Diariamente, ano após ano, alguns cães são envenenados e poucos sobrevivem a esse flagelo. Por todos os Concelhos, nuns mais do que noutros, há notícia de cães envenenados e raramente os criminosos são identificados e condenados pela prática desse hediondo crime. A ingenuidade, a ignorância e o despreparo dos proprietários caninos trabalha em seu auxílio, facilitando-lhes o êxito das suas acções e o contribuindo para a morte dos seus companheiros, ainda que involuntariamente e para seu grande pesar. Considerando o risco de envenenamento e as suas consequências, para além do que já foi dito no texto “O Cão de Guarda”, no seu 7º parágrafo: “As medidas contra o suborno e o envenenamento”, importa adiantar outros subsídios para melhor salvaguardar os nossos cães. Escrever sobre este assunto é sempre um risco, porque conhecendo-se a defesa melhor se prepara o ataque, porque a vantagem de uma arma cessa quando surge a sua contra-arma. De qualquer modo, importa dificultar ao máximo as acções dos envenenadores, fazer lograr os seus intentos e operar a defesa segura dos nossos cães, que tanto podem ser vítimas em casa como na rua.
O particular do canil: Muitos cães são envenenados dentro do seu canil, porque ele se encontra mal colocado, distante ou mal apetrechado. Um canil nunca deve ser instalado junto aos muros que delimitam a propriedade da rua, próximo de serventias e descampados ou sujeito à observação externa, que é o que normalmente acontece, face aos pruridos de um ou mais membros do agregado familiar, alvitrando-se vãs razões estéticas e higiénicas, como se o canil fosse uma barraca e os cães tratassem da sua própria higiene. Canis assim localizados, porque basta jogar comida lá para dentro, possibilitam o ataque externo e os criminosos tiram vantagem da topografia do terreno, trabalhando encobertos e de surpresa, a qualquer hora do dia e quando lhes aprouver, podendo repetir e melhorar as acções perante o fracasso das tentativas anteriores. Considerando a segurança dos cães confinados, entendemos que os canis devem ser acoplados às habitações e nos alçados que lhe garantam melhor protecção. Nenhum canil deve distar da habitação mais de 20 metros, porque naturalmente acabará desprezado e menos inspeccionado, sujeito apenas às rotinas dos pensos e das limpezas. A prestação de socorro diminui à medida que a distância do canil aumenta (muitos cães só são encontrados mortos algumas horas depois do seu falecimento, o socorro atempado poderia evitar a sua morte). Deixar os canis destapados é o pior dos disparates, porque se constituem em pista de aterragem para engodos de toda a espécie. As áreas descobertas dos canis devem ser cobertas por uma tela de rede fina que impossibilite a entrada de qualquer manjar envenenado, mantendo em simultâneo a entrada da luz solar. A inexistência desta condição indicia um canil mal apetrechado e um dono lírico ou descuidado.
Os passeios: Envenenar gatos é tarefa fácil, basta descobrir o seu local social; envenenar cães não é difícil, basta conhecer as suas rotinas. Binómio que sai às mesmas horas, conserva o mesmo percurso, tem local certo para a evasão e mantém os mesmos procedimentos, coloca a sua integridade em risco e pode contribuir para a eliminação do cão, porque o conhecimento dos seus passos antevê o estudo para a melhor ocasião (local e momento certos para a colocação do “farnel”). A variação dos percursos dificulta a acção dos envenenadores, obrigando-os a maior cuidado e dispêndio, porque podem ser surpreendidos, vêem-se obrigados a montar mais armadilhas e podem ver logrados os seus intentos (a incerteza do sucesso leva ao abandono das suas acções). O modo da condução é um factor que não pode ser ignorado quando se sai com o cão à rua, já que ele facilitará ou dificultará a ingestão de algo nocivo pelo animal, porque existem venenos que depois de engolidos são fatais. Para que isso não aconteça, recomendamos a condução à trela, no “junto” ordinário e debaixo da cadência de marcha, porque se cão evoluir em liberdade ou sujeito a outro automatismo direccional (“à frente” ou “atrás”) pode engolir algo e isso ser-lhe fatal. O sentido e a direcção do trajecto devem ser estipulados pelo dono e não segundo o parecer do cão, porque muitos já morreram acidentalmente, por seguirem as pisadas de outros e terem ingerido o veneno que não lhes era destinado. Evite transitar com o seu cão nos trajectos de outros cães, isso pode salvar-lhe a vida. Despreze os percursos comuns e opte por novos, distantes da marcação de território, arredados das habitações, isentos de convívio e livres de conflitos, porque o envenenamento pode provir da vingança (proprietários de cães envenenam os alheios). O cão deve sair debaixo dos comandos de “atenção” e “alerta”, nunca a farejar ou entregue aos seus instintos. O local de evasão, aquele onde soltamos o animal, deve previamente ser batido à minúcia (certificação da inexistência de engodos), estudados os seus riscos e conhecidos os seus limites. Enquanto isto, o cão deve permanecer imobilizado num local que não comporte qualquer risco. Alvitrando-se a hipótese do animal não responder prontamente aos automatismos de imobilização, a opção razoável é prendê-lo. Nenhum cão deverá ser solto sem a certeza do comando de “aqui”. Facilmente se compreende porquê.
