Quando
um cão perde um cão amigo do seu ambiente, o seu comportamento tende a
alterar-se: come
menos e dorme mais, brinca menos e ladra mais, é menos activo e mais
ansioso , como se estivesse enlutado e chorasse a perca do cão amigo,
conclusão a que parece ter chegado um estudo recente publicado na revista “Nature”
e realizado através de um questionário online sobre cães de luto. A folha foi
preenchida por 426 donos de cães italianos que possuíam dois cães e que um deles
tinha morrido. O objectivo era descobrir como a perca de um cão de companhia
afecta o comportamento do outro. As informações fornecidas pelos donos dos cães
indicaram que um cão muitas vezes pode mostrar um comportamento relacionado com
o luto e com os respectivos padrões emocionais quando morre um coespecífico que
lhe é próximo. Dois terços dos proprietários relataram que os cães sobreviventes
precisaram mais de atenção e mais da metade afirmou que os seus cães ficaram
menos activos. Cerca de um terço dos cães dormiu mais, latiu, rosnou ou gemeu
com maior frequência, comeu menos e cerca de um terço também ficou mais ansioso
do que antes da morte de seus coespecíficos. Num quarto dos animais, a mudança de
comportamento durou mais de 6 meses e apenas 13% dos donos de cães não observou
qualquer mudança no comportamento nos seus animais.
Segundo as conclusões do citado estudo, o tipo de relacionamento entre os cães também influencia nas mudanças comportamentais que os cães apresentam, por exemplo, se eram mais parentais ou mais amigáveis. No entanto, a quantidade de tempo que os animais passaram juntos não demonstrou um efeito significativo. Também se verificou ser irrelevante se os cães tinham visto o cadáver do cão amigo ou não. Não se pode descartar a hipótese dos donos dos cães italianos terem projectado sua própria dor pela perda de seu animal de estimação nos outros cães. Contudo, os resultados não mostraram dependência do nível de apego entre os donos e seus cães ou se os primeiros humanizaram os seus animais de estimação.
"Os
cães podem ficar muito angustiados quando um deles morre". No entanto, as
emoções humanas também podem desempenhar um papel: os casos em que os
tratadores relataram maior angústia, raiva e trauma psicológico em reacção à
morte podem ser explicados pelo aumento dos níveis de medo e redução da
ingestão de alimentos nos cães sobreviventes. “Isso significa que pode ter
havido alguma forma de contágio emocional ou transmissão social de medo que é
comum em espécies sociais como parte de uma estratégia de enfrentamento
adaptativa para circunstâncias potencialmente perigosas”, disse Federica
Pirrone, da Universidade de Milão, uma das autoras do estudo.
Os pesquisadores enfatizaram que não ficou claro se os resultados obtidos podem realmente ser descritos como luto. No entanto, eles podem indicar uma questão de bem-estar negligenciado. “Os cães são animais altamente emocionais que formam laços muito próximos com membros de seu grupo familiar. Isso significa que se um deles morrer, eles podem ficar muito angustiados, pelo que devem ser feitos esforços para ajudá-los a lidar com esse desespero”, concluiu Pirrone. É sabido que o homem não é o único ser capaz de expressar algum tipo de luto: macacos , golfinhos, elefantes e pássaros estão entre as espécies observadas participando de rituais que cercam a morte e parecem estar de luto. Pelo presente estudo não se pôde saber se os cães reagiram somente à perca dos cães amigos ou realmente à sua morte. Convém não esquecer que os cães “falaram” por interposta pessoa – os seus donos.
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