A
cinetose (enjoo do movimento) tanto pode ocorrer em humanos como em animais,
sendo uma indisposição que combina elementos de desorientação espacial, náuseas
e vómitos, acontecendo com frequência nas crianças e nos cachorros mais
sensíveis e atentos aos movimentos ao seu redor, como uma resposta fisiológica
exagerada frente aos estímulos do movimento. Também nos cachorros existe uma predisposição
hereditária para o fenómeno (não absoluta), que muitos tentam resolver por via
medicamentosa e que nem sempre são bem-sucedidos. A cinetose, que não chega a
ser uma doença, tende a ser ultrapassada com o crescimento dos cães, mormente
após alcançarem a maturidade sexual, que acontece em diferentes momentos de
acordo com as díspares curvas de crescimento de cada cão e raça. Sem querer
usurpar competências a ninguém ou adiantar qualquer novidade terapêutica para a
qual não estou habilitado, passo a adiantar alguns procedimentos que a prática
e a razão me descortinaram para a resolução deste problema.
Situemo-nos
num caso concreto, o de um cachorro de 4 meses que segundo o método da
precocidade vai iniciar o seu treino e que no caminho para a escola sempre
acaba por vomitar no carro, chegando ali lastimavelmente nauseado e babado, viagem
após viagem e debaixo da actual onda de calor que se faz sentir, correndo o
risco de desidratação e de justificadamente ganhar aversão ao treino, face ao “caminho
das pedras” que é obrigado a ultrapassar para chegar ao seu local e ensino.
Atendendo à sua raça (CPA) e ao particular da sua curva de crescimento (norteada
para o trabalho), naturalmente atingirá a maturidade sexual logo após os 6 meses
de idade, ocasião em que a cinetose tenderá a deixar de importuná-lo. Será
recomendável deixá-lo padecer até lá, uma vez que a indisposição terá uma
duração de dois meses apenas? Obviamente que não, porque não estamos cá para
fazer sofrer os cães, o tempo dos “botas-de-elástico” já passou e o Kaiser
Wilhelm II já não está á frente de nenhum exército! Liberto do passado e ciente
das suas lições, vou adiantar de seguida um conjunto de procedimentos, entre
nós válidos, para a solução desta indisposição constituída em problema.
Convém
lembrar que aos 4 meses de idade, “idade da cópia nos cachorros”, altura em que
seguem e copiam os cães adultos, e que na sua inexistência substituem-nos pelos
donos, os cachorros não aprendem só na escola, mas também no lar e que as tanto
as lições domésticas como a sua inexistência irão determinar inicialmente o bom
ou mau aproveitamento escolar de um cachorro. Dito isto importa primeiro
familiarizar o cachorro com a viatura que o irá transportar, para que a conheça
e diminua com isso a sua estranheza. Esta primeira abordagem deverá ser feita
com o carro parado e dentro do território do cachorro, que deverá entrar, permanecer
e sair dele a convite do dono, que será seu parceiro e partilhará com ele essas
mesmas tarefas, ao ponto do animal considerar a viatura como sua e do seu dono.
Vencida esta primeira, passemos para a segunda, que consistirá em repetir os
mesmos procedimentos com o carro parado, mas agora com o seu motor ligado.
Depois disto (bem sei que a gasolina e o
gasóleo estão caros), é altura sair com o animal dentro do carro, tendo o
cuidado de falar com ele e acalmá-lo, num pequeno percurso à volta do seu lar,
diariamente ou tri-semanalmente. É de todo conveniente, primordial, terminar o
trajecto antes da indisposição do animal, pelo que será ele, pela sua resposta
afirmativa, a determinar quando e em quanto deverão estes trajectos ser aumentados.
Se este trabalho for meticulosamente observado, é natural que o problema seja
resolvido em 2 semanas ou talvez menos. O transporte do animal deverá acontecer
depois dele acordar de um momento descontraído de sono e antes da ingestão
excessiva de alimentos. Alguém dirá com alguma razão: que trabalheira! Sem
dúvida, mas um coisa fica por explicar: se não tem tempo para cães para que o
desperdiçou a procurar um? Foi ao engano? Por mais cruel que vos pareça ser, a
verdade é esta – os cães não são para quem quer, mas sim para quem pode!
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