As
grandes religiões monoteístas nunca conseguiram expurgar totalmente as crenças
animistas das cabeças dos seus devotos e, agora que estão em crise, o animismo
parece superá-las, levando uns quantos a administrar os sacramentos em paralelo
com a bênção de cães, gatos, lagartos e o que mais vier para dentro das suas
igrejas, outrora consideradas chão sagrado e hoje transformadas em feiras de
bênçãos para animais, a propósito de um santo que falava com eles (Francisco de
Assis). A promoção gradual dos animais de estimação a filhos, que teve o seu
início logo após a II Guerra Mundial, está agora a promover a sua divinização e
noutros casos a incluí-los dentro do plano soteriológico. E neste ressurgimento
descarado do animismo, a cinofilia e os cinófilos ocupam um lugar de destaque
enquanto membros enraizados de um submundo de afectos. Se por cá a lisboeta IGREJA DE SANTO ESTEVÃO
foi imortalizado por um fado, a normanda IGREJA
DE SANTA CATARINA, em Honfleur, no departamento gaulês de
Calvados, continuará ser relembrada por benzer ao longo dos anos toda a sorte
de animais de estimação.
Assim
aconteceu mais uma vez passado domingo, dia 09 de outubro, na bonita igreja de
madeira de Sainte Catherine, tradição que já tem 7 anos e que é uma criação
bem-sucedida do padre Pascal Marie, contando a bênção dos animais com a
presença de 200 pessoas, que se deslocaram de Honfleur, Caen, Le Havre e dos
arredores. Desta vez aquela celebração contou com a presença de 2 póneis e a
novidade foi a presença de um pequeno lagarto que se encontrava em hibernação,
propriedade de uma zelosa organista. A estes juntaram-se um sem número de cães,
cães-guia, gatos e até peixes. Curiosamente, aqueles que não puderam levar os
seus animais até à igreja por alguma razão, viram os seus animais abençoados
através de uma fotografia em tamanho real ou de uma constante no telemóvel
(celular) dos seus donos. Os invisuais não foram esquecidos e puderam ler em
Braile um mensagem de São Francisco de Assis (é possível que esta bênção seja
cada vez mais completa ano após ano).
Num
acto nada ortodoxo de profunda comiseração e de rara oportunidade, o bom padre
Pascal Marie convidou também toda a assistência para ser solidária com a dor
dos donos que perderam os seus animais de estimação, enumerando em seguida o
nome dos animais de estimação falecidos durante o ano.
Não sei se o padre estava a tentar arrancar os animais do purgatório para o céu ou se estava a encomendá-los directamente para o seu paraíso, mistérios que só ele saberá explicar e que os seus superiores hierárquicos deverão melhor esclarecer. Até lá, o Padre Pascal Marie, que parece mais velho do que aparenta (nasceu em 1969), continuará a ser uma celebridade muito solicitada pelas suas bênçãos. Será que um dia esta IGREJA DE SANTA CATARINA virá a chamar-se “ÉGLISE DE TOUS LES ANIMAUX”, vindo a celebrar-se ali casamentos de cães e gatos? Impossível não será e parece estarmos muito perto disso, agora que os donos não se casam e não precisam das igrejas para o efeito!
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