Literalmente ao virar da
esquina, encontrei um trintão com um Bulldog Francês de oito meses a passear, o
homem a reboque e o cão esganado por enforcador metálico, que evoluía
disparatado e debaixo de engasgo. Segundo o parecer daquele impróprio condutor
canino, sem o concurso do estrangulador jamais conseguiria trazer o animal à
rua, porque puxa que nem um desalmado e não atenta para os reparos. Adiantou
ainda que no princípio usou um peitoral e que o cão foi objecto de instrução
escolar lá para os lados de Algés, não esclarecendo quanto tempo por lá andou e
quais os resultados obtidos, muito embora tudo indique que a assiduidade
escolar de ambos não tenha sido muito grande considerando as dificuldades patenteadas.
Apostado em resolver-lhe o problema de “histórico” do cão, peguei no animal e
operei a devida correcção, pormenor que durou 5 minutos e que muito espantou o
homem, não sem que antes tivesse dado cabo da minha mão esquerda por conta da
trela ser de fita e abrasiva. Nestas coisas do adestramento, como em tantas
outras, o material tem sempre razão, as trelas deverão ser redondas e de
material não abrasivo, o que tornará cómodo e facilitará de sobremaneira o
trabalho a efectuar pelos condutores. Como complemento, importa dizer que os
cães braquicéfalos, considerando as suas dificuldades respiratórias e
cardíacas, deverão usar coleiras e não enforcadores ou estranguladores e, como
o Bulldog Francês é naturalmente bruto, o uso de peitorais pode ser contraproducente,
uma vez que podem instigá-lo à tracção e perpetuar o arraste.
domingo, 22 de novembro de 2015
ESTARÁ O PROF. PARDAL ENTRE NÓS?
O celebérrimo “Prof.
Pardal”, uma personagem fictícia e um galo antropomórfico criado em 1952 pelo
norte-americano Carl Barks para a Walt Disney Company, que viria a alcançar
diferentes nomes nos diversos países para onde foi expedido, merecendo na
língua de Shakespeare a designação de “Gyro Gearloose”, é um inventor cheio de
boas intenções cujos inventos nem sempre funcionam e que por vezes se revelam
até desastrosos, malogrando-lhe assim os desejos de poder valer aos outros.
Dizem as más-línguas por cá, rumores a que não reconhecemos qualquer verdade e
que determinantemente nos negamos a aceitar, apesar de não serem recentes, que
outros “Professores Pardais” subtraem ou aumentam graus no cálculo do “ângulo
de Norberg”, no intuito de valerem à sua clientela e “isentar” os seus cães de
displasia coxo-femoral. Debaixo deste clima de suspeição, que a ninguém serve e
que julgamos não ter qualquer fundamento, sem pôr em causa o bom-nome, a
honestidade, o profissionalismo e a competência dos nossos clínicos, antes
querendo comprová-los mais uma vez, aconselhamos, no caso dos Pastores Alemães,
que as radiografias aqui feitas sejam posteriormente enviadas para os
respectivos serviços da “SV” (Verein für Deutsche Schäferhunde), o que de
imediato anulará e para sempre, qualquer suspeita de compadrio ou conluio
caseiro pela certificação internacional obtida, ainda que a nós nos baste, sem qualquer
reticência, a efectuada pela Escola Superior de Medicina Veterinária ou por uma
entidade por ela credenciada e reconhecida. Em tempos de crise é natural que a
suspeição se generalize, particularmente entre nós, ainda mais quando um
inquérito efectuado pela consultora “Ernest & Young” sobre fraude e
corrupção, levado a cabo este este ano, coloca Portugal no 5º lugar dos países
mais corruptos num total de 38, logo a seguir à Croácia, Quénia, Eslovénia e
Sérvia, apesar de também se poder duvidar da veracidade dos dados obtidos.
Estamos crentes que tudo isto não passará, como noutros casos, de um mero “rebeubéu,
pardais ao ninho”.
QUE VENHA A CERTIFICAÇÃO POR ADN E QUANTO ANTES!
Como já acontece noutros
países, gostaríamos que todos os cães registados no LOP (Livro de Origens) do
Clube Português de Canicultura fossem objecto de certificação por ADN, o que a
nosso ver evitaria a “procriação” dos mortos, notabilizar bastardos, legitimar
mestiços, a troca de identidades e a perpetuação de enfermidades, achaques de
que infelizmente ainda não nos livrámos, apesar da presente crise económica ser
avessa à proliferação de chicos-espertos e oportunistas (nem tudo é mau).
