segunda-feira, 2 de novembro de 2015

UNSER KAMPF: VERHINDERN, DASS DIE TÖTUNG ZUM DRITTEN MAL

Relativamente aos Pastores Alemães, passámos os últimos 40 anos a lutar para que não morram pela terceira e derradeira vez, porque tanto homens como cães morrem 3 vezes, sucedendo primeiro a morte física, depois o desaparecimento da sua memória e finalmente assiste-se à sua deturpação, e tudo isso tem acontecido com este excelente cão de trabalho, cada vez menos visto e com um legado inconfundível, que mercê do rompimento com os pressupostos selectivos originais, aparece hoje falsificado e com menor préstimo, sendo actualmente uma ténue imagem do seu passado glorioso e um vivo atentado ao que já foi. Apesar de conhecermos os responsáveis e as causas que levaram a tamanho descalabro, que temos identificado e denunciado através deste blog, mais nos importou, mediante a recolha de escassos exemplares dispersos, devolver à raça as suas mais-valias e perpetuá-las entre nós, tarefa morosa e dispendiosa a que não nos furtámos e missão que tem valido a pena. É possível que futuramente o nosso labor seja inglório mas não o será de todo, porque ao “ressuscitarmos” os cães do passado, ainda os teremos por mais algumas décadas, cabendo às gerações vindouras o seu desprezo ou proliferação. E nisto não estivemos sós, porque noutras latitudes outros abraçaram e continuam a abraçar o mesmo objectivo, teimosamente trilhando o mesmo caminho, passando idênticas agruras na procura do mesmo sucesso. Daqui queremos enviar uma palavra de alento e de esperança para os criadores das variedades recessivas presentes na raça, para que continuem a apostar nelas, assim como incentivar os criadores da variedade branca, para que não deixem de lutar até alcançarem a mais do que justa integração dos seus cães, uma vez que são parte importante do património desleixado do Cão de Pastor Alemão.
E para que amanhã não adulterem o que dissemos e fizemos, vamos agora manifestar as nossas preocupações e prioridades relativas aos Pastores Alemães, em tudo idênticas às presentes na sua origem e a quem emprestámos um cunho particular, considerando que cada cruzamento é um beneficiamento. Sempre que possível optámos por beneficiamentos entre exemplares de variedades cromáticas diferentes, sabendo que cada uma delas transporta qualidades em défice nas outras, por força da exasperada eugenia negativa que levou à criação isolada de cada uma delas, saldo negativo garantido pela despudorada endogamia e pela inevitável consanguinidade. Ainda debaixo desta preocupação, valemo-nos de reprodutores de 100 canis diferentes, tanto nacionais como estrangeiros. Esta política selectiva de “quadro aberto” teve como resultado a obtenção de exemplares mais completos e melhor equilibrados dos pontos de vista sensorial, atlético, psicológico e cognitivo, que viriam a dotar os nossos cães de maior disponibilidade, resistência e longevidade. Para combatermos eficazmente o pernaltismo e a ausência de envergadura, também o nanismo e gigantismo, entendemos e nisso fomos bem-sucedidos, não cruzar progenitores com uma diferença de altura superior aos 4cm. Mais do que nos machos, assentámos a nossa criação sobre a qualidade das fêmeas, já que estas pesam mais na reprodução, facto que comprovámos pelo empirismo.
A nossa primeira demanda tem sido e sempre foi pelo superior impulso ao conhecimento, prémio genético que possibilita a melhor adaptação dos cães e que lhes garante em simultâneo a versatilidade e a multifuncionalidade. Cativos a esse propósito, nunca usámos exemplares dispensados ou arredados do trabalho, porque nenhum indivíduo laboral sobrevive exclusivamente de expectativas, necessitando de ser testado para aquilo que foi criado e nisso ser aprovado. Assim, arredámos da criação os exemplares que não conseguiam absorver facilmente 35 comandos básicos de obediência e 8 dinâmicos, os pouco curiosos e nada astutos, os parcos de autonomia, os cobardes, os ansiosos e pouco atentos, os inseguros e dados a provocações, os portadores de pirofobia e acrofobia, os hidrófobos e os claustrofóbicos, os deficitários da percepção sensorial exigível, os que apresentavam dificuldades de travamento, os resistentes à sociabilização e à cumplicidade, assim como os demasiado instintivos, ainda que morfologicamente irrepreensíveis e agradáveis à vista, desprezando também os menos apetrechados de memória mecânica e aqueles que resistiam à transição da linguagem verbal para a gestual e/ou sonora.
