Não resta dúvida que os
Pastores Alemães negros granjearam-nos fama, tanta que sempre nos associaram a
eles, apesar da sua proliferação nunca ter excedido, mesmo nos momentos de
maior procura, 25% do total de todos os Pastores Alemães que criámos, sendo os
lobeiros a variedade que mais produzimos (40%), seguida dos preto-afogueados
(30%), distribuindo-se o restante pelas variedades uniformes cinzenta (3%) e
vermelha (2%). Por causa disso, ao longo de toda a nossa existência, só numa
ocasião conseguimos apresentar uma esquadra composta exclusivamente por negros
(agrupamento táctico e fracção evolutiva de um grupo canino constituído por
seis cães), tanto em treino como em exibições, apesar de desejarmos
ardentemente possuir e apresentar mais esquadras dessa cor, porque nela
descobrimos cães excepcionais dos pontos de vista morfológico, cognitivo e funcional,
ainda que ao tempo a variedade fosse depreciada por ser recessiva, pouco vista
e por muitos desconhecida.
Uma ONG no Reino Unido que
se dedica a encontrar novos lares para os galgos dispensados das corridas,
normalmente por estoiro ou velhice, está com um grave problema, porque a maior
parte desses lebréis é de cor negra e a maioria dos potenciais interessados
desiste da sua adopção por causa desse pormenor. Para o aumento dos Greyhounds
desta variedade cromática melânica muito contribuiu um famoso campeão negro:
“Top Honcho”, que foi pai de 10.411 cachorros, o que fez com que 80% dos galgos
retirados das corridas e carentes de adopção sejam ali dessa cor. Em vão se tem
esforçado os seus resgatadores, tentando sensibilizar as pessoas interessadas
para a adopção de um galgo negro (passa-se idêntico problema com os gatos
negros para adopção).
Esta aversão à cor negra
deve-se apenas ao nosso imaginário colectivo, a mitos e lendas ancestrais que
ainda não varremos da nossa cultura, a um todo de superstições que teimamos em
não largar, que associam os animais negros a bruxas, maus presságios, a mortes,
desgraças e até à presença do diabo, (ultimamente tem sido usado um gato negro,
assanhado e com as unhas afiadas como símbolo do anarquismo), o que leva muitos
a não temer cães doutra cor e a intimidar-se perante os negros, apesar destes
serem ordinariamente mais “ajuizados” que os seus congéneres doutras cores, como
iremos explicar e perceber já a seguir, uma vez que tal asco, ao ser contrário
à razão, assenta sobre um preconceito irracional. Bem sabemos que os cães
negros são difíceis de fotografar, que carecem de uma intensidade de luz
específica para ficarem bem no retrato e que se confundem entre iguais, o que
os torna indiferenciados e menos apelativos para os mais desatentos.
Como os lobos não possuíam
originalmente o gene da cor negra, vindo a adquiri-lo mais tarde através dos
cães, os cães negros são menos silvestres e mais cúmplices, mais aptos para o
trabalho binomial e fáceis de ensinar. A somar a isto, são os que largam menos
odor, porque secam mais rápido que os seus companheiros doutras cores, o que
lhes irá facilitar a coabitação dentro do lar dos seus donos. E como são
precoces, atingindo as diferentes maturidades mais cedo, assumem prontamente o
seu status e incumbências. A cor negra nos cães encontra-se ligada a um maior
impulso ao conhecimento, vantagem que os dotará de maior capacidade de
aprendizagem, facto que temos vindo a comprovar. A maioria das raças caninas
que se têm notabilizado no trabalho tiveram na sua origem ou ainda conservam
exemplares negros (ex: Border Collie, Bouvier da Flandres, Labrador, Pastor
Alemão, Pastor Belga, Podengo Português, Rottweiler, Terra Nova e a maioria das
raças bicolores “Black and Tan”, entre tantas outras). Contrariando a infundada
fama demoníaca que injustamente os persegue, é nos cães negros que se encontram
os companheiros mais dóceis e humildes, como é o caso do Cão de Água Português.
Muito mais haveria a dizer sobre eles e as vantagens que carregam, o que não os
isenta em simultâneo de alguma menos valia ou dificuldade. Contudo, o que
dissemos acerca deles basta para que sejam melhor considerados e não
desprezados. Se depois do que fizemos saber ainda alguém persistir em achá-los
demoníacos, será melhor que se mande exorcizar ou então que vá para o diabo que
o carregue!
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