Não
sei qual é a percentagem de cães surdos entre os demais, mas sei que o seu
número nos Estados Unidos oscila entre os 5 e os 10%, muito embora esse número
dependa das raças mais vulgares em cada lugar. É também sabido que a surdez
canina pode ser congénita ou adquirida, pertencendo ao primeiro caso quando a
deficiência se manifesta antes das 6 semanas de vida dos cachorros, muito
embora nasçam surdos. A surdez congénita pode resultar de vários factores como
infecções in útero, administração de medicamentos à fêmea gestante que afectem
o desenvolvimento dos fetos e também factores genéticos, sendo os últimos vulgarmente
considerados “congénitos hereditários”. Já a surdez adquirida está associada a
várias razões ligadas entre outras às otites crónicas, a traumas e à velhice.
Existe nos cães uma relação entre a côr branca e a surdez, como são os casos do
Boxer, do Dálmata e do Dogo Argentino (há mais). Ao longo da minha carreira
como adestrador canino, entre milhares de cães, apenas conheci e reabilitei
meia-dúzia deles, sendo o último um Dogo Argentino.
Como
a sua reabilitação nunca será absoluta, mas sim condicionada, um cão destes irá
necessitar de ser instruído para entender os donos e do acompanhamento de outro
cão normal, chamado de serviço ou de assistência, o qual imitará e seguirá para
todo o lado, alertando-o para a existência de perigos e para a presença de
amigos e inimigos, assim como convidá-lo para os mais diversos desafios e
brincadeiras, cumplicidade que melhorará substancialmente o bem-estar do cão
surdo e a sua inserção na sociedade, tornando-o mais confiante, menos tímido e
apreensivo em relação ao mundo ao seu redor. Quanto mais cedo for detectada a
surdez melhor, porque é importante evitar comportamentos e traumas dela
advindos, normalmente difíceis de ultrapassar. A constatação da surdez de um
cão, pelas razões atrás adiantadas, à compra de outro absolutamente normal, seguro
e alegre. Independentemente de termos um cão surdo ou uma cadela surda, atendendo
ao viver social dos cães e à sua maior autonomia e confiança, o cão de
assistência deverá ser um macho, para que a cadela depressa o siga e o cão
surdo não perca os comportamentos próprios do seu género, que o levam a
explorar e a compreender tudo à sua volta.
O cão surdo deverá ser ensinado individualmente através da linguagem gestual, sempre com os olhos postos no dono, para que não se distraia facilmente e interne no seu próprio mundo. Ensinar um cão destes sem recurso à recompensa será algo sem préstimo, extremamente violento e profundamente maquiavélico (serão os seus impulsos herdados ao alimento e ao movimento a determinar que recompensa usar. Em paralelo, deverá também o cão de assistência ser treinado para que se torne num auxiliar de créditos firmados, capaz de guiar o surdo e de trazê-lo de volta pelos caminhos previamente determinados. Sempre que possível os cães deverão viver no mesmo espaço e dividir o mesmo território, para que se tornem inseparáveis e o surdo se transforme na sombra do outro, o que será óptimo para o seu desenvolvimento físico, para o robustecimento do seu carácter e para o concurso dos obstáculos, porque para onde for um, irá o outro! Correrão, saltarão, nadarão e dormirão juntos – serão o apoio um do outro, completando mutuamente a sua alegria - o que jamais aconteceria sem a acção humana. Se porventura tiver um cão surdo, saiba que podemos ajudá-lo a minorar as suas dificuldades.
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