quinta-feira, 16 de junho de 2022

RETROCEDER PARA AVANÇAR

 

Treinar cães é em muitos aspectos recriar-lhes ou alterar-lhes o passado para que tenham um presente promissor e um futuro radiante, ao dotá-los das experiências que não tiveram e das interacções que ficaram por realizar. Este voltar atrás para andar para a frente irá transmitir-lhes maior segurança perante os desafios que terão de enfrentar, tornando-os mais audaciosos e menos receosos ao contrapor a alegria ao pânico mercê das experiências felizes alcançadas. E foi isso que andámos ontem a fazer com o pequeno Tommy, pequeno só no tamanho e grande, muito grande no seu desempenho. Naturalmente, logo desde cachorros, os cães correm para os seus donos, acções que mais tarde poderão abandonar face ao incómodo e à reprovação dos seus donos, na sua maioria gente sem tempo para eles (mais tarde virão a queixar-se que os animais não vêm quando os chamam e que se estão a borrifar para eles). No GIF vemos a execução pronta, alegre e enternecedora do comando de “aqui” pelo Tommy, momentos depois de ter executado o “junto” sem o auxílio das mãos da dona e condutora (foto abaixo).

Os avanços no ensino canino, quer se queira ou não, sempre estarão ligados à compreensão que temos dos animais e à consequente capacidade de nos fazermos entender por eles. Este mútuo entendimento irá exigir dos donos, paciência, observação e estudo, que deverão ainda subsidiar o conhecimento empírico com o erudito para que os reveses não venham a falar mais alto do que os progressos. Assim, o treino só pula e avança pela melhoria da comunicação interespécies que é uma das mais importantes metas, se não a maior, do adestramento. Dito isto, conclui-se que no adestramento estamos ensinar em simultâneo donos e cães, sendo invariavelmente mais fácil ensinar os últimos por oferecerem menos resistência. Desde pequeno que foi muito fácil fazer o Tommy entrar para o carro, já que um cão miniatura parece próprio para carregar ao colo. A continuação deste procedimento irá privar o cão de aprender a saltar e a sentir-se pouco confortável em acções deste género, obrigando assim os seus donos a carregá-lo para o carro, apesar de não lhe ser muito cómodo e do salto estar ao seu alcance. Como se pode ver no GIF seguinte, ontem ensinámos o Tommy a saltar para o carro e o pequeno Schnauzer fê-lo como se sempre o houvesse feito.

Em termos de adaptação, a transição do lar para a rua não é automática, podendo alguns cães por estranheza, novidade e incómodo apresentar alterações de comportamento, o que sempre estará ligado à sua maior ou menor permanência na rua, pelo que importa que se sintam cómodos tanto dentro do lar como fora dele. Mais, que a obediência alcançada em casa seja mesma no exterior, onde tudo é mais difícil e as distracções são mais do que muitas. Apostados neste objectivo, pedimos ao Tommy que permanecesse quieto e sentado sobre uma trotineta em descanso, com a sua dona afastada vários metros e debaixo da supervisão do Adestrador. O valente Schnauzer “não tugiu nem mugiu”, mantendo-se atento e seguro no lugar que lhe foi determinado, apesar das poucas lições de que tem sido alvo. Outros bem maiores têm feito piores figuras do que ele, alguns tidos como valentes e próprios para guarda!

Contrariamente ao que é tido como certo, os cães têm poucos instintos e não os seguem cegamente, podendo prescindir deles para agradar aos seus donos, o que acontece amiudadas vezes. Os donos, enquanto humanos, parecem ter menos instintos e ser pouquíssimo arreigados aos que ainda lhes restam, por fazerem uso da razão, terem maior consciência de si próprios e dos seus actos, o que não impede que enveredem por actos meramente mecânicos por força de hábitos quotidianos. A excessiva mecanização das nossas vidas é um profundo handicap consentido e está para nós como as vãs repetições estão para os cães, por produzirem saturação, cansaço e desinteresse, condições que obstam ao livre desprendimento que induz ao desenvolvimento intelectual, à novidade de outras compreensões e ao aumento consequente da disponibilidade. Também nas pessoas, e não só nos cães, somos obrigados a combater as mais associações que levam ao logro, atitudes instintivas que se apossam dos indivíduos sem que eles dêem por isso e que causam sérios entraves à aprendizagem dos cães. Apostados nesta correcção, pedimos à Ana Paula que fizesse com as mãos à nuca  duas transposições com o Tommy, uma vez que apresentava dificuldades de coordenação entre a ordem e a acção, o que mais uma vez comprovou a qualidade do pequeno cão.

No meio disto tudo, o CPA Bohr fazia também parte da classe e por lá andava, cumprindo os mesmos objectivos propostos para o Tommy, porque só a recapitulação mantém a pronta execução dos comandos que ciclicamente precisam de ser avivados, reciclados e ver aumentada a sua abrangência. O lobeiro foi convidado para melhorar o “junto”, porque tendencialmente adianta-se e tende a afastar-se 50cm da perna esquerda do dono na execução da figura.

A pretexto de tirar uma foto ao Bohr tendo como fundo uma pintura mural alusiva a uma raposa, convidámo-lo a ultrapassar um muro de 1,8 m, a fazer o “à frente” continuado em liberdade, a sentar-se e a permanecer na frente da vulpina decorativa, o que aconteceu sem maiores dificuldades conforme atesta a foto seguinte.

Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Ana Paula/Tommy e Paulo/Bohr. A montagem fotográfica coube ao Adestrador e ao Paulo, a montagem ao último e a sua edição ao primeiro. A chuva chegou de mansinho, mas não incomodou; o Plano de Aula foi cumprido e nada mais há a declarar que seja digno de registo.

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