domingo, 22 de novembro de 2015

CÃO QUE VAI À GUERRA DÁ, LEVA E…TRAZ!

No ano passado 5 a 10% dos cães militares usados pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos mostraram evidências claras de stress pós-traumático, quando usados nas diferentes guerras e conflitos como detectores de explosivos, de soldados inimigos e no varrimento de edifícios, afecção mental até agora desconsiderada por várias razões e que hoje se encontra comprovada, em tudo idêntica àquela que poderá afectar os seus tratadores e demais soldados, apesar desse stress pós-traumático poder também acontecer entre os cães de uso policial e até civil, como acabámos de referir na rubrica anterior. A doença entre os cães militares manifesta-se maioritariamente através do medo de soldados, disparos e rebentamentos, temores que normalmente alteram o seu comportamento em relação aos seus tratadores, tornando-os mais agressivos, dependentes ou tímidos, impedindo assim o cumprimento das suas tarefas. A doença já havia sido detectada em 2010 pelo Dr. Walter F. Burghardt Jr., Chefe de Medicina Comportamental no Hospital de Cães Militares Daniel E. Holland, na Base da Força Aérea de Lackland, localizada em San António no Texas/USA. Contudo, as opiniões não são unânimes e alguns veterinários não reconhecem o stress pós-traumático como um fenómeno comportamental.
O tratamento da doença varia consoante os casos, crendo muitos clínicos que a sua cura peremptória dificilmente sucederá, já que os cães são precariamente equilibrados, o que alvitra a possibilidade de reincidirem nos traumas. Segundo o que a experiência tem revelado, quanto mais cedo for detectada a doença melhor, porque as hipóteses de cura são substancialmente maiores. Geralmente usam-se ansiolíticos a curto prazo e nos casos mais difíceis antidepressivos a longo prazo. Para além da ajuda medicamentosa, os cães deverão ser treinados outra vez para se tornarem insensíveis aos eventos e situações angustiantes, cabendo aos seus tratadores acompanhá-los no vencer das dificuldades. A somar a isto, há clínicos que defendem o uso de contra procedimentos na recuperação dos animais, estratégia que tem sido bem-sucedida pelo reforço do comportamento que induz ao acerto nas tarefas, apesar de não se poder apagar da memória canina a ocorrência de um ou mais traumas somente pelo ensino de habilidades de enfrentamento. Raros são os casos de cães enviados para um Hospital Militar situado na Holanda e especializado no combate a esta doença, porque normalmente são avaliados e tratados no terreno pelos seus clínicos usuais e até nos locais onde são ou foram adestrados.
 Diante do stress pós-traumático que afecta homens e cães, o aforismo luso que diz: ”quem vai à guerra dá e leva” encontra-se inexacto e tarda em ser actualizado, porque quem lá vai dá, leva e… traz! Também debaixo desta doença e grave perturbação se compreende porque tantos cães policiais e militares, na hora de serem dispensados do serviço, são abatidos ao invés de serem integrados na sociedade civil, sucedendo o mesmo a muitos cães de guarda, provavelmente aos melhores, após a morte dos seus donos e treinadores. Se a recuperação dos cães passa também pela reeducação, conforme se pode intuir, a recuperação coerciva dos seus mestres torna-se obrigatória, nomeadamente daqueles que gostam de brincar às guerras e que transformam os seus cães em brinquedos letais, particular que ainda não sucede entre nós e que tem levado ao abate consecutivo dos animais, a mesma sentença que até há pouco tempo condenava também os soldados afectados pelo stress da guerra, que acabavam ingloriamente as suas missões diante de um pelotão de fuzilamento, sem ajuda e por conveniência. Feliz ou infelizmente nem todos nascemos para guerrear, verdade que vitimou, tem vitimado e continuará a vitimar homens e cães enquanto houver guerras e soldados à força (os bons guerreiros também têm limites). Oxalá os cães robotizados substituam quanto antes os genuínos e estes venham a ser para sempre soldados e arautos da paz, um símbolo e um veículo para a fraternidade possível entre os homens. Até quando continuará a Humanidade a condenar todas as espécies?

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