Apesar do CPC fiscalizar mais amiúde as ninhadas do que outrora, a olho nu é
quase impossível detectar se os cachorros visitados têm ou não a ascendência
manifesta no seu registo, o que tem permitido um sem número de irregularidades
que atentam contra o propósito do nosso Kennel Club. Por outro lado, mediante a
recolha do ADN dos progenitores, proceder-se-ia à identificação, despiste e
desprezo dos responsáveis pela perpetuação das várias doenças e incapacidades de
origem genética que afectam actualmente a maioria das raças caninas. Há que dar
tempo ao tempo e quando menos se esperar esta medida será também aqui adoptada.
A MALFADADA HISTÓRIA DO DR. COMPINCHA
Há gente que tenta
escamotear as suas origens humildes, tal não é o caso do Dr. da nossa história,
que conservou as suas amizades de sempre e o seu singelo modo de vida, apesar
de ser o único da sua família a prestar o “Juramento de Hipócrates”, sendo
comum vê-lo em amena cavaqueira com gente simples, envolver-se nas suas
actividades e participar nos seus eventos, onde se sente como peixe na água e
um entre iguais, não obstante ser um reputado médico, mais dado a servir do que
a ser servido: “um gajo porreiro” no linguajar de quem o conhece. Acontece que
o nosso Dr., por mera casualidade, acabou por ser presenteado com um cão, um
excelente Labrador chocolate que deixa meio mundo de boca aberta e que é muito
solicitado para coberturas. Como o animal não se faz rogado e o bom do médico
não é capaz de dizer que não a ninguém, porque entende que não o tem para
negócio e a todos quer valer, o número de labradores nas redondezas tem
aumentado de sobremaneira.
Para além disto, porque é
desinteressado, confiado e com o seu quê de ingénuo, secretamente e por várias
vezes, tem cedido o registo do seu cão para registar ninhadas cujos pais não o
têm, no intuito de aumentar os parcos proventos dos desafortunados
proprietários, na sua maioria amigos de longa data, ignorando a ilegalidade do
acto e desconsiderando a qualidade e pureza racial das cadelas, que nalguns
casos acabam por gerar filhotes incaracterísticos, mal nutridos e portadores
das várias displasias, atentando assim contra o bom-nome do seu cão, de pureza
e saúde inquestionáveis, ao ponto de ninguém o procurar agora, por julgá-lo
responsável pela mestiçagem e propagação daquelas maleitas, particularmente
aqueles que têm cadelas de qualidade idêntica à do seu cão. E como toda gente é
pronta a “sacudir a água do capote” e o Dr. não quer passar por aldrabão, nada
mais lhe resta do que ficar calado, encolher os ombros e virar as costas,
pagando o cão as favas pelo seu desnorte e comportamento absurdo.
Esta narrativa é fictícia
mas tem o seu fundamento de verdade, repete-se vezes sem conta e acontece um
pouco por toda a parte, afastando excelentes cães da reprodução pela incúria
dos seus donos, animais que acrescentariam à sua raça importantes mais-valias.
Que cada um tire as suas conclusões e evite cair nos mesmos erros, já que foi
para isso que contámos esta história, que está longe de ser estória no mundo em
que vivemos.
QUAL PROBLEMA? NÃO HÁ PROBLEMA NENHUM!
