanismos acessórios, provavelmente esquecidos e por isso mesmo desusados, no concurso de um impulso para outros.
Apesar de muito procurado, o super-cão ainda não chegou, todas as raças produzem indivíduos diferentes e o nosso ofício é fazer de cada um deles o melhor do mundo, o que traduzido é letra significa: o meu cão, aquele que eu construí, adaptei, desenvolvi e capacitei, aquele que me compreende e se identifica comigo, independentemente da sua origem ou descendência. Haverá outro melhor?
Ainda que a eugenia em termos de debate científico tenha sido derrotada pela genética mendeliana, ela continua activa e de todo não foi banida. Quando falamos dela, somos obrigados a destrinçar as suas duas vertentes: a positiva e original (ligada ao aconselhamento de casamentos selectivos) e a negativa (a relacionada com o racismo). O termo “disgenia” aponta para a degeneração genética nas populações modernas e encontra-se associado à modernidade da medicina, apostada numa maior esperança de vida e possibilitando a transmissão de certas doenças às gerações vindouras. Muito antes das “Leis de Nuremberg” (1935), que proibiam o casamento ou contacto sexual de alemães com judeus, pessoas com problemas mentais, doenças contagiosas ou hereditárias, culminando com a lei da esterilização aplicável às pessoas portadoras de problemas hereditários, aos delinquentes sexuais juvenis e aos homossexuais, entre outros, já a Alemanha havia abraçado o eugenismo, algo que saiu do prelo em 1854 através do “ Ensaio sobre as desigualdades das raças humanas”, obra do Conde de Gobineau. Apesar do assunto ser apaixonante, tanto do prisma ético como do científico, focar-nos-emos em exclusivo sobre a relação entre a eugenia, a canicultura e a cinotecnia.
A tipificação das actuais raças caninas jamais seria possível sem o contributo da eugenia e sem o recurso aos beneficiamentos endogâmicos que garantiram a homozigose e estabeleceram as diferenças entre elas. Os cães forneceram um vasto campo para a comprovação da eugenia e a ela se deve a diferença entre os cães originais e os actuais, intrinsecamente ligada à obra selectiva humana. Por isso não é de estranhar que a maioria dos estalões se remeta a finais do Sec.XIX e alvores do Sec. XX. Infelizmente tal levou ao desprezo pelos rafeiros e ao menor préstimo ou degeneração dos actuais exemplares “puros”, considerando o seu quadro clínico e a diminuição das suas aptidões, a sofrível sociabilização e a consequente coabitação. Quem se dedicar ao estudo das origens do Pastor Alemão, vê que a selecção da raça teve como origem e orientação as doutrinas inglesas desse tempo. Por obra e graça da eugenia, os actuais Clubes de Canicultura filiados na FCI abraçam somente os cães de raça, apesar da hibridação de alguns ser relativamente recente.
Nos centros de adestramento caninos somos confrontados com exemplares ancestrais e modernos, provenientes da selecção natural e artificial, e a todos temos que valer, segundo a sua necessidade e de acordo com a instalação de cada um. Não temos qualquer pejo em dizer: os rafeiros são mais aptos e colocam menos problemas que os raciais e que todos carecem de maior ou menor capacitação. A nossa opção pelo método de Trumler (o da precocidade) surge como resposta às dificuldades encontradas em cada grupo, para operar o desenvolvimento do impulso ao conhecimento pelo contributo da plasticidade e do sentimento gregário comum a todos eles. Tendo em conta as diferentes maturidades, somos obrigados ao acompanhamento dos seus ciclos infantis, exorcizando a genética pelo contributo ambiental, dando-lhes uma experiência directa que naturalmente alguns desprezariam, alcançando a sociabilização e um melhor rendimento físico, suscitando outras aptidões e instituindo a parceria, porque a tipificação morfológica não garante o desempenho e diversos factores ambientais podem suavizar algumas lacunas ou despoletar desejáveis mecanismos acessórios, provavelmente esquecidos e por isso mesmo desusados, no concurso de um impulso para outros.
Apesar de muito procurado, o super-cão ainda não chegou, todas as raças produzem indivíduos diferentes e o nosso ofício é fazer de cada um deles o melhor do mundo, o que traduzido é letra significa: o meu cão, aquele que eu construí, adaptei, desenvolvi e capacitei, aquele que me compreende e se identifica comigo, independentemente da sua origem ou descendência. Haverá outro melhor?
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