O
título deste texto lança-nos para a Pista Táctica, para um conjunto de simulacros
operacionais normalmente acomodados num perímetro entre 1.600 e 2.500m2, com um
ou mais pisos, que visam reproduzir os desafios que os binómios encontrarão diariamente
no exterior, quer os cães sejam de terapia, serviço, desporto ou companhia. Na
pista táctica irá acontecer a constituição binomial, primeiro à trela e depois
em liberdade. Nela os cães aprenderão a responder afirmativamente aos donos, a
vencer os seus medos naturais e a ultrapassar toda a sorte de obstáculos,
naturais ou artificiais, quando colocados à sua frente, o que naturalmente
optimizará a sua capacidade de resolução.
Nesta
mesma pista, se for esse o caso, os cães aprenderão a defender os seus donos e
a escorraçar invasores, a sociabilizar-se entre si e a trabalhar conjuntamente pela
aceitação e constituição da matilha escolar heterogénea. Aprenderão também
subsídios de evasão para escaparem aos seus raptores e todos os inerentes à sua
salvaguarda e sobrevivência, assim como os necessários para valer, salvar ou
resgatar os seus proprietários. Mercê do rigor do treino, para além de
atingirem altíssimos índices de prontidão, os cães sairão da Pista Táctica mais
céleres e resistentes, mais fortes, rústicos e combativos – a respirar saúde -
com uma excelente musculatura e com os ritmos vitais próprios para o seu
bem-estar e função. E mais do que isto – constituídos em verdadeiras sombras
dos donos.
Tal
pássaro que sai do ninho quando chegada a hora, virá também o dia em que todos
os binómios aprovados sairão dos limites da Pista Táctica para o mundo, para
espaços infindos, aparentemente sem limite, por onde espraiarão o seu valor,
ajuda e mais-valias. Sim, a Pista Táctica não é um fim em si mesma, mas o início
de uma grande aventura vivida e dividida entre cães e homens. Como primeira
meta ou etapa pedagógica da vida os cães, ela não deverá ser muito demorada já
que irá marcá-los definitivamente para o melhor e para o pior, carecendo por
isso de vida e novidade, de oferecer experiências variadas e ricas.
Erram
do ponto de vista pedagógico, voluntária ou involuntariamente, aqueles que
sujeitam os seus alunos a repetitivos planos de aula, que facilmente levam os
condutores à fadiga e os cães à exaustão, como se cada binómio fosse uma
parelha de burros a tirar água ao redor de uma nora. Opções destas,
eventualmente válidas do ponto de vista económico para quem recebe, outra coisa
não são do que um atentado à inteligência de quem aceita a canga e a maneira
mais eficaz de desinteressar cães pelo trabalho, uma vez que não procuramos
autómatos, mas animais capazes de ser autonómicos nas suas tarefas.
Seria
bom não esquecer que todos chegamos com os nossos cães às escolas caninas com
expectativas próprias, querendo somente ser iguais a nós mesmos, preencher
parte das nossas carências afectivas, vivenciar novas emoções e procurar
momentos felizes de evasão na companhia do nosso cão. Quando tudo isto nos
roubam, o melhor que há a fazer é virar as costas a uma escola assim, por mais
excelente que seja a sua Pista Táctica, porque quem nos robe a alegria já nós
temos em demasia – sem a liberdade individual de cada condutor, que potencia o
particular do seu cão e estabelece a diferença, o adestramento sempre será
substancialmente mais pobre. Cabe aos
adestradores massificar os sonhos de todos os seus condutores sem atropelar o
bem-estar dos cães, compreender aquilo que os distingue e projectá-los para
onde querem chegar, subtraindo-lhes somente o que cause entrave aos cães.
Hoje
estamos na Pista Táctica, amanhã seremos livres como nunca e não partiremos sós
– o nosso cão irá connosco! Agarramos o trabalho de hoje na certeza do amanhã e
debaixo deste espírito jamais sairemos derrotados, até porque há sempre um
Adestrador a olhar por nós!
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