Uma vez comprovado o superior impulso ao conhecimento dos candidatos a progenitores, aquilatávamos da sua riqueza nos principais impulsos herdados (ao alimento, movimento, à defesa, à luta e ao poder), dispensando de imediato os candidatos com fraca apetência pelo alimento, os avessos ao exercício físico, os incapazes de se defender e atacar e os que não resistiam à sua despromoção social. Apostados na vertente atlética dos nossos cães, exigíamos e exigimos deles, independentemente do sexo, os seguintes valores ou marcas mínimas: 45km/h de velocidade instantânea; cadência natatória de 3.6km/h; 3.25m de salto em extensão; 1,2m de salto em altura; 2,75m na Ponte-Quebrada, muro de 2,5m; subida de escadas; solução de obstáculos tácticos combinados; saltos sobre obstáculos de projecção negativa; desembraço no rastejador e nos túneis; transporte de halteres até 3kg, superior equilíbrio sobre diversas plataformas oscilantes e baloiços, dando a prioridade aos que recuperam mais depressa dos esforços e aqueles que em descanso oscilam entre as 50 e 80 pulsações por minuto.
Como nunca entendemos a disciplina de guarda desregrada mas como decorrente da cumplicidade e da obediência, exigimos aos nossos reprodutores que aguardem ordens até 2 horas, permanecendo quietos no mesmo local na ausência dos donos (travados ou com tarefa distribuída); que sejam resistentes à contra-ordem (indiferentes a ordens alheias) e ao suborno (recusa de engodos), que absorvam e cumpram todo o currículo clássico da obediência, tanto em situações favoráveis como debaixo de tensão. Nenhum deles virá a ser seleccionado se não defender o seu condutor e os seus pertences, efectuar ataques e capturas a uma distância mínima de 50m, debaixo de fogo ou não, acontecendo o último disparo exactamente no momento da captura. Todos deverão ser aprovados no verdadeiro contra-ataque e terão que ser capazes de desarmar, revistar e acompanhar debaixo de custódia os seus agressores. Todo o cão que cuja cessação dos ataques não seja igual à sua prontidão, será automaticamente dispensado da reprodução, assim como aquele que apresentar dificuldades em se constituir parte de uma matilha funcional (com idêntico propósito e objectivo). Este grau de exigência, ainda que não seja esse o nosso principal objectivo, visa a futura participação e aprovação das proles nas distintas provas destinadas aos cães de utilidade. Cão que não se presta prá pistagem também deverá ser arredado da reprodução. As exigências não se esgotam aqui e não é por acaso que dizem que os cães da Acendura Brava já nascem ensinados, “com uma drive ou cassete” (não há como experimentar e para comprovar basta adquirir um dos noticiados “panzerhunde”. Os cães da Acendura Brava encontram-se distribuídos por uma dúzia de afixos, só sendo detectáveis, para quem os desconhece, pela sua genealogia).
O nosso objectivo sempre foi o de produzir cães dedicados, de fácil ensino, guardiões, multifacetados, valentes, atletas, disponíveis, competitivos, com boa presença física, resistentes, impolutos e incorruptíveis, de igual valia em ecossistemas terrestres e aquáticos, próprios para a detecção de diversas substâncias químicas e para o resgate e salvamento, capazes de acompanhar os seus donos nas situações mais duras e através de qualquer meio de transporte. Diante de tamanho encargo não podíamos e não podemos descorar também o seu pormenor morfológico, para que fisicamente pudessem e possam responder de modo afirmativo às mais variadas solicitudes. Assim, continuamos a isentar da criação os indivíduos parcos de cabeça e ossatura, de peito estreito ou invertido, os selados, os muito angulados e por demais abatidos de traseira (preferindo os que apresentam a convexidade natural do dorso), os de garupa estreita e de pouca massa muscular (porque o “motor” dos cães é atrás), os de mãos atiradas para fora e com exagerado abatimento de metacarpos, aqueles que descodilham em marcha, os que apresentam dificuldades na transição dos andamentos naturais, os portadores de costelas rectas e com jarrete de vaca, os de propensão quadrada e os exemplares demasiado compridos. Atendendo à necessidade de se produzirem cães para todo o terreno e com características anfíbias, escolhemos para progenitores os indivíduos que apresentem membranas interdigitais menos rasgadas, particular que sempre tem caracterizado os nossos cães.