Há criadores caninos que
lembram mágicos a tirar coelhos da cartola, felizmente que são raros, que na
hora de cumprirem com as suas obrigações, quando obrigados a entregar o registo
dos cachorros aos seus legítimos proprietários, que deveria acontecer no exacto
momento da venda, não o fazem. Com o passar do tempo e com o aumento do número
de cachorros vendidos, é possível que a confusão se instale e aconteça a troca
de registos, factores que não lhes causam qualquer embaraço mas que acabam por
embaraçar os estupefactos clientes, que tendo um cão negro com dois anos de
idade, acabam por receber o registo doutro mais novo ou mais velho, por vezes
de progenitores e variedade cromática diferente. Procedem assim porque lhes
sobram registos e há clientes que nunca os reclamam, o que é suficiente para
cobrir os que têm em falta e os donos contentam-se com qualquer registo. A falcatrua,
porque é disso que se trata, considerando a disparidade entre o animal e o
registo que lhe é atribuído, acabará por legitimar o engano e confundir as
contas de quem se servir daqueles animais para reprodução, que gerarão filhotes
inesperados e nada condizentes com a genealogia impressa dos seus
progenitores, que esperando uma ninhada de cor dominante, acabam por ser
surpreendidos por alguns recessivos e vice-versa, contrariando as leis da
genética, que de imediato tudo denunciarão, para já não falarmos daqueles que
tendo três cães em reprodução e um só campeão, registam a totalidade dos
cachorros como filhos do cão premiado, na esperança de os venderem melhor ou
mais depressa (digam lá se o exame do ADN faz falta ou não?). Diante destas
trapaças e ambiguidades, os indesejáveis cães de RI (Registo Inicial) tornam-se
mais fidedignos que alguns assim inscritos no LOP (Livro de Origens Português).
Como poderão dois cães preto-afogueados de construção exclusiva nessa variedade
cromática gerar cães pretos ou lobeiros?
Considerando estas
possibilidades aconselhamos os nossos leitores, na hora de adquirirem um
cachorro, a trazê-lo acompanhado do respectivo registo, para que não sejam
vítimas de qualquer trapaça, tendo o cuidado de verificar se a data de
nascimento, sexo e variedade cromática correspondem ao animal que pretendem
comprar, assim como conferir se a cor e a idade dos seus progenitores é a que
se encontra descrita no LOP. Sobrando daí alguma dúvida ou incerteza, há que
conferir os seus números de microchip, mormente agora diante da actual
austeridade. Mesmo assim é possível que cachorros de idade idêntica e
provenientes doutras ninhadas possam ser acrescentados à que se encontra
registada, sendo nela inseridos, ou porque os seus pais não foram registados ou
porque os criadores evitaram registar outras ninhadas, geralmente pouco
numerosas (registo do ADN dos cães dissiparia todas as dúvidas e impediria a
perpetuação das mentiras), uma vez que sobram por aí “Haus Beck’s” que nunca o
foram e Wienerau’s de dorso paralelo ao solo, alguns até com a garupa mais alta
do que a cernelha! A troca de registos presta-se ainda para o alcance de louros
indevidos, manigância que nos vitimou no passado, quando alguns criadores nos
compravam cachorros de qualidade por interposta pessoa, trocando-lhe depois os
registos, atribuindo os deles aos nossos e vice-versa, permuta que visava a
usurpação dos nossos créditos e que acabou por nos prejudicar, atentando assim
contra a dignidade do nosso trabalho, esforço e bom-nome. Não estará na altura de
acabar, de uma vez por todas, com esta política de “gato por lebre”? Engana-se
redondamente quem pensar que isto só se passa em Portugal, porque já sofremos
idênticos reveses com cães importados, animais estranhamente impedidos de se
reproduzirem e de linha averbada em contraposição à manifesta, vindos inclusive
da Alemanha.
Deseja-se, em abono da verdade, que doravante todos os Kennel Clubs
nacionais filiados na FCI tenham um banco de ADN dos cães por eles
certificados, o que ajudaria de sobremaneira os beneficiamentos e levaria a uma
melhor compreensão das raças, das suas necessidades e problemas. Em simultâneo,
tal permitiria combater a excessiva endogamia e consanguinidade, quer elas sejam
manifestas ou encobertas, responsáveis por um sem número de menos valias que
afectam o bem-estar, saúde, uso e longevidade dos cães, combate que em Portugal
ainda ninguém abraçou, quiçá também por razões económicas, o que constitui um
grave problema para a canicultura nacional, porquanto obsta à sua credibilidade
e avanço.
ELES E AS ÁRVORES MORREM DE PÉ!
