domingo, 22 de novembro de 2015

CÃES NEGROS: MITOS E FACTOS

Não resta dúvida que os Pastores Alemães negros granjearam-nos fama, tanta que sempre nos associaram a eles, apesar da sua proliferação nunca ter excedido, mesmo nos momentos de maior procura, 25% do total de todos os Pastores Alemães que criámos, sendo os lobeiros a variedade que mais produzimos (40%), seguida dos preto-afogueados (30%), distribuindo-se o restante pelas variedades uniformes cinzenta (3%) e vermelha (2%). Por causa disso, ao longo de toda a nossa existência, só numa ocasião conseguimos apresentar uma esquadra composta exclusivamente por negros (agrupamento táctico e fracção evolutiva de um grupo canino constituído por seis cães), tanto em treino como em exibições, apesar de desejarmos ardentemente possuir e apresentar mais esquadras dessa cor, porque nela descobrimos cães excepcionais dos pontos de vista morfológico, cognitivo e funcional, ainda que ao tempo a variedade fosse depreciada por ser recessiva, pouco vista e por muitos desconhecida.
Uma ONG no Reino Unido que se dedica a encontrar novos lares para os galgos dispensados das corridas, normalmente por estoiro ou velhice, está com um grave problema, porque a maior parte desses lebréis é de cor negra e a maioria dos potenciais interessados desiste da sua adopção por causa desse pormenor. Para o aumento dos Greyhounds desta variedade cromática melânica muito contribuiu um famoso campeão negro: “Top Honcho”, que foi pai de 10.411 cachorros, o que fez com que 80% dos galgos retirados das corridas e carentes de adopção sejam ali dessa cor. Em vão se tem esforçado os seus resgatadores, tentando sensibilizar as pessoas interessadas para a adopção de um galgo negro (passa-se idêntico problema com os gatos negros para adopção).
Esta aversão à cor negra deve-se apenas ao nosso imaginário colectivo, a mitos e lendas ancestrais que ainda não varremos da nossa cultura, a um todo de superstições que teimamos em não largar, que associam os animais negros a bruxas, maus presságios, a mortes, desgraças e até à presença do diabo, (ultimamente tem sido usado um gato negro, assanhado e com as unhas afiadas como símbolo do anarquismo), o que leva muitos a não temer cães doutra cor e a intimidar-se perante os negros, apesar destes serem ordinariamente mais “ajuizados” que os seus congéneres doutras cores, como iremos explicar e perceber já a seguir, uma vez que tal asco, ao ser contrário à razão, assenta sobre um preconceito irracional. Bem sabemos que os cães negros são difíceis de fotografar, que carecem de uma intensidade de luz específica para ficarem bem no retrato e que se confundem entre iguais, o que os torna indiferenciados e menos apelativos para os mais desatentos.
Como os lobos não possuíam originalmente o gene da cor negra, vindo a adquiri-lo mais tarde através dos cães, os cães negros são menos silvestres e mais cúmplices, mais aptos para o trabalho binomial e fáceis de ensinar. A somar a isto, são os que largam menos odor, porque secam mais rápido que os seus companheiros doutras cores, o que lhes irá facilitar a coabitação dentro do lar dos seus donos. E como são precoces, atingindo as diferentes maturidades mais cedo, assumem prontamente o seu status e incumbências. A cor negra nos cães encontra-se ligada a um maior impulso ao conhecimento, vantagem que os dotará de maior capacidade de aprendizagem, facto que temos vindo a comprovar. A maioria das raças caninas que se têm notabilizado no trabalho tiveram na sua origem ou ainda conservam exemplares negros (ex: Border Collie, Bouvier da Flandres, Labrador, Pastor Alemão, Pastor Belga, Podengo Português, Rottweiler, Terra Nova e a maioria das raças bicolores “Black and Tan”, entre tantas outras). Contrariando a infundada fama demoníaca que injustamente os persegue, é nos cães negros que se encontram os companheiros mais dóceis e humildes, como é o caso do Cão de Água Português. Muito mais haveria a dizer sobre eles e as vantagens que carregam, o que não os isenta em simultâneo de alguma menos valia ou dificuldade. Contudo, o que dissemos acerca deles basta para que sejam melhor considerados e não desprezados. Se depois do que fizemos saber ainda alguém persistir em achá-los demoníacos, será melhor que se mande exorcizar ou então que vá para o diabo que o carregue!    

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