segunda-feira, 20 de julho de 2020

NÓS POR CÁ: IR AO CABO ESPICHEL E VIR DE LÁ AMARGO QUE NEM FEL

Se calhar deveria estar a comentar o ocorrido com o fogo em Santo Tirso no sábado passado, onde grande número de cães morreu queimado e outros foram resgatados, mas como o aproveitamento político da situação já está a acontecer e as notícias são pouco exactas, por vezes até contraditórias, aguardo para mais tarde os meus comentários sobre o assunto, passando de sábado para domingo. Este domingo, depois de almoçar fui até ao Cabo Espichel, coisa que já não fazia há 20 anos, quando andei por lá a gravar umas cenas para uma série de ficção. Para espanto meu, a degradação do local continua, aquele património histórico parece esquecido e abandonado, muito mais antigo do que é, como se remontasse aos primórdios do Império Inca em termos de conservação. Portugal tem no Cabo Espichel mais um excelente local histórico para o turismo selvagem, errante e abandalhado, apesar do grande significado histórico-religioso daquele conjunto arquitectónico, que nunca é demais relembrar, analisar, compreender e transmitir.
Ao chegarmos ao local, na frente das hospedarias que se encontram do nosso lado esquerdo, anteriores à Igreja de Nossa Senhora do Cabo, deparamo-nos com um rústico café-esplanada em tudo idêntico a outros que proliferam nas praias mexicanas de 2ª classe, diferindo deles por não se verem “sombreiros” e não se vender ali “tamales”, “tacos”, “mezcal” ou “tequila”. A localização do café, que até faz falta, tanto para refrescar os visitantes como para fixá-los, deveria passar para trás da igreja e ficar virado para o mar, usufruindo assim dos benefícios da paradisíaca paisagem adjacente, o que seria bom para todos, inclusive para o seu proprietário. Mas o pior de tudo é o piso ao redor do Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mua, que em alguns locais, de tão mau e cru que é, sendo mais propício ao trânsito de cabras montesas, traz à memória os duros castigos auto-infligidos pelos monges de outrora. E como se isto não bastasse, as portas e janelas das hospedarias encontram-se agora chapadas a cimento! Estou convencido que se este Santuário fosse confiado a uma entidade privada para exploração, teria melhor apresentação e estaria melhor conservado, sem contudo ofender ou chocar a religiosidade dos nossos egrégios avós. E se nada for feito para reedificar este património que é de todos os portugueses, o obituário deste Santuário ficará para sempre lavrado nas pedras da sua derrocada, o que será mais uma vergonha para todos nós.

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