Para
valer à dona e socorrer o cão, que há muito conquistou o meu coração,
ofereci-me temporariamente para o instruir, em substituição da sua condutora, à
brocha com muitos afazeres. O Tommy é charmoso, engraçado e tem um ar
despenteado e rebelde que lhe fica bem, a lembrar o James Dean que Deus lá tem.
Não fora eu mal-encarado e ter passado o prazo de validade, o Tommy seria por
demais bajulado pelas ruas e calçadas da cidade. O problema do Tommy é que
intenta rebocar a dona pela trela e ladra a tudo e a todos, inclusive a quem
não deve, como é o caso das crianças. A origem dos problemas deste Schnauzer
está relacionada com a forma de como tem vindo a ser passeado, que desprezando
tanto a sociabilização como a necessária interacção, apenas tem servido para
satisfazer as suas necessidades fisiológicas. Como macho, depois marcar centos
de vezes o seu território, o Tommy ladra para todos os cães que passam como se
de intrusos se tratassem.
Invariável
e erroneamente, os cães com este tipo de comportamento saem à rua ataviados de
um arnês ou colete, que são acessórios próprios para ensinar os cães a puxar (à
falta trenós, acharão por bem rebocar os donos). Há que sociabilizá-lo com
paciência e cuidado valendo-nos da trela para que não agrida ou venha a ser
agredido, o que no primeiro caso poderia transformá-lo num rufia e no último
num ladrador compulsivo e impenitente.
Ontem,
iniciámos os trabalhos de sociabilização do Tommy entre iguais valendo-nos do
jubilado CPA Bohr, pastor com o qual já teve duas picardias, felizmente sem
consequências, sendo uma de sua própria iniciativa. Para que tudo corresse bem,
primeiro houve que fazer sentir ao jubilado que o facto de ser melhor cuidado,
não lhe dá o direito de ser obstinado, o que acontece automaticamente quando o
lobeiro sente a presença do Adestrador. Quanto ao Tommy, basta dar-lhe apoio e
transmitir-lhe confiança para que se sinta à vontade e não enverede pela
insegurança. Há que haver nisto um cuidado especial, o de não subordinar o
Schnauzer em demasia, o que poderia ter como resultado a eliminação da sua autodefesa,
o que num cão do seu tamanho poderia ser-lhe fatal. Na foto abaixo, tal qual
dois comparsas, sobre uma gigantesca cadeira de bronze convertida em estátua,
vemos lado-a-lado o Bohr e o Tommy, sendo impossível não reparar na diferença
de tamanhos.
Certa
vez conheci uma senhora, enfermeira de profissão e da qual ainda guardo o nome,
moradora na Rua dos Soeiros, por detrás do estádio da luz, cujo cão (um Pastor
Alemão lobeiro de nome Egas) lhe espatifou um braço contra uma árvore por se
querer mandar a uns pombos. Desde então, porque nunca me esqueci do incidente, sempre
sociabilizo os cães ao meu encargo com os pombos. E assim também aconteceu com
o Tommy, que confortado pelo Adestrador, cedo se desinteressou por aquelas aves
tornadas insignificantes.
Como
era imperioso dar início à sua sociabilização com crianças, valemo-nos de um
jovem mãe com uma criança endiabrada que se cruzou connosco, mais uma
brasileira (simpática) em Terras Lusas que aqui, como se diz no norte, “já são
mais que as mães”. A presença da jovem mãe facilitou o controlo do cão e a
consequente protecção da criança. Atendendo à justificada e obrigatória
segurança das crianças, jamais iniciaria um trabalho destes entregando o cão a
uma criança isolada. Apesar da menina ter amarinhado pelas pernas da mãe,
diga-se por brincadeira e não por medo do
cão, o Tommy aceitou naturalmente a situação.
Entretanto,
acercou-se de nós uma cigana com 2 filhos pequenos, com uma menina de colo e um
rapazito franzino com os seus 5 anos, leve como um pardal e irrequieto como uma libelinha,
que semi descalço, divertia-se a levantar as tampas de ferro dos escoamentos do
jardim. Depois de conhecer o seu nome e de o testar amiúde, na presença da sua
mãe e com o seu consentimento, passei o Tommy para a sua mão, condicionando o
animal a ficar sentado e a permanecer quieto. Os riscos de agressão do animal
foram reduzidos a zero por conta da acção dos comandos de imobilização, pela
presença próxima do Adestrador e pela fixação do cão na sua pessoa. Apesar do
problema não se encontrar ainda definitivamente resolvido, esta é uma
fotografia que merece um quadro ou uma moldura especial.
Já
aguardada, a CPA Kira chegou, excitada e barulhenta como sempre, deserta de
correr para todos como se há muito não nos visse. Para acalmar os seus ânimos e
refrear tanta agitação, sentámo-la à volta de uma mesa de jardim rodeada pelo
Bohr e pelo Tommy. A foto abaixo reporta esse momento e a cadela parece ter
posado especialmente para ela.
A
Kira tem sido objecto de alguma insistência no “tricomando básico” (alto, senta
e deita) e no comando de “quieto”, parecendo este último comando ser-lhe
contranatura. É sempre bom termos ao nosso dispor um cão jubilado, um auxiliar
que através do seu exemplo nos ajuda a ensinar os cães mais novos ou mais crus
no adestramento. No GIF seguinte vemos a execução pelo Bohr e pela Kira dos
comandos de “junto”, “alto”, “senta”, deita”, “quieto” e “aqui” do Bohr. Como
se pode ver, o Miguel deixou a cadela atravessada por se ter esquecido, no
momento do “deita”, de abrir a mão de condução para o lado esquerdo (para fora),
puxando ao invés o animal para si (temos muito trabalho pela frente).
Com
o Adestrador e o Tommy a observar, no intuito de dar ao Miguel experiência e
mobilidade de mão, a CPA Kira foi convidada para saltar duas sebes consecutivas
de altura superior a 1 metro e distantes entre si de 1,5m. Depois de várias
tentativas frustradas (gaba-se a paciência da cadela), o Miguel lá conseguiu
ultrapassar os obstáculos propostos. No GIF vê-se também que o fotógrafo estava
lá, a sua sombra não engana!
O mariola do Schnauzer também foi convidado para a execução do “tricomando básico”, executando-o de forma irrepreensível, o que levou o Adestrador a suspeitar que a sua dona tem vindo a fazer os trabalhos de casa.
Como é usual, a reportagem fotográfica foi da autoria do Paulo Jorge e a sua edição coube ao Adestrador. Os alunos em falta foram muitos e hoje retomaremos os trabalhos com a mesma paixão e afinco.
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