Os hindus do Nepal
celebram anualmente o dia dos cães integrado num festival religioso (Diwali -
festival das luzes) com 5 dias de duração, sendo o segundo dedicado a estes
animais, designado naquelas paragens por “Kukur Tihar”. Nessa ocasião os cães,
que se crêem ser mensageiros do Senhor Yamaraja (o deus da morte), são objecto
de homenagem, adoração e reverência, salpicados com pó de arroz de várias
cores, decorados com flores e obsequiados com comida, para exaltar o seu
préstimo e carácter sagrado, enquanto criaturas que mantêm com os homens um
profundo relacionamento (são também homenageados o corvo e a vaca, ainda que em
dias diferentes). Diz-se que no seu dia, os cães são capazes de abençoar todos
aqueles que com eles se cruzarem, enquanto ícones daquela religião e guardas das
portas da vida após a morte, representando também o conceito de “dharma” – o
caminho da rectidão, o que vagamente nos lembra, salvaguardadas as devidas
diferenças, Anúbis, o deus chacal da mitologia egípcia, também ele guardião dos
túmulos e juiz dos mortos. Não deixa de ser curioso reparar, que antes que os
ocidentais o fizessem, já os hindus celebravam o dia do animal, ainda que o
nosso não tenha um carácter religioso e se cinja ao propósito de alertar para o
bem-estar dos animais, apesar de não faltarem aqui adoradores de cães e gatos!
E nisto diferem os hindus
dos seus vizinhos muçulmanos e chineses, porque os maometanos consideram os
cães imundos e alguns chineses não dispensam comê-los. Essas diferenças
religiosas irão impedir muitos estados islâmicos de dotar as suas polícias de
companhias cinotécnicas, nomeadamente os mais radicais e dominados pela
“Sharia”, enquanto os hindus e chineses não as dispensam. Já por várias vezes,
como ilustração de artigos relativos ao serviço dos cães policiais, temos usado
fotografias das forças da ordem, indiana e nepalesa, corporações onde a
qualidade do adestramento não fica atrás do verificado no Ocidente, sendo-lhe
nalguns casos até superior.
Pondo de parte o carácter
religioso ou não e o consequente uso a dar aos cães, ninguém pode negar que
eles fizeram, fazem e continuarão a fazer parte da cultura de todos os povos,
independente de serem adorados, mal-amados, tornados párias ou recrutados como
auxiliares. Julga-se hoje, com alguma base científica, que a domesticação do
lobo familiar aconteceu primeiro na Ásia, o que a ser verdade mais credenciará,
do ponto de vista histórico, os adestradores asiáticos pelo peso da ancestral
convivência. Baixando “às terras de Espanha e areias de Portugal”, importa
continuar a denunciar os maus tratos e o abandono que continuam a vitimar os
nossos cães, flagelos que apenas nos envergonham diante de sociedades mais
evoluídas e perante outras mais primitivas que há muito não procedem assim.
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