Terrenos a evitar: Os terrenos de densa vegetação devem ser evitados porque dificultam a detecção, os pedregosos porque facilitam a ocultação e os acidentados porque retardam a acção da inibição. Os locais destinados à reserva de caça (caça associativa) são lugares a evitar, normalmente encontram-se plenos de armadilhas e os engodos não são excepção, porque a caça não é carnívora e pretendem preservá-la. Muitas vezes as armadilhas não se destinam aos cães, mas aos predadores naturais das espécies a caçar. Alguns caçadores são envenenadores natos e chegam a eliminar os cães domésticos mais próximos dos terrenos destinados à actividade cinegética. As áreas residenciais isoladas, com ou sem cães, devem também ser evitadas, porque os seus moradores preservam o sossego e tudo farão para o manter, não vendo com bom olhos a intrusão. Os parques e jardins públicos não devem ser usados sistematicamente, em particular os disputados por crianças e idosos. É um erro usá-los nas suas partes mais recônditas ou isoladas, porque é exactamente aí que os iscos irão ser colocados, longe dos demais e à espera dos cães. O cão sempre estará mais seguro no meio da multidão, usufruindo da sua protecção e alcançando ali um lugar próprio (integração). Os terrenos lavrados e as vinhas tratadas são presentes envenenados, tanto por pesticidas como por engodos. Estabelecimentos como matadouros, talhos, restaurantes e cafés são locais muito perigosos e sobejamente procurados por cães vadios. Alguns dos seus proprietários não se agradam das visitas e cedo apostam no seu sumiço. Se tiver que se deslocar com o seu cão a um destes estabelecimentos, deixe-o imobilizado à porta (sentado) e debaixo de olho. Evite nos trajectos os caixotes do lixo, os locais de pernoita dos cães vadios e as lixeiras porque induzem e estimulam o seu cão ao “petisco”. Todos os locais proibidos e perigosos são em simultâneo lugares de treino, porque o cão tem de aprender a lutar pela sua sobrevivência e estar avisado acerca dos perigos que o cercam. Este trabalho dá pouco nas vistas, mas é essencial para o animal.
As garrafas de água e os brinquedos biológicos: Apesar de irreflectida, não deixa de ser uma prática bastante comum: entregar ao cão uma garrafa de água vazia para brincar. Esta inocente brincadeira pode revelar-se fatal para o bicho, porque a avidez por garrafas pode levá-lo ao transporte doutras mais nocivas e fatais, as que servem de recipiente para os mais variados produtos químicos. Consentir ou persistir nisto é dar azo ao disparate, relegar para a fortuna aquilo que desprezámos e subsidiar a morte do nosso cão. Existem brinquedos pedagógicos para cães quase ao preço das garrafas, não induzem à fatalidade e são próprios para a divisão de tarefas. A inocência dos cães obriga-nos ao cuidado e ao fornecimento de brinquedos recomendáveis, específicos para eles e pouco ou nada lesivos. Sempre que possível substitua os artefactos do dia-a-dia por brinquedos análogos, porque mais vale ir à loja de animais do que se despedir precocemente do seu. Ossos frescos, desidratados, de couro ou de búfalo devem ser evitados, assim como outros que possibilitem a sua ingestão, porque aguçam o apetite dos cães e propiciam a procura dos engodos. Pergunta-se: de que vale pôr o cão a comer num comedouro regulável, se a seguir lhe jogamos ossos no chão?
Desencorajar os criminosos: Todo o envenenador observa e procura não ser observado, olha de relance e afasta o olhar quando se fixam nele, não quer ser reconhecido e tudo fará para que não lhe adivinhem as intenções. O ocasional é mais tímido e arredio, o sistemático chega a fazer-se interessado e amigo dos cães porque procura informações suplementares. Quando reparar que alguém observa o seu cão, fixe o seu olhar nele, dê a ideia que o quer identificar, mostre que o observa e demonstre desconfiança. Se algum desconhecido se dirigir ao seu cão e lhe perguntar maiores detalhes, vire o feitiço contra o feiticeiro e leve-o à identificação, pergunte-lhe o que faz ali e aquilo que pretende. Se as suas intenções forem más, breve se porá a caminho e o seu cão poderá estar a salvo. Lamentavelmente o assunto não se esgota aqui, lamentavelmente somos obrigados a encerrá-lo. De bom grado daremos maiores explicações a quem as solicitar.
Sem comentários:
Enviar um comentário