Na
minha insaciável busca por Coca-Cola, vício que resta dos muitos que tive e
porventura o mais difícil de vencer, deparei-me com uma cadela Beagle junto a
uma frutaria, que avaliada somente pelo seu comportamento, dificilmente alguém
diria pertencer à sua raça, porque não ladrava, uivava ou gania pelos donos
ausentes, andava naturalmente entre as pessoas como um cão de rua e ainda
abanava timidamente a cauda para quem se metia com ela. Perplexo com a novidade
daquele comportamento atípico, pensei automaticamente que estava na presença de
um fenótipo, apesar de serem muitíssimo menos frequentes do que as bananas da
Costa Rica na Europa. Depois de reparar na Beagle, apareceu junto dela uma
pequena cadela SRD preta com pêlo de arame, que pelo modo como se relacionavam,
dava para entender que pertenciam à mesma casa. Entretanto, enquanto repara nas
cadelas, os seus donos saíram da frutaria e chamaram-nas para si.
Estava
descoberta a causa do enigmático comportamento da Beagle! Mas, para confirmar a
verdade das minhas conclusões, inquiri ao dono das cadelas qual delas foi a
primeira a dar entrada na sua casa, ao que ele me respondeu ter sido a rafeira!
Ficou claro que a Beagle herdou traços comportamentais da rafeira por via
ambiental, uma vez que foi criada com ela, era mais nova e teve-a como líder.
Caso acontecesse o contrário, se a cadela rafeira fosse a mais nova, depressa
copiaria o carácter altamente instintivo e independente que caracteriza os Beagles,
bem distante da interacção desejada, animais que foram criados para dar caça à
raposa e pouco mais. Este caso paradigmático encerra duas verdades: que o
Beagle como primeiro cão dificilmente será a melhor opção e como segunda escolha
pode até ser. Que pena os cães sempre espelharem com quem andam, porque doutro modo
alguns teriam melhor sorte, seriam mais felizes e substancialmente mais
prestáveis. Lamentavelmente não podemos ficar com todos!
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