É
do conhecimento público que sempre nos opusemos à castração e esterilização
indiscriminada de cães ainda em uso e que sempre pusemos em causa os seus
proclamados benefícios. Algumas raças caninas apresentam maior risco de
desenvolver certos tipos de cancro e distúrbios articulares quando castrados ou
castrados no primeiro ano de vida. Quem o afirma é um estudo de 10 anos
realizado por pesquisadores da Universidade da California-Davis, que examinou
35 raças de cães e descobriu que a vulnerabilidade da castração varia de raça
para raça. Este estudo foi publicado na revista “Frontiers in Veterinary
Science”.
Para
Benjamin Hart (na foto seguinte), principal autor do estudo e professor emérito
da UC Davis School of Veterinary Medicine, “Existe uma enorme disparidade entre
diferentes raças, não existe «tamanho único» quando se trata de riscos para a
saúde e à idade em que um cão é castrado. Algumas raças desenvolveram
problemas, outras não. Algumas podem ter desenvolvido distúrbios articulares,
mas não cancro ou o contrário”. Os pesquisadores analisaram 15 anos de dados de
milhares de cães, todos examinados no Hospital Veterinário de Medicina da UC
Davis, para tentar compreender se a esterilização, a idade da esterilização ou
as diferenças de sexo quando esterilizadas afectam certos tipos de cancro e
distúrbios articulares entre as raças. Os distúrbios articulares examinados incluíram
displasia da anca, lesões do ligamento cruzado craniano e displasia do
cotovelo. Os cancros examinados incluíram linfoma; hemangiossarcoma ou cancro das
paredes dos vasos sanguíneos; tumores de mastócitos e osteossarcoma ou cancro
ósseo. Na maioria das raças examinadas, o risco de desenvolver problemas não
foi afectado pela idade da castração.
Lynnete
Hart, professora da mesma Faculdade de Medicina Veterinária e co-autora do
estudo, disse: “As raças menores não têm esses problemas, enquanto a maioria
das raças maiores tende a ter distúrbios articulares", o que equivale a
dizer que a vulnerabilidade a distúrbios articulares está relacionada com o
tamanho do corpo. Porém, foram comprovadas duas excepções em duas raças
gigantes – o Dogue Alemão e o Irish Wolfhound – que não apresentaram o risco
aumentado de distúrbios articulares quando castrados em qualquer idade. Por
outro lado, os pesquisadores descobriram também que a ocorrência de cancro em
cães mais pequenos era baixa, independentemente de serem castrados ou não. Em
duas raças de cães pequenos, o Boston terrier e o shih tzu, houve um aumento
significativo de cancros com a castração.
Outra
descoberta que o presente estudo comprovou foi que o sexo dos cães quando
castrados faz diferença por vezes nos riscos contra a saúde. As Boston Terriers
esterilizadas no padrão dos seis meses de idade, por exemplo, não apresentavam
risco aumentado de distúrbios articulares ou de cancro quando comparadas com as
suas congéneres não-esterilizadas, mas os Boston Terrier machos, castrados
antes de um ano de idade, aumentaram significativamente os riscos. Estudos
anteriores descobriram que a castração dos Golden Retrievers em qualquer idade
aumenta o risco de um ou mais cancros de 5% para 15%.
Os
proprietários caninos norte-americanos, assim como os portugueses e outros (a esterilização
generalizou-se globalmente) estão a optar por castrar e esterilizar os seus
cães, em grande parte para impedir a superpopulação canina, a superlotação dos
abrigos e a eutanásia, sendo a castração cirúrgica geralmente realizada aos
seis meses de idade. Este estudo sugere que os donos de cães deverão ponderar cuidadosamente
se devem ou não castrar os seus cães e se sim, quando, como se depreende das afirmações
de Benjamin Hart: "Achamos a decisão do dono do animal, depois de
consultar o parecer do veterinário, a mais correcta, não as expectativas que a
sociedade dita sobre a castração. Esta é uma mudança de paradigma na intervenção
cirúrgica mais comummente realizada na prática veterinária". O estudo
estabelece ainda directrizes para donos de animais e veterinários sobre cada
uma das 35 raças para ajudar na tomada de decisão quanto à esterilização.
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