Uma
equipa de cientistas da Universidade Estadual da Carolina do Norte (NC State),
nos Estados Unidos, identificou níveis elevados de “produtos químicos eternos” (1) no sangue de todos os cães e cavalos de estimação que
testaram num estudo recente da comunidade. A pesquisa, publicada na
quarta-feira na revista ENVIRONMENTAL
SCIENCE AND TECHNOLOGY, estabelece os cavalos e confirma os
cães como importantes espécies sentinelas para avaliar a exposição humana a
substâncias per e polifluoroalquil (PFAS) (2) ligadas ao cancro
dentro e fora de casa. Os painéis de química do sangue realizados nos animais
também revelaram mudanças nos indicadores biológicos usados para avaliar a
disfunção hepática e renal – dois sistemas que são os principais alvos da
toxicidade do PFAS em humanos, de acordo com o estudo. A região central da
Carolina do Norte, onde residem os cães e cavalos do presente estudo, está
altamente contaminada com PFAS, devido à produção local desses compostos
sintéticos de longa duração, explicaram os autores. Conhecidos pela sua
capacidade de permanecer no corpo e no ambiente, os PFAS são encontrados em
descargas industriais, em algumas espumas de combate a incêndios e numa
variedade de utensílios domésticos.
Muitas
dessas substâncias – das quais existem milhares – estão ligadas ao cancro
renal, doenças da tireóide, cancro testicular e outras doenças. “Reforçando a sua
utilidade como sentinelas para os efeitos na saúde humana, os animais
domésticos têm uma sobreposição substancial em riscos de saúde partilhados”, afirmaram
os autores. Embora este método tenha sido usado historicamente para estudar a
propagação de doenças, os pesquisadores descreveram “um interesse crescente na
sua aplicação para os riscos induzidos prà saúde por produtos químicos como o
PFAS”. Os pesquisadores do NC State avaliaram os níveis de PFAS no sangue de 31
cães e 32 cavalos de Gray's Creek, na Carolina do Norte, a pedido de membros da
comunidade que expressaram preocupação com o bem-estar dos seus animais de
estimação. Todas as residências incluídas no estudo tinham água de poço, e
todos eles foram analisados por inspetores estaduais e considerados
contaminados com PFAS, adianta o estudo. Depois de receber um exame geral de
saúde veterinária, os animais foram submetidos a uma triagem de soro sanguíneo
para 33 tipos diferentes de PFAS, escolhidos com base em compostos presentes na
bacia adjacente do rio Cape Fear, disseram os autores.
Entre
esses 33 compostos de interesse, os cientistas identificaram 20 PFAS diferentes
nos animais de estimação. Embora todos os animais participantes do estudo
tivessem pelo menos uma dessas substâncias no sangue, mais de 50% dos
indivíduos tinham pelo menos 12 dos 20 tipos de PFAS. Um dos tipos mais
notórios de PFAS, um ingrediente industrial e comercial chamado PFOS (3),
tinha as maiores concentrações no soro de cães, de acordo com o estudo. Os
pesquisadores encontraram o PFHxS, um surfactante usado em certas espumas de
combate a incêndios e produtos de consumo, no sangue dos cães, mas não no dos
cavalos. Outros tipos específicos de PFAS – incluindo o composto conhecido
coloquialmente como GenX – foram identificados apenas no sangue de cães e
cavalos que bebiam água de poços. Nos cães que bebiam água de poços, os níveis
médios de dois tipos de PFAS – PFOS e PFHxS – foram semelhantes aos das
crianças incluídas no Estudo de Exposição ao GenX também realizado por aquela
universidade na bacia do rio Cape Fear. Tais paralelos sugerem que cães de
estimação podem servir como indicadores significativos de PFAS doméstico, concluíram
os autores. Os cães que bebiam água engarrafada, por outro lado, tinham
diferentes tipos de PFAS no sangue e não estavam livres dessas substâncias, conforme
adiantou o estudo.
Na
verdade, os cientistas identificaram 16 dos 20 PFAS em cães que bebiam água
engarrafada. “O facto de algumas das concentrações em
cães serem semelhantes às de crianças reforça o facto de que os cães são
importantes sentinelas domésticas para esses contaminantes”, disse o autor
Scott Belcher, professor associado de biologia na NC State, num comunicado. “E
o facto de que o PFAS ainda está presente em animais que não bebem água dos
poços aponta para outras fontes de contaminação dentro das casas, como poeira
doméstica ou alimentos”, acrescentou Belcher. Em comparação com os cães, os
cavalos em geral tinham concentrações mais baixas de PFAS no sangue, descobriram
os autores. No entanto, estes animais apresentaram níveis mais elevados de uma
substância chamada NBP2, um subproduto da fabricação de fluoroquímicos. Essa
presença elevada de um subproduto da fabricação sugere que a contaminação do
ambiente externo – potencialmente a descarga de PFAS na forragem – pode estar
ligada à sua exposição, de acordo com o estudo. “Os cavalos não foram usados
anteriormente para monitorar a exposição ao PFAS”, disse a primeira autora
Kylie Rock, pesquisadora de pós-doutoramento na NC State, num comunicado. “Mas
eles podem fornecer informações críticas sobre as rotas de exposição do
ambiente externo quando residem nas proximidades de fontes de contaminação conhecidas”,
acrescentou Rock.
As conclusões deste estudo são
reveladoras e ao mesmo tempo preocupantes. Exige-se aqui (em Portugal) uma
pesquisa idêntica em prol da nossa saúde e esclarecimento, para que se possam
tomar atempadamente medidas capazes de garantir uma melhor qualidade de vida para
os portugueses e para os seus animais, pois o revelado na Carolina do Norte não é um produto exclusivo
daquele estado, longe disso!
(1)Produtos químicos eternos (“Forever chemicals”) são substâncias que não se decompõem no meio-ambiente e nos nossos corpos, que são resistentes à água, à gordura e ao calor, presenes numa variedade de produtos do nosso quotidiano, como embalagens de alimentos, roupas, cosméticos, papel e produtos de higiene pessoal. (2) As substâncias per e polifluoroalquil (PFAS) são um grupo de produtos químicos usados para fazer revestimentos e produtos de fluoropolímero que resistem ao calor, óleo, manchas, gordura e água. Os revestimentos em fluoropolímero encontram-se numa variedade de produtos. (3) PFOS é um produto químico sintético e um poluente persistente com efeitos nocivos ao nível do desenvolvimento; da reprodução e do sistema imunológico; também causador de problemas hepáticos e renais.
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