Há criadores caninos que
lembram mágicos a tirar coelhos da cartola, felizmente que são raros, que na
hora de cumprirem com as suas obrigações, quando obrigados a entregar o registo
dos cachorros aos seus legítimos proprietários, que deveria acontecer no exacto
momento da venda, não o fazem. Com o passar do tempo e com o aumento do número
de cachorros vendidos, é possível que a confusão se instale e aconteça a troca
de registos, factores que não lhes causam qualquer embaraço mas que acabam por
embaraçar os estupefactos clientes, que tendo um cão negro com dois anos de
idade, acabam por receber o registo doutro mais novo ou mais velho, por vezes
de progenitores e variedade cromática diferente. Procedem assim porque lhes
sobram registos e há clientes que nunca os reclamam, o que é suficiente para
cobrir os que têm em falta e os donos contentam-se com qualquer registo. A falcatrua,
porque é disso que se trata, considerando a disparidade entre o animal e o
registo que lhe é atribuído, acabará por legitimar o engano e confundir as
contas de quem se servir daqueles animais para reprodução, que gerarão filhotes
inesperados e nada condizentes com a genealogia impressa dos seus
progenitores, que esperando uma ninhada de cor dominante, acabam por ser
surpreendidos por alguns recessivos e vice-versa, contrariando as leis da
genética, que de imediato tudo denunciarão, para já não falarmos daqueles que
tendo três cães em reprodução e um só campeão, registam a totalidade dos
cachorros como filhos do cão premiado, na esperança de os venderem melhor ou
mais depressa (digam lá se o exame do ADN faz falta ou não?). Diante destas
trapaças e ambiguidades, os indesejáveis cães de RI (Registo Inicial) tornam-se
mais fidedignos que alguns assim inscritos no LOP (Livro de Origens Português).
Como poderão dois cães preto-afogueados de construção exclusiva nessa variedade
cromática gerar cães pretos ou lobeiros?
Considerando estas
possibilidades aconselhamos os nossos leitores, na hora de adquirirem um
cachorro, a trazê-lo acompanhado do respectivo registo, para que não sejam
vítimas de qualquer trapaça, tendo o cuidado de verificar se a data de
nascimento, sexo e variedade cromática correspondem ao animal que pretendem
comprar, assim como conferir se a cor e a idade dos seus progenitores é a que
se encontra descrita no LOP. Sobrando daí alguma dúvida ou incerteza, há que
conferir os seus números de microchip, mormente agora diante da actual
austeridade. Mesmo assim é possível que cachorros de idade idêntica e
provenientes doutras ninhadas possam ser acrescentados à que se encontra
registada, sendo nela inseridos, ou porque os seus pais não foram registados ou
porque os criadores evitaram registar outras ninhadas, geralmente pouco
numerosas (registo do ADN dos cães dissiparia todas as dúvidas e impediria a
perpetuação das mentiras), uma vez que sobram por aí “Haus Beck’s” que nunca o
foram e Wienerau’s de dorso paralelo ao solo, alguns até com a garupa mais alta
do que a cernelha! A troca de registos presta-se ainda para o alcance de louros
indevidos, manigância que nos vitimou no passado, quando alguns criadores nos
compravam cachorros de qualidade por interposta pessoa, trocando-lhe depois os
registos, atribuindo os deles aos nossos e vice-versa, permuta que visava a
usurpação dos nossos créditos e que acabou por nos prejudicar, atentando assim
contra a dignidade do nosso trabalho, esforço e bom-nome. Não estará na altura de
acabar, de uma vez por todas, com esta política de “gato por lebre”? Engana-se
redondamente quem pensar que isto só se passa em Portugal, porque já sofremos
idênticos reveses com cães importados, animais estranhamente impedidos de se
reproduzirem e de linha averbada em contraposição à manifesta, vindos inclusive
da Alemanha.
Deseja-se, em abono da verdade, que doravante todos os Kennel Clubs
nacionais filiados na FCI tenham um banco de ADN dos cães por eles
certificados, o que ajudaria de sobremaneira os beneficiamentos e levaria a uma
melhor compreensão das raças, das suas necessidades e problemas. Em simultâneo,
tal permitiria combater a excessiva endogamia e consanguinidade, quer elas sejam
manifestas ou encobertas, responsáveis por um sem número de menos valias que
afectam o bem-estar, saúde, uso e longevidade dos cães, combate que em Portugal
ainda ninguém abraçou, quiçá também por razões económicas, o que constitui um
grave problema para a canicultura nacional, porquanto obsta à sua credibilidade
e avanço.
Sem comentários:
Enviar um comentário