terça-feira, 7 de julho de 2020

DE LIMITADOS A SEM LIMITES

O título deste texto lança-nos para a Pista Táctica, para um conjunto de simulacros operacionais normalmente acomodados num perímetro entre 1.600 e 2.500m2, com um ou mais pisos, que visam reproduzir os desafios que os binómios encontrarão diariamente no exterior, quer os cães sejam de terapia, serviço, desporto ou companhia. Na pista táctica irá acontecer a constituição binomial, primeiro à trela e depois em liberdade. Nela os cães aprenderão a responder afirmativamente aos donos, a vencer os seus medos naturais e a ultrapassar toda a sorte de obstáculos, naturais ou artificiais, quando colocados à sua frente, o que naturalmente optimizará a sua capacidade de resolução.
Nesta mesma pista, se for esse o caso, os cães aprenderão a defender os seus donos e a escorraçar invasores, a sociabilizar-se entre si e a trabalhar conjuntamente pela aceitação e constituição da matilha escolar heterogénea. Aprenderão também subsídios de evasão para escaparem aos seus raptores e todos os inerentes à sua salvaguarda e sobrevivência, assim como os necessários para valer, salvar ou resgatar os seus proprietários. Mercê do rigor do treino, para além de atingirem altíssimos índices de prontidão, os cães sairão da Pista Táctica mais céleres e resistentes, mais fortes, rústicos e combativos – a respirar saúde - com uma excelente musculatura e com os ritmos vitais próprios para o seu bem-estar e função. E mais do que isto – constituídos em verdadeiras sombras dos donos.
Tal pássaro que sai do ninho quando chegada a hora, virá também o dia em que todos os binómios aprovados sairão dos limites da Pista Táctica para o mundo, para espaços infindos, aparentemente sem limite, por onde espraiarão o seu valor, ajuda e mais-valias. Sim, a Pista Táctica não é um fim em si mesma, mas o início de uma grande aventura vivida e dividida entre cães e homens. Como primeira meta ou etapa pedagógica da vida os cães, ela não deverá ser muito demorada já que irá marcá-los definitivamente para o melhor e para o pior, carecendo por isso de vida e novidade, de oferecer experiências variadas e ricas.
Erram do ponto de vista pedagógico, voluntária ou involuntariamente, aqueles que sujeitam os seus alunos a repetitivos planos de aula, que facilmente levam os condutores à fadiga e os cães à exaustão, como se cada binómio fosse uma parelha de burros a tirar água ao redor de uma nora. Opções destas, eventualmente válidas do ponto de vista económico para quem recebe, outra coisa não são do que um atentado à inteligência de quem aceita a canga e a maneira mais eficaz de desinteressar cães pelo trabalho, uma vez que não procuramos autómatos, mas animais capazes de ser autonómicos nas suas tarefas.
Seria bom não esquecer que todos chegamos com os nossos cães às escolas caninas com expectativas próprias, querendo somente ser iguais a nós mesmos, preencher parte das nossas carências afectivas, vivenciar novas emoções e procurar momentos felizes de evasão na companhia do nosso cão. Quando tudo isto nos roubam, o melhor que há a fazer é virar as costas a uma escola assim, por mais excelente que seja a sua Pista Táctica, porque quem nos robe a alegria já nós temos em demasia – sem a liberdade individual de cada condutor, que potencia o particular do seu cão e estabelece a diferença, o adestramento sempre será substancialmente mais pobre. Cabe aos adestradores massificar os sonhos de todos os seus condutores sem atropelar o bem-estar dos cães, compreender aquilo que os distingue e projectá-los para onde querem chegar, subtraindo-lhes somente o que cause entrave aos cães.
Hoje estamos na Pista Táctica, amanhã seremos livres como nunca e não partiremos sós – o nosso cão irá connosco! Agarramos o trabalho de hoje na certeza do amanhã e debaixo deste espírito jamais sairemos derrotados, até porque há sempre um Adestrador a olhar por nós!

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