A frase “as árvores morrem
de pé” é-nos particularmente grata, porque traz-nos à memória a Sr.ª D.ª
Palmira Bastos (1875-1967), uma renomada actriz de teatro portuguesa, filha de
pais espanhóis e actores de teatro ambulante, que já de avançada idade, a
rondar os 90 anos, representou notavelmente uma peça de teatro com o mesmo
nome, da autoria do espanhol Alejandro Casona (Alejandro Rodríguez Álvarez),
levada à cena no Teatro Avenida donde viria a ser televisionada e por isso conhecida do
grande público. Nela, como protagonista, Palmira Bastos diz no seu final: “Morta
por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores”, frase que ficou célebre na
televisão portuguesa e que possivelmente marcou uma das maiores actuações de
sempre desta memorável actriz. Também os cães morrem de pé, ao morrerem
primeiro por dentro no cumprimento das suas missões ou encargos, quando
sujeitos a grandes e sistemáticas tensões que os levarão ao desgaste e inevitavelmente ao encurtamento dos seus
dias, graças ao stress provocado pelo trabalho e pela participação nas mais
variadas modalidades desportivas, que tornando-os obcecados, os sujeitam a
duras sobrecargas e a tarefas repetitivas sem que eles desistam, finando-se
mais tarde como autómatos, quando a “máquina” deixar de responder. Exige-se, em
abono do bem-estar canino, que as respostas artificiais operadas pelo
condicionamento não inibam as que lhe são naturais, que a cumplicidade entre
homens e cães não se resuma somente aos momentos de trabalho, que o uso dos
cães não suplante os seus momentos lúdicos, de supercompensação e descanso,
porque tudo fazem, inclusive morrer de pé e lentamente, para nos servirem e
agradarem. Gostar de cães não se coaduna com tamanho tormento, há que
respeitá-los pelo que são e não pelo que representam, porque se sujeitam a
vários traumas, sendo alguns deles de difícil eliminação.
CÃO QUE VAI À GUERRA DÁ, LEVA E…TRAZ!
No ano passado 5 a 10% dos
cães militares usados pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos mostraram
evidências claras de stress pós-traumático, quando usados nas diferentes
guerras e conflitos como detectores de explosivos, de soldados inimigos e no
varrimento de edifícios, afecção mental até agora desconsiderada por várias
razões e que hoje se encontra comprovada, em tudo idêntica àquela que poderá
afectar os seus tratadores e demais soldados, apesar desse stress
pós-traumático poder também acontecer entre os cães de uso policial e até
civil, como acabámos de referir na rubrica anterior. A doença entre os cães
militares manifesta-se maioritariamente através do medo de soldados, disparos e
rebentamentos, temores que normalmente alteram o seu comportamento em relação
aos seus tratadores, tornando-os mais agressivos, dependentes ou tímidos,
impedindo assim o cumprimento das suas tarefas. A doença já havia sido
detectada em 2010 pelo Dr. Walter F. Burghardt Jr., Chefe de Medicina
Comportamental no Hospital de Cães Militares Daniel E. Holland, na Base da
Força Aérea de Lackland, localizada em San António no Texas/USA. Contudo, as
opiniões não são unânimes e alguns veterinários não reconhecem o stress
pós-traumático como um fenómeno comportamental.
O tratamento da doença
varia consoante os casos, crendo muitos clínicos que a sua cura peremptória
dificilmente sucederá, já que os cães são precariamente equilibrados, o que
alvitra a possibilidade de reincidirem nos traumas. Segundo o que a experiência
tem revelado, quanto mais cedo for detectada a doença melhor, porque as
hipóteses de cura são substancialmente maiores. Geralmente usam-se ansiolíticos
a curto prazo e nos casos mais difíceis antidepressivos a longo prazo. Para
além da ajuda medicamentosa, os cães deverão ser treinados outra vez para se
tornarem insensíveis aos eventos e situações angustiantes, cabendo aos seus
tratadores acompanhá-los no vencer das dificuldades. A somar a isto, há
clínicos que defendem o uso de contra procedimentos na recuperação dos animais,
estratégia que tem sido bem-sucedida pelo reforço do comportamento que induz ao
acerto nas tarefas, apesar de não se poder apagar da memória canina a
ocorrência de um ou mais traumas somente pelo ensino de habilidades de
enfrentamento. Raros são os casos de cães enviados para um Hospital Militar situado
na Holanda e especializado no combate a esta doença, porque normalmente são
avaliados e tratados no terreno pelos seus clínicos usuais e até nos locais onde
são ou foram adestrados.
