Os australianos são
conhecidos como um povo descontraído, de coração mole e mão dura, características
que os tornam resistentes, indomáveis e pragmáticos. Os seus detractores dizem
que são assim por descenderem em parte dos condenados da Colónia Penal de Nova
Gales, fundada a 26 de Janeiro de 1788, e se assim é, estamos perante mais um
caso “de males que vieram por bem”! Terrível maldade foi a introdução da raposa
naquele Continente, predador não-nativo para ali levado no Séc.XVIII junto com
outros, que viu as suas fileiras reforçadas com a chegada da raposa-vermelha no
Século seguinte, ali introduzida com fins desportivos, uma caçadora inveterada
que tem levado quase à extinção algumas espécies indígenas, como é o caso do
pequeno Pinguim “Eudyptula”, uma ave que não voa e que é para ela uma presa
fácil (180 pinguins foram abatidos pelas raposas-vermelhas só em Outubro de
2004).
Na procura de soluções
para o problema, adiantou-se um produtor de frangos local conhecido por Swampy
Marsh, que sugeriu o uso de Pastores Maremmanos para protecção dos pinguins,
estratégia que se tem revelado eficaz pelo aumento do número daquelas aves no
seu habitat, que passou de um dígito para três. Neste momento já foram
instalados vários daqueles cães-pastores de origem italiana e breve outros virão
a ser adquiridos e até importados para o mesmo efeito. O Pastor Maremano
Abruzês (em italiano Cane da Pastore Maremmano-Abruzzese) é um molosso
rectangular, grande e poderoso, normalmente branco, multifacetado,
extraordinariamente territorial e protector, que se presta sem maiores
dificuldades para guardar qualquer grupo de animais, desde que previamente
familiarizado com eles, sendo em simultâneo fiel aos seus donos e afável com
crianças e adultos, podendo também ser treinado para guarda quando houver
necessidade disso, disciplina onde se tem notabilizado na sua terra de origem e
noutras latitudes, capacidade advinda do seu forte sentimento territorial.
Molossos de
características semelhantes não nos faltam por cá, cite-se o exemplo do Cão da
Serra da Estrela, do Cão de Gado Transmontano, do Rafeiro Alentejano, do Cão de
Castro Laboreiro e até do Cão de Fila de S. Miguel, raças que poderiam ser aqui
e noutras partes bem-sucedidas em idênticos trabalhos, como protectores de
espécies nativas em vias de extinção ou das domésticas em risco, o que faria
aumentar os seus créditos, valor e procura. Falta-nos iniciativa e pragmatismo,
sendo por vezes mais contemplativos do que dinâmicos, como se a morte não fosse
certa e a vida não merecesse ser aproveitada. O melhor remédio para o fatalismo
é varrê-lo, lutar contra as adversidades e procurar novidade. Se ao invés de
termos tantos “doutores da mula ruça” (1), tivéssemos mais alguns “Swampy Marshs” seria melhor para todos!
(1)O “doutor da
mula ruça” existiu mesmo, chamava-se António Lopes e exercia medicina em Évora,
onde era sobejamente conhecido mas não tinha diploma, por lhe faltar o dinheiro
para pagar o “canudo”, aquando dos seus estudos na Universidade espanhola de
Alcalá de Henares, local de nascimento de Miguel de Cervantes, maior vulto da
literatura castelhana. Em 1534 escreveu uma carta ao rei D. João III a
pedir-lhe que o mandasse analisar pelos médicos da corte de modo a poder
exercer a sua actividade sem qualquer contestação. Na resposta que obteve, em
23 de Maio desse ano, veio designado como “doutor da mula ruça”. O termo usa-se
em Portugal em três casos, todos eles pejorativos: para designar um falso
doutor, um pretenso doutor e um doutor sem préstimo, sendo este último caso o
que adoptámos no texto acima. (fonte primária: aspirinab.blogspot.com, edição
de 24 de Março de 2007).
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