segunda-feira, 2 de novembro de 2015

PASTORES ALEMÃES LOBEIROS: O QUE OS TORNA ESPECIAIS

PREÂMBULO: Este texto dá continuidade ao já publicado em 26/10/2009:O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS”. Em todas as variedades cromáticas do Cão de Pastor Alemão existem bons e maus exemplares e as menos valias de alguns devem-se, entre outros factores a: cruzamentos arbitrais, à criação isolada das distintas variedades, ao desprezo pelo contributo da variedade dominante (preto-afogueado), à eugenia negativa, a mutações resultantes da endogamia e também ao despreparo de alguns donos, por desaproveitamento e ignorância, muito embora o que nasça bom raramente se perca, emergindo a sua qualidade intrínseca mais cedo ou mais tarde diante de determinadas circunstâncias.
Quando um lobeiro assenta sobre 6/8 dessa variedade na sua construção, nasce rico nos principais impulsos herdados, sem entraves sensoriais ou de carácter e não foi objecto de nenhum trauma, realçará as mais-valias presentes na sua variedade cromática, que serão tanto ou mais potenciadas pela contribuição de outros. Do ponto de vista funcional-laboral, os lobeiros puros são mais instintivos, menos cúmplices, mais esquivos, de menor presença física e de autonomia circunstancial e até imprestável, porque respondem a apelos atávicos que os levam a rumo próprio, deméritos do conhecimento dos seus criadores, que ao longo dos tempos os têm beneficiado com outros, mormente com os negros, na procura de melhor carácter pelo uso e aproveitamento das suas potencialidades específicas. “Mexer” em lobeiros não é tarefa para amadores, porque através deles também se poderá chegar a algum tipo de involução racial. Contudo, a ascendência lobeira, mais do que outras, tem notabilizado o Cão de Pastor Alemão, não sendo acidental a sua preferência e regresso nos tempos que correm.
O que os torna tão especiais? São 10 as mais-valias que apresentam em termos funcionais, a saber: propensão para o serviço nocturno; excelente máquina sensorial, identificação olfactiva automática; tendência para a dissimulação; preferência pela emboscada; resistência ao suborno; facilidade na sociabilização; maior autonomia, superior persistência e maior resistência (rusticidade). Esta humilde variedade, que é naturalmente silenciosa (quando não o é fica a dever isso à herança doutros), transfigura-se a partir do lusco-fusco, tornando-se mais activa e curiosa, por ser praticamente inaudível e invisível entre as sombras da noite, policiando objectivamente os perímetros que são confiados e evitando satisfazer as suas necessidades fisiológicas nessas ocasiões. Contrariamente a maioria dos Pastores Alemães, que fazem a prévia identificação pelo ouvido, os lobeiros fazem-no maioritariamente pelo olfacto, o que os torna mais difíceis de incorrer em enganos e ataques acidentais, de serem distraídos, ludibriados e manietados. Naturalmente adeptos da dissimulação, aguardam oportunidade, mostram-se menos e não denunciam a sua presença, pormenores que enriquecem o seu serviço e garantem-lhes a salvaguarda. Como são geneticamente induzidos a emboscar-se, estudam os invasores, descobrem a sua vulnerabilidade e actuam de surpresa, vantagem que os torna menos defensáveis e melhores captores. Esta tendência têm sido responsável pela baixa pontuação de alguns lobeiros em provas desportivas, porque são-lhes contranaturais e dificilmente optariam por ataques lançados a várias dezenas de metros, o que lhes diminuiria substancialmente as hipóteses de êxito na captura. E se acabam por fazê-lo, fazem-no porque já experimentaram que vão ser bem-sucedidos. Nem sempre os shows são bons simulacros para as acções reais!
 Os lobeiros são naturalmente resistentes ao suborno e quando vítimas dele tornam-se piegas, dependentes e ansiosos, porque são naturalmente biqueiros, selectivos nos manjares, carentes de protocolos próprios  e desconfiados, sendo por isso mais resistentes às tentativas de envenenamento e às amenas cavaqueiras com estranhos. Como são de fácil sociabilização, integram-se sem grandes dificuldades em matilhas funcionais com o mesmo propósito, muito embora as cadelas desta variedade possam apresentar inicialmente alguma resistência, podendo guerrear com outras ou desinteressar-se do serviço, opções ligadas ao seu perfil psicológico, qualidade do impulso à luta e inegável apelo silvestre. E quando assim sucede, mais vale deixá-las conviver e capacitá-las individualmente. A variedade lobeira é a que apresenta maior autonomia funcional, porque é astuta, assaz exploradora e menos dependente da protecção dos donos, equilibrando-se e tirando vantagem dos terrenos ao seu redor. Exactamente por ser menos dependente da protecção dos donos e usar de astúcia, o lobeiro é mais persistente que os demais, encontrando soluções que outros não encontrariam sem o concurso de treino específico. A inquestionável rusticidade dos lobeiros concorre para o aumento da sua resistência e melhor adaptação aos diversos ecossistemas nas diferentes estações do ano, sendo próprios para trabalhar em díspares amplitudes térmicas e em qualquer ponto do Globo, mantendo incólumes os seus índices de prontidão e efectividade de serviço. Ser proprietário de um lobeiro é um privilégio, porque exige pouco e tem muito para dar, reclamando apenas que o compreendam.

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