Voltei
mais depressa a este tema do que esperava, porque me foi solicitado e o assunto
é tão importante como apaixonante. Vou hoje mostrar para os meus leitores um
modelo de aula próprio para cães jubilados, com o objectivo de os manter
activos, saudáveis e integrados socialmente, também arredados das maleitas que
a idade teima em trazer-lhes. O treino de um cão destes deverá começar com uma
caminhada em andamento natural, nunca induzido, para que animal vá a gosto sem
ser rebocado ou contrariado, será ele a marcar o andamento e não o dono, muito
embora caiba ao líder determinar qual a extensão do passeio (de 2 a 3 km).
Durante a caminhada há que incentivar o animal ao contacto com as pessoas e os
animais ao seu redor, para que a sua sociabilização se mantenha e a idade não o
leve a ser pouco paciente, arredio ou irascível (os bons hábitos são para
conservar).
Dentro
deste mesmo princípio é deveras importante que tolere toda a sorte de jogos e
brincadeiras na sua frente, não participando neles sem ser convidado ou
desaparecer sem deixar rasto. Porém, se for convidado a participar, melhor será
para ele e para a sua saúde como um todo, desde que os jogos e brincadeiras não
sejam por demais exaustivos.
Depois
da caminhada que lhe serviu de aquecimento e do convívio social que o animou, o
cão poderá ser convidado para pequenos percursos de ginástica de fácil solução a
partir da condução nuclear, para que o reforço da unidade binomial venha
juntar-se aos benefícios físicos, já que desprezar a interacção binomial é apressar
a morte do animal.
Até
que o cão consiga responder afirmativamente, os comandos básicos de obediência
dever-lhe-ão ser solicitados, preferencialmente quando inseridos em percursos
alegres de ginástica, o que aumenta a atenção e a disponibilidade do animal.
A
menor apetência para os exercícios, já que a ninguém serve um ambiente lúgubre,
deverá ser colmatada com exercícios de pistagem , sendo do cão convidado para
procurar o dono ou o seu brinquedo preferido, tarefas que são do agrado do
animal e amplamente recompensadas.
O abandono de um cão velho num canil e o seu afastamento compulsivo, pela ausência de novidade, condenam o animal à apatia e a letargia, geralmente arautos de algo mau e inevitável que se aproxima a passos largos. Assim, há que manter as rotinas de sempre, levar o cão consigo para todo o lado e dar-lhe toda a atenção necessária, para que não se isole ao invés de preferir a sua companhia (há donos que matam os seus cães aos poucos sem darem por isso!).
E
se temos como objectivo manter o nosso cão jubilado activo e alegre, não
devemos privá-lo da prática e benefícios dos comandos direccionais, exceptuando
aqueles cuja exigência atenta contra o sua disponibilidade e/ou quadro clínico.
No GIF seguinte, agora com a presença da CPA KIRA, vemos o comando direccional
de “à frente” a ser correctamente executado(no comprimento total da trela para
aumentar o raio de protecção do dono).
Juntando
o útil ao agradável, como se costuma dizer, podemos exercitar os comandos de “à
frente” e “atrás” numas escadas, o que faz todo o sentido, desde que os degraus
não sejam muito altos e a inclinação da escada não seja por aí além (de grande
inclinação). Na foto abaixo, na subida das escadas e como convém, vemos os dois
binómios a executar correctamente o comando de “à frente” para auxiliar os seus
donos na subida.
O
comando direccional de “atrás” poderá revelar-se muito útil para segurar os
cães nas escadas, porque induz a alguma contenção e tende a melhorar a atenção
dos cães, o que é óptimo para os jubilados, mais dados à abstracção e a
desequilíbrios. Na foto que se segue, é possível observar o “atrás” efectuado
pelos mesmos binómios.
Tal
como nos sucede a nós, a idade tende a enfraquecer a máquina sensorial dos
cães, particularmente pelo desuso que induz à perca completa. O processo é
irreversível, mas pode e deve ser contrariado de modo a garantir a autonomia
dos cães por mais tempo. Na foto abaixo vemos os condutores a exortar os seus
cães à atenção, a levá-los a detectar algo ou alguém para lá daqueles muros,
exercitando assim o seu faro e audição.
É
altura de falarmos da CPA Kira, que de jubilada não tem nada e que ontem se
juntou ao treino do Bohr. Que foi ontem também convidada para a terapia do
muro, não porque precisasse de exercitar os seus apuradíssimos sentidos, mas
porque carece de maior concentração para atentar para o dono e evoluir no
adestramento.
Assim
como estou perfeitamente convencido que a CPA Kira daria um péssimo cão-guia,
também sei que uma cadela como ela, activa, obstinada, desafiadora, incansável
e poderosa, aceitará com maior facilidade um líder de igual tempera, que seja
voluntarioso, valente e resiliente, capaz de a acompanhar e comandar em
qualquer circunstância. Como a valentia do Miguel nunca foi posta à prova, é
franzino e por demais inibido, importa dotá-lo das características necessárias
para poder conduzir eficazmente a sua cadela, dando-lhe a impressão de ser
omnipotente omnipresente (acertou quem disse que o deus do cão é o seu dono,
muito embora a coisa pie hoje diferente, já que para muitos homens o cão é o
seu deus!). Para levar a cadela a confiar no Miguel e não nos seus instintos,
ambos foram convidados a saltar uma pequena sebe.
Mais
convencida do real valor do seu condutor e dono, a Kira esmerou-se no segundo
salto de sebe e o Miguel mostrou estar preparado para saltar este mundo e outro,
Diante deste desempenho só me resta agradecer a disponibilidade de ambos.
E assim se passou mais uma tarde de treino, desta vez com 3 horas de duração, com a primeira parte dedicada a um cão jubilado e a segunda apostada em aproveitar todas as potencialidades de uma cadela jovem e promissora. Atendendo à sua idade e à cadela que tem, se não for bem-sucedido, o Miguel só poderá queixar-se de si próprio.
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