domingo, 22 de novembro de 2015

QUAL PROBLEMA? NÃO HÁ PROBLEMA NENHUM!

Há criadores caninos que lembram mágicos a tirar coelhos da cartola, felizmente que são raros, que na hora de cumprirem com as suas obrigações, quando obrigados a entregar o registo dos cachorros aos seus legítimos proprietários, que deveria acontecer no exacto momento da venda, não o fazem. Com o passar do tempo e com o aumento do número de cachorros vendidos, é possível que a confusão se instale e aconteça a troca de registos, factores que não lhes causam qualquer embaraço mas que acabam por embaraçar os estupefactos clientes, que tendo um cão negro com dois anos de idade, acabam por receber o registo doutro mais novo ou mais velho, por vezes de progenitores e variedade cromática diferente. Procedem assim porque lhes sobram registos e há clientes que nunca os reclamam, o que é suficiente para cobrir os que têm em falta e os donos contentam-se com qualquer registo. A falcatrua, porque é disso que se trata, considerando a disparidade entre o animal e o registo que lhe é atribuído, acabará por legitimar o engano e confundir as contas de quem se servir daqueles animais para reprodução, que gerarão filhotes inesperados e nada condizentes com a genealogia impressa dos seus progenitores, que esperando uma ninhada de cor dominante, acabam por ser surpreendidos por alguns recessivos e vice-versa, contrariando as leis da genética, que de imediato tudo denunciarão, para já não falarmos daqueles que tendo três cães em reprodução e um só campeão, registam a totalidade dos cachorros como filhos do cão premiado, na esperança de os venderem melhor ou mais depressa (digam lá se o exame do ADN faz falta ou não?). Diante destas trapaças e ambiguidades, os indesejáveis cães de RI (Registo Inicial) tornam-se mais fidedignos que alguns assim inscritos no LOP (Livro de Origens Português). Como poderão dois cães preto-afogueados de construção exclusiva nessa variedade cromática gerar cães pretos ou lobeiros?
Considerando estas possibilidades aconselhamos os nossos leitores, na hora de adquirirem um cachorro, a trazê-lo acompanhado do respectivo registo, para que não sejam vítimas de qualquer trapaça, tendo o cuidado de verificar se a data de nascimento, sexo e variedade cromática correspondem ao animal que pretendem comprar, assim como conferir se a cor e a idade dos seus progenitores é a que se encontra descrita no LOP. Sobrando daí alguma dúvida ou incerteza, há que conferir os seus números de microchip, mormente agora diante da actual austeridade. Mesmo assim é possível que cachorros de idade idêntica e provenientes doutras ninhadas possam ser acrescentados à que se encontra registada, sendo nela inseridos, ou porque os seus pais não foram registados ou porque os criadores evitaram registar outras ninhadas, geralmente pouco numerosas (registo do ADN dos cães dissiparia todas as dúvidas e impediria a perpetuação das mentiras), uma vez que sobram por aí “Haus Beck’s” que nunca o foram e Wienerau’s de dorso paralelo ao solo, alguns até com a garupa mais alta do que a cernelha! A troca de registos presta-se ainda para o alcance de louros indevidos, manigância que nos vitimou no passado, quando alguns criadores nos compravam cachorros de qualidade por interposta pessoa, trocando-lhe depois os registos, atribuindo os deles aos nossos e vice-versa, permuta que visava a usurpação dos nossos créditos e que acabou por nos prejudicar, atentando assim contra a dignidade do nosso trabalho, esforço e bom-nome. Não estará na altura de acabar, de uma vez por todas, com esta política de “gato por lebre”? Engana-se redondamente quem pensar que isto só se passa em Portugal, porque já sofremos idênticos reveses com cães importados, animais estranhamente impedidos de se reproduzirem e de linha averbada em contraposição à manifesta, vindos inclusive da Alemanha.
Deseja-se, em abono da verdade, que doravante todos os Kennel Clubs nacionais filiados na FCI tenham um banco de ADN dos cães por eles certificados, o que ajudaria de sobremaneira os beneficiamentos e levaria a uma melhor compreensão das raças, das suas necessidades e problemas. Em simultâneo, tal permitiria combater a excessiva endogamia e consanguinidade, quer elas sejam manifestas ou encobertas, responsáveis por um sem número de menos valias que afectam o bem-estar, saúde, uso e longevidade dos cães, combate que em Portugal ainda ninguém abraçou, quiçá também por razões económicas, o que constitui um grave problema para a canicultura nacional, porquanto obsta à sua credibilidade e avanço.  

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