Por
alguns tablóides britânicos tomei conhecimento da existência de um adestrador
canino inglês, Jacob Michael Morgan de seu nome (na foto acima), um cavalheiro
que em dezembro deste ano completará a bonita idade de 29 anos e que fundou a YORKSHIRE CANINE ACADEMY,
onde é formador, para além de ser proprietário de um Pastor Belga Malinois, ter
5 cinco cães e já treinado mais de 2.500. Este camarada parece não ter papas na
língua e muito menos dúvidas ao afirmar que o Pastor Belga Malinois poderá vir
a ser a próxima raça a ser considerada perigosa no Reino Unido, juntando-se
assim ao Pit Bull Terrier, ao Tosa Japonês, ao Dogo Argentino e ao Fila
Brasileiro. Como conhecedor de cães acho esta lista por demais política e profusamente
chauvinista, pressupostos suficientes para indexar o Malinois à lista negra a
despeito da sua possível perigosidade.
Morgan
teme que esta raça em particular possa ficar ansiosa e acaba por atacar os seus
donos se não for tratada correctamente, pelo que entende não ser o Malinois um
cão para todos, completando este raciocínio ao dizer:” Esta
semana vi cinco cães belgas Malinois para seres realojados no Facebook. Isto é
assustador, pois mostra que as pessoas estão a comprar esta raça de cães e não conseguem
cuidar deles” e “O meu cachorro Malinois, Stark, tem 15 semanas e estou com ele
a maior parte do dia enquanto treino os cães de nossos clientes. Mas também
tenho membros da equipa que também podem garantir que o Stark esteja a ser
estimulado, dando-lhe uma actividade para fazer a cada hora. Mesmo como
treinador de cães, se fosse apenas eu que cuidasse do Stark, não seria nada fácil.”
Segundo um jornal diário britânico “esta raça tem um forte instinto de presa,
sem treino e sociabilização adequados, tende a perseguir pequenos animais,
veículos e até crianças.”
O
fundador da YORKSHIRE
CANINE ACADEMY parece não re dúvidas ao afirmar: “Posso
afirmar com confiança que o Pastor Belga Malinois não é um animal de estimação
próprio para a família, especialmente se você tem um trabalho a tempo integral,
o que o impedirá de ter o tempo necessário para esta raça. São precisas
milhares de horas de treino para fazer de um Malinois belga um 'cão normal' e muitos
estão a ser criados para terem uma 'ponta nervosa', o que está a ser confundido
com uma vontade inata de proteger.” À guisa de explicação, para além doutras
explicações. Morgan disse ainda: “Esta raça (Malinois) tem fortes instintos de
pastoreio e guarda, e a sua genética fá-la necessitar de perseguir e morder
coisas.” Puxando a brasa à sua sardinha, sentenciou: “Se um dono não está a
fornecer uma saída conforme o treino mostrado no nosso vídeo, estes cães podem
ficar ansiosos e atacar os seus donos.”
Depois
de meditar demoradamente sobre estes pareceres, uma dúvida e uma certeza
parecem-me óbvias, uma vez que não entendo para que foi buscar um Malinois e
não acredito que venha a ser criador desta raça, a menos que procure
protagonismo – ser o super-homem – e ter cães ferozes para guardar as mansões
de gente VIP, animais geralmente vendidos a alto preço e que são hoje muito
procurados pelos futebolistas famosos na Grã-Bretanha face à onda de assaltos
que por lá grassa.
A
idade e a experiência ensinaram-me a não ser tão peremptório como Jacob Morgan,
apesar de concordar com ele na generalidade das suas considerações,
nomeadamente no facto da raça não ser própria para todos, considerando o seu
nervo, propensão e carga instintiva, que invariavelmente obstam ao cumprimento
pronto e imediato da cessação das acções depois de despoletadas, o que
geralmente resulta em graves consequências, consequências melhor suportadas
pelos bons ofícios de quem tem como missão manter a ordem pública e a defesa da
Nação. Como estamos a tratar de indivíduos e da dedicação dos seus donos, apraz-me
dizer que há Malinois extraordinariamente dóceis, excelentes pisteiros e de uma
sociabilização exemplar. Contudo, não são estes a regra, mas sim a sua
excepção.
O Malinois é neste momento o melhor cão policial e militar do presente, tem ainda uma considerável margem de progressão e todos os dias lhe descobrem novas qualidades e aptidões. Para vir a ser melhor precisa de ser menos instável e instintivo; mais seguro e focado no dono, porque doutro modo os prejuízos que eventualmente causará serão maiores do que os seus benefícios. Como é um cão de guerra por excelência, deverá viver perto das casernas de soldados e polícias, porque estará ali melhor do que a dormir aos pés da nossa cama, que não queremos ser justiceiros, buscar ocasião para vingança ou ter alguma guerra à porta. Morgan não disse mentira nenhuma, muito embora se ignorem os seus propósitos, apesar de serem de alguma forma previsíveis.
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