Diante da saúde exigível aos cães, abominamos a consanguinidade e a endogamia, desprezamos para o mesmo fim os criptorquídeos, os diferentes prógnatas, os ricos em alergias, os de tendência obesa, os afectados pela insuficiência endócrina, pelo abatimento ou má implantação de orelhas, com histórico familiar em otites, doenças coronárias, artroses, bolsas de líquido sinovial, mielopatia, panosteíte, displasias do ombro e coxo-femoral, assim como os pouco angulados de traseira e os portadores doutras más formações que impliquem nalgum tipo de insuficiência ou menos valia. Quanto à displasia coxo-femoral, porque já fomos vítimas dela no passado, não beneficiamos hoje cães que não se encontrem isentos até 4 gerações para trás, porque já aconteceu beneficiarmos cães isentos mas que eram portadores da doença. Do mesmo modo, desprezamos os cães que foram e são fabricados em laboratório, aqueles que beneficiaram dos bons ofícios do bisturi e do socorro de anabolizantes e hormonas de crescimento, “ajudas” que geneticamente não transportam.
A nosso ver é obrigatório, a quem se propõe criar Pastores Alemães, aprender com os erros do passado, evitá-los no presente e projectar a raça para o futuro de acordo com o seu propósito, qualidade, mais-valias e bom-nome originais. A experiência ensinou-nos a não nos valermos de cadelas com menos de 58cm e abaixo dos 34kg e de machos acima dos 68cm, com peso abaixo dos 38 ou acima dos 45kg. Dividindo-se o peso pela altura, o valor desejável para os machos aos 12 meses deverá ser de 1.7 e o das fêmeas de 1.8 a 1.9, considerando as suas múltiplas atribuições, pois estamos a falar de cães de trabalho e não de infiltrados gerados pela beleza. Um cachorro CPA razoável nasce com 450g e os maiores com 700g (excepcionalmente surgem animais acima deste limite). Oportunamente debruçar-nos-emos sobre o cuidado a haver na gestação e no acompanhamento dos filhotes. Se quando morre um cão, morre um pouco de nós, atendendo ao valor e ao número dos que já nos deixaram, há muito que deveríamos estar mortos. E se ainda cá estamos, não nos resta outro remédio do que tentar produzir outros iguais e encorajar outros a alcançá-los.
Seleccionar cães assim não é tarefa fácil, exige conhecimento, estudo e disponibilidade, há que conhecer e identificar, nos animais e no papel, as principais matrizes da raça (linhas), a sua origem e por onde se encontram dispersas ou encobertas, para tornar possível o retorno à qualidade original, o que nos leva agora a filtrar os cães da extinta DDR no meio das linhas checas em voga, procurando nelas a dominância das afamadas linhas doutrora, no intuito de nos livrarmos das criações desastrosas que lhes sucederam. Menos trabalho, despesa e revezes teremos, se optarmos pelos Pastores Alemães produzidos na Bélgica, há várias décadas de qualidade muito superior aos que se produzem na Alemanha. Tanto no Canadá como nos Estados Unidos, subsistem ainda nichos de criadores de cães de trabalho, animais de que vamos tendo conhecimento pela internet e cuja origem incólume muito procuramos, trabalho de prospecção que visa combater a pretensa evolução que se atribui à raça. Entre as linhas tangentes às duas Grandes Guerras assistiu-se a uma clara evolução e é ainda possível chegar à qualidade dos cães dos anos 40 e 50 pelo contributo dos Pastores da Commonwealth. A qualidade dos Pastores Alemães tem vindo a crescer entre nós, facto que ficou a dever-se ao aumento dos criadores de pretos e lobeiros e aos beneficiamentos entre ambos para melhorar o actual preto-afogueado.
Dito isto, uma pergunta paira no ar: porque não nos agradamos dos actuais Pastores Alemães? Porque morfologicamente são disfuncionais, psicologicamente são pouco seguros e a sua capacidade laboral é diminuta (é evidente que existem excepções). Em vão nos acusarão de idealistas, porque produzimos e continuamos a produzir cães que ombreiam lado a lado com os cães do passado, Pastores Alemães na verdadeira acepção da palavra, animais multifuncionais e robustos, seguros e decididos, próprios para as tarefas que sempre abraçaram, aptos para os desafios do presente e prontos para os do futuro, graças ao superior impulso ao conhecimento que transportam e à disponibilidade que sempre os notabilizou.

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