terça-feira, 14 de junho de 2022

AS CONVICÇÕES DE JACOB MORGAN E AS MINHAS

 

Por alguns tablóides britânicos tomei conhecimento da existência de um adestrador canino inglês, Jacob Michael Morgan de seu nome (na foto acima), um cavalheiro que em dezembro deste ano completará a bonita idade de 29 anos e que fundou a YORKSHIRE CANINE ACADEMY, onde é formador, para além de ser proprietário de um Pastor Belga Malinois, ter 5 cinco cães e já treinado mais de 2.500. Este camarada parece não ter papas na língua e muito menos dúvidas ao afirmar que o Pastor Belga Malinois poderá vir a ser a próxima raça a ser considerada perigosa no Reino Unido, juntando-se assim ao Pit Bull Terrier, ao Tosa Japonês, ao Dogo Argentino e ao Fila Brasileiro. Como conhecedor de cães acho esta lista por demais política e profusamente chauvinista, pressupostos suficientes para indexar o Malinois à lista negra a despeito da sua possível perigosidade.

Morgan teme que esta raça em particular possa ficar ansiosa e acaba por atacar os seus donos se não for tratada correctamente, pelo que entende não ser o Malinois um cão para todos, completando este raciocínio ao dizer:” Esta semana vi cinco cães belgas Malinois para seres realojados no Facebook. Isto é assustador, pois mostra que as pessoas estão a comprar esta raça de cães e não conseguem cuidar deles” e “O meu cachorro Malinois, Stark, tem 15 semanas e estou com ele a maior parte do dia enquanto treino os cães de nossos clientes. Mas também tenho membros da equipa que também podem garantir que o Stark esteja a ser estimulado, dando-lhe uma actividade para fazer a cada hora. Mesmo como treinador de cães, se fosse apenas eu que cuidasse do Stark, não seria nada fácil.” Segundo um jornal diário britânico “esta raça tem um forte instinto de presa, sem treino e sociabilização adequados, tende a perseguir pequenos animais, veículos e até crianças.”

O fundador da YORKSHIRE CANINE ACADEMY parece não re dúvidas ao afirmar: “Posso afirmar com confiança que o Pastor Belga Malinois não é um animal de estimação próprio para a família, especialmente se você tem um trabalho a tempo integral, o que o impedirá de ter o tempo necessário para esta raça. São precisas milhares de horas de treino para fazer de um Malinois belga um 'cão normal' e muitos estão a ser criados para terem uma 'ponta nervosa', o que está a ser confundido com uma vontade inata de proteger.” À guisa de explicação, para além doutras explicações. Morgan disse ainda: “Esta raça (Malinois) tem fortes instintos de pastoreio e guarda, e a sua genética fá-la necessitar de perseguir e morder coisas.” Puxando a brasa à sua sardinha, sentenciou: “Se um dono não está a fornecer uma saída conforme o treino mostrado no nosso vídeo, estes cães podem ficar ansiosos e atacar os seus donos.”

Depois de meditar demoradamente sobre estes pareceres, uma dúvida e uma certeza parecem-me óbvias, uma vez que não entendo para que foi buscar um Malinois e não acredito que venha a ser criador desta raça, a menos que procure protagonismo – ser o super-homem – e ter cães ferozes para guardar as mansões de gente VIP, animais geralmente vendidos a alto preço e que são hoje muito procurados pelos futebolistas famosos na Grã-Bretanha face à onda de assaltos que por lá grassa.

A idade e a experiência ensinaram-me a não ser tão peremptório como Jacob Morgan, apesar de concordar com ele na generalidade das suas considerações, nomeadamente no facto da raça não ser própria para todos, considerando o seu nervo, propensão e carga instintiva, que invariavelmente obstam ao cumprimento pronto e imediato da cessação das acções depois de despoletadas, o que geralmente resulta em graves consequências, consequências melhor suportadas pelos bons ofícios de quem tem como missão manter a ordem pública e a defesa da Nação. Como estamos a tratar de indivíduos e da dedicação dos seus donos, apraz-me dizer que há Malinois extraordinariamente dóceis, excelentes pisteiros e de uma sociabilização exemplar. Contudo, não são estes a regra, mas sim a sua excepção.

O Malinois é neste momento o melhor cão policial e militar do presente, tem ainda uma considerável margem de progressão e todos os dias lhe descobrem novas qualidades e aptidões. Para vir a ser melhor precisa de ser menos instável e instintivo; mais seguro e focado no dono, porque doutro modo os prejuízos que eventualmente causará serão maiores do que os seus benefícios. Como é um cão de guerra por excelência, deverá viver perto das casernas de soldados e polícias, porque estará ali melhor do que a dormir aos pés da nossa cama, que não queremos ser justiceiros, buscar ocasião para vingança ou ter alguma guerra à porta. Morgan não disse mentira nenhuma, muito embora se ignorem os seus propósitos, apesar de serem de alguma forma previsíveis.   

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