MAREMMANOS GUARDAM PINGUINS NA AUSTRÁLIA
Os australianos são
conhecidos como um povo descontraído, de coração mole e mão dura, características
que os tornam resistentes, indomáveis e pragmáticos. Os seus detractores dizem
que são assim por descenderem em parte dos condenados da Colónia Penal de Nova
Gales, fundada a 26 de Janeiro de 1788, e se assim é, estamos perante mais um
caso “de males que vieram por bem”! Terrível maldade foi a introdução da raposa
naquele Continente, predador não-nativo para ali levado no Séc.XVIII junto com
outros, que viu as suas fileiras reforçadas com a chegada da raposa-vermelha no
Século seguinte, ali introduzida com fins desportivos, uma caçadora inveterada
que tem levado quase à extinção algumas espécies indígenas, como é o caso do
pequeno Pinguim “Eudyptula”, uma ave que não voa e que é para ela uma presa
fácil (180 pinguins foram abatidos pelas raposas-vermelhas só em Outubro de
2004).
Na procura de soluções
para o problema, adiantou-se um produtor de frangos local conhecido por Swampy
Marsh, que sugeriu o uso de Pastores Maremmanos para protecção dos pinguins,
estratégia que se tem revelado eficaz pelo aumento do número daquelas aves no
seu habitat, que passou de um dígito para três. Neste momento já foram
instalados vários daqueles cães-pastores de origem italiana e breve outros virão
a ser adquiridos e até importados para o mesmo efeito. O Pastor Maremano
Abruzês (em italiano Cane da Pastore Maremmano-Abruzzese) é um molosso
rectangular, grande e poderoso, normalmente branco, multifacetado,
extraordinariamente territorial e protector, que se presta sem maiores
dificuldades para guardar qualquer grupo de animais, desde que previamente
familiarizado com eles, sendo em simultâneo fiel aos seus donos e afável com
crianças e adultos, podendo também ser treinado para guarda quando houver
necessidade disso, disciplina onde se tem notabilizado na sua terra de origem e
noutras latitudes, capacidade advinda do seu forte sentimento territorial.
Molossos de
características semelhantes não nos faltam por cá, cite-se o exemplo do Cão da
Serra da Estrela, do Cão de Gado Transmontano, do Rafeiro Alentejano, do Cão de
Castro Laboreiro e até do Cão de Fila de S. Miguel, raças que poderiam ser aqui
e noutras partes bem-sucedidas em idênticos trabalhos, como protectores de
espécies nativas em vias de extinção ou das domésticas em risco, o que faria
aumentar os seus créditos, valor e procura. Falta-nos iniciativa e pragmatismo,
sendo por vezes mais contemplativos do que dinâmicos, como se a morte não fosse
certa e a vida não merecesse ser aproveitada. O melhor remédio para o fatalismo
é varrê-lo, lutar contra as adversidades e procurar novidade. Se ao invés de
termos tantos “doutores da mula ruça” (1), tivéssemos mais alguns “Swampy Marshs” seria melhor para todos!
(1)O “doutor da
mula ruça” existiu mesmo, chamava-se António Lopes e exercia medicina em Évora,
onde era sobejamente conhecido mas não tinha diploma, por lhe faltar o dinheiro
para pagar o “canudo”, aquando dos seus estudos na Universidade espanhola de
Alcalá de Henares, local de nascimento de Miguel de Cervantes, maior vulto da
literatura castelhana. Em 1534 escreveu uma carta ao rei D. João III a
pedir-lhe que o mandasse analisar pelos médicos da corte de modo a poder
exercer a sua actividade sem qualquer contestação. Na resposta que obteve, em
23 de Maio desse ano, veio designado como “doutor da mula ruça”. O termo usa-se
em Portugal em três casos, todos eles pejorativos: para designar um falso
doutor, um pretenso doutor e um doutor sem préstimo, sendo este último caso o
que adoptámos no texto acima. (fonte primária: aspirinab.blogspot.com, edição
de 24 de Março de 2007).
PARIS: LES JOURS DE GLOIRE SONT ARRIVÉS
Le soleil sera de retour à Paris et les Français vont
vivre éternellement en paix, parce qu'ils sont les gagnants et ils croient en
la liberté contre les chiens tueurs (The sun will return to Paris and the
French will live eternally in peace, because they are winners and they believe
in freedom against the killer dogs). Sim, o sol voltará a
brilhar em Paris e os franceses viverão eternamente em paz, eles serão os
vencedores porque crêem na liberdade contra os cães assassinos, dos quais
dentro em breve não restará memória.
