PREÂMBULO: Este texto dá continuidade ao já
publicado em
26/10/2009:
“O CÃO LOBEIRO: UM
SILVESTRE ENTRE NÓS”. Em todas as variedades cromáticas do Cão de Pastor Alemão
existem bons e maus exemplares e as menos valias de alguns devem-se, entre
outros factores a: cruzamentos arbitrais, à criação isolada das distintas
variedades, ao desprezo pelo contributo da variedade dominante
(preto-afogueado), à eugenia negativa, a mutações resultantes da endogamia e
também ao despreparo de alguns donos, por desaproveitamento e ignorância, muito
embora o que nasça bom raramente se perca, emergindo a sua qualidade intrínseca
mais cedo ou mais tarde diante de determinadas circunstâncias.
Quando um lobeiro assenta
sobre 6/8 dessa variedade na sua construção, nasce rico nos principais impulsos
herdados, sem entraves sensoriais ou de carácter e não foi objecto de nenhum
trauma, realçará as mais-valias presentes na sua variedade cromática, que serão
tanto ou mais potenciadas pela contribuição de outros. Do ponto de vista
funcional-laboral, os lobeiros puros são mais instintivos, menos cúmplices,
mais esquivos, de menor presença física e de autonomia circunstancial e até
imprestável, porque respondem a apelos atávicos que os levam a rumo próprio,
deméritos do conhecimento dos seus criadores, que ao longo dos tempos os têm beneficiado
com outros, mormente com os negros, na procura de melhor carácter pelo uso e
aproveitamento das suas potencialidades específicas. “Mexer” em lobeiros não é
tarefa para amadores, porque através deles também se poderá chegar a algum tipo
de involução racial. Contudo, a ascendência lobeira, mais do que outras, tem
notabilizado o Cão de Pastor Alemão, não sendo acidental a sua preferência e
regresso nos tempos que correm.
O que os torna tão especiais? São 10 as mais-valias que apresentam em
termos funcionais, a saber: propensão para o serviço nocturno; excelente máquina
sensorial, identificação olfactiva automática; tendência para a dissimulação;
preferência pela emboscada; resistência ao suborno; facilidade na
sociabilização; maior autonomia, superior persistência e maior resistência
(rusticidade). Esta humilde variedade, que é naturalmente silenciosa (quando
não o é fica a dever isso à herança doutros), transfigura-se a partir do lusco-fusco,
tornando-se mais activa e curiosa, por ser praticamente inaudível e invisível entre
as sombras da noite, policiando objectivamente os perímetros que são confiados e
evitando satisfazer as suas necessidades fisiológicas nessas ocasiões. Contrariamente
a maioria dos Pastores Alemães, que fazem a prévia identificação pelo ouvido,
os lobeiros fazem-no maioritariamente pelo olfacto, o que os torna mais
difíceis de incorrer em enganos e ataques acidentais, de serem distraídos, ludibriados
e manietados. Naturalmente adeptos da dissimulação, aguardam oportunidade, mostram-se
menos e não denunciam a sua presença, pormenores que enriquecem o seu serviço e
garantem-lhes a salvaguarda. Como são geneticamente induzidos a emboscar-se,
estudam os invasores, descobrem a sua vulnerabilidade e actuam de surpresa,
vantagem que os torna menos defensáveis e melhores captores. Esta tendência têm
sido responsável pela baixa pontuação de alguns lobeiros em provas desportivas,
porque são-lhes contranaturais e dificilmente optariam por ataques lançados a
várias dezenas de metros, o que lhes diminuiria substancialmente as hipóteses
de êxito na captura. E se acabam por fazê-lo, fazem-no porque já experimentaram
que vão ser bem-sucedidos. Nem sempre os shows são bons simulacros para as
acções reais!
Os lobeiros são naturalmente resistentes ao suborno e quando vítimas
dele tornam-se piegas, dependentes e ansiosos, porque são naturalmente
biqueiros, selectivos nos manjares, carentes de protocolos próprios e desconfiados, sendo por isso mais
resistentes às tentativas de envenenamento e às amenas cavaqueiras com
estranhos. Como são de fácil sociabilização, integram-se sem grandes
dificuldades em matilhas funcionais com o mesmo propósito, muito embora as
cadelas desta variedade possam apresentar inicialmente alguma resistência,
podendo guerrear com outras ou desinteressar-se do serviço, opções ligadas ao
seu perfil psicológico, qualidade do impulso à luta e inegável apelo silvestre.
E quando assim sucede, mais vale deixá-las conviver e capacitá-las
individualmente. A variedade lobeira é a que apresenta maior autonomia
funcional, porque é astuta, assaz exploradora e menos dependente da protecção
dos donos, equilibrando-se e tirando vantagem dos terrenos ao seu redor.
Exactamente por ser menos dependente da protecção dos donos e usar de astúcia,
o lobeiro é mais persistente que os demais, encontrando soluções que outros não
encontrariam sem o concurso de treino específico. A inquestionável rusticidade
dos lobeiros concorre para o aumento da sua resistência e melhor adaptação aos
diversos ecossistemas nas diferentes estações do ano, sendo próprios para
trabalhar em díspares amplitudes térmicas e em qualquer ponto do Globo,
mantendo incólumes os seus índices de prontidão e efectividade de serviço. Ser
proprietário de um lobeiro é um privilégio, porque exige pouco e tem muito para
dar, reclamando apenas que o compreendam.
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