Treinar
cães é em muitos aspectos recriar-lhes ou alterar-lhes o passado para que
tenham um presente promissor e um futuro radiante, ao dotá-los das experiências
que não tiveram e das interacções que ficaram por realizar. Este voltar atrás
para andar para a frente irá transmitir-lhes maior segurança perante os
desafios que terão de enfrentar, tornando-os mais audaciosos e menos receosos
ao contrapor a alegria ao pânico mercê das experiências felizes alcançadas. E
foi isso que andámos ontem a fazer com o pequeno Tommy, pequeno só no tamanho e
grande, muito grande no seu desempenho. Naturalmente, logo desde cachorros, os
cães correm para os seus donos, acções que mais tarde poderão abandonar face ao
incómodo e à reprovação dos seus donos, na sua maioria gente sem tempo para
eles (mais tarde virão a queixar-se que os animais não vêm quando os chamam e
que se estão a borrifar para eles). No GIF vemos a execução pronta, alegre e
enternecedora do comando de “aqui” pelo Tommy, momentos depois de ter executado
o “junto” sem o auxílio das mãos da dona e condutora (foto abaixo).
Os
avanços no ensino canino, quer se queira ou não, sempre estarão ligados à
compreensão que temos dos animais e à consequente capacidade de nos fazermos
entender por eles. Este mútuo entendimento irá exigir dos donos, paciência,
observação e estudo, que deverão ainda subsidiar o conhecimento empírico com o
erudito para que os reveses não venham a falar mais alto do que os progressos.
Assim, o treino só pula e avança pela melhoria da comunicação interespécies que
é uma das mais importantes metas, se não a maior, do adestramento. Dito isto,
conclui-se que no adestramento estamos ensinar em simultâneo donos e cães,
sendo invariavelmente mais fácil ensinar os últimos por oferecerem menos
resistência. Desde pequeno que foi muito fácil fazer o Tommy entrar para o
carro, já que um cão miniatura parece próprio para carregar ao colo. A continuação
deste procedimento irá privar o cão de aprender a saltar e a sentir-se pouco
confortável em acções deste género, obrigando assim os seus donos a carregá-lo
para o carro, apesar de não lhe ser muito cómodo e do salto estar ao seu
alcance. Como se pode ver no GIF seguinte, ontem ensinámos o Tommy a saltar
para o carro e o pequeno Schnauzer fê-lo como se sempre o houvesse feito.
Em
termos de adaptação, a transição do lar para a rua não é automática, podendo alguns
cães por estranheza, novidade e incómodo apresentar alterações de
comportamento, o que sempre estará ligado à sua maior ou menor permanência na
rua, pelo que importa que se sintam cómodos tanto dentro do lar como fora dele.
Mais, que a obediência alcançada em casa seja mesma no exterior, onde tudo é
mais difícil e as distracções são mais do que muitas. Apostados neste
objectivo, pedimos ao Tommy que permanecesse quieto e sentado sobre uma
trotineta em descanso, com a sua dona afastada vários metros e debaixo da
supervisão do Adestrador. O valente Schnauzer “não tugiu nem mugiu”,
mantendo-se atento e seguro no lugar que lhe foi determinado, apesar das poucas
lições de que tem sido alvo. Outros bem maiores têm feito piores figuras do que
ele, alguns tidos como valentes e próprios para guarda!
Contrariamente
ao que é tido como certo, os cães têm poucos instintos e não os seguem
cegamente, podendo prescindir deles para agradar aos seus donos, o que acontece
amiudadas vezes. Os donos, enquanto humanos, parecem ter menos instintos e ser pouquíssimo
arreigados aos que ainda lhes restam, por fazerem uso da razão, terem maior
consciência de si próprios e dos seus actos, o que não impede que enveredem por
actos meramente mecânicos por força de hábitos quotidianos. A excessiva
mecanização das nossas vidas é um profundo handicap consentido e está para nós
como as vãs repetições estão para os cães, por produzirem saturação, cansaço e
desinteresse, condições que obstam ao livre desprendimento que induz ao desenvolvimento
intelectual, à novidade de outras compreensões e ao aumento consequente da
disponibilidade. Também nas pessoas, e não só nos cães, somos obrigados a
combater as mais associações que levam ao logro, atitudes instintivas que se
apossam dos indivíduos sem que eles dêem por isso e que causam sérios entraves
à aprendizagem dos cães. Apostados nesta correcção, pedimos à Ana Paula que
fizesse com as mãos à nuca duas transposições com o Tommy, uma vez
que apresentava dificuldades de coordenação entre a ordem e a acção, o que mais
uma vez comprovou a qualidade do pequeno cão.
No
meio disto tudo, o CPA Bohr fazia também parte da classe e por lá andava,
cumprindo os mesmos objectivos propostos para o Tommy, porque só a
recapitulação mantém a pronta execução dos comandos que ciclicamente precisam
de ser avivados, reciclados e ver aumentada a sua abrangência. O lobeiro foi
convidado para melhorar o “junto”, porque tendencialmente adianta-se e tende a afastar-se
50cm da perna esquerda do dono na execução da figura.
A
pretexto de tirar uma foto ao Bohr tendo como fundo uma pintura mural alusiva a
uma raposa, convidámo-lo a ultrapassar um muro de 1,8 m, a fazer o “à frente” continuado
em liberdade, a sentar-se e a permanecer na frente da vulpina decorativa, o que
aconteceu sem maiores dificuldades conforme atesta a foto seguinte.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Ana Paula/Tommy e Paulo/Bohr. A montagem fotográfica coube ao Adestrador e ao Paulo, a montagem ao último e a sua edição ao primeiro. A chuva chegou de mansinho, mas não incomodou; o Plano de Aula foi cumprido e nada mais há a declarar que seja digno de registo.
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