OS CÃES TAMBÉM SE ABATEM
Foi morto a tiro esta
manhã por um terrorista, dia 18 do corrente mês, em Saint-Denis, nos arredores
de Paris, quando contava 7 anos de idade, a Pastora Belga Malinois e cão de
assalto “DIESEL”,
pertencente ao “RAID”
(Unidade Táctica da Polícia Francesa especializada em contra terrorismo tipo SWAT),
quando elementos daquele corpo policial cercaram e entraram de rompante num
apartamento suspeito de abrigar o terrorista Abdelhamid Abaaoud, tido como
mentor dos hediondos ataques à Capital francesa. O anúncio da morte deste cão
militar foi feito pela polícia via “twitter”, sendo visitado por mais de 11.000
interessados, quase 7 vezes mais que o anúncio anterior, que noticiava que 5
polícias haviam sido feridos no decorrer daquelas operações.
O desaparecimento desta cadela no cumprimento do dever provocou uma onda
espontânea de homenagens por toda a França e serviu para enaltecer o importante
papel dos cães farejadores e de assalto no combate ao terrorismo e aos
terroristas. Lamenta-se a morte do animal, que parece não ter sido em vão, já
que notícias recentes adiantam que o falso belga Abdelhamid Abaaoud terá sido
ali também abatido, o que não nos merece qualquer tipo de consternação, porque
o mundo seria e será substancialmente melhor sem facínoras da sua laia.
Todavia, permitam-nos discordar, cães mortos nestas circunstâncias não são
heróis mas vítimas, vítimas da sua irracionalidade e gratidão que tornam
possível o seu uso abusivo. E se o forem, sê-lo-ão à força, porque não sabem
que marcham para a morte e não procuram a glória do martírio, balelas em que
crêem os seus actuais opositores de barricada, movidos por um estranho profeta
ou por malévolo jinn que sempre os atiça.
KUKUR TIHAR: A SACRALIZAÇÃO DOS CÃES
Os hindus do Nepal
celebram anualmente o dia dos cães integrado num festival religioso (Diwali -
festival das luzes) com 5 dias de duração, sendo o segundo dedicado a estes
animais, designado naquelas paragens por “Kukur Tihar”. Nessa ocasião os cães,
que se crêem ser mensageiros do Senhor Yamaraja (o deus da morte), são objecto
de homenagem, adoração e reverência, salpicados com pó de arroz de várias
cores, decorados com flores e obsequiados com comida, para exaltar o seu
préstimo e carácter sagrado, enquanto criaturas que mantêm com os homens um
profundo relacionamento (são também homenageados o corvo e a vaca, ainda que em
dias diferentes). Diz-se que no seu dia, os cães são capazes de abençoar todos
aqueles que com eles se cruzarem, enquanto ícones daquela religião e guardas das
portas da vida após a morte, representando também o conceito de “dharma” – o
caminho da rectidão, o que vagamente nos lembra, salvaguardadas as devidas
diferenças, Anúbis, o deus chacal da mitologia egípcia, também ele guardião dos
túmulos e juiz dos mortos. Não deixa de ser curioso reparar, que antes que os
ocidentais o fizessem, já os hindus celebravam o dia do animal, ainda que o
nosso não tenha um carácter religioso e se cinja ao propósito de alertar para o
bem-estar dos animais, apesar de não faltarem aqui adoradores de cães e gatos!
E nisto diferem os hindus
dos seus vizinhos muçulmanos e chineses, porque os maometanos consideram os
cães imundos e alguns chineses não dispensam comê-los. Essas diferenças
religiosas irão impedir muitos estados islâmicos de dotar as suas polícias de
companhias cinotécnicas, nomeadamente os mais radicais e dominados pela
“Sharia”, enquanto os hindus e chineses não as dispensam. Já por várias vezes,
como ilustração de artigos relativos ao serviço dos cães policiais, temos usado
fotografias das forças da ordem, indiana e nepalesa, corporações onde a
qualidade do adestramento não fica atrás do verificado no Ocidente, sendo-lhe
nalguns casos até superior.
Pondo de parte o carácter
religioso ou não e o consequente uso a dar aos cães, ninguém pode negar que
eles fizeram, fazem e continuarão a fazer parte da cultura de todos os povos,
independente de serem adorados, mal-amados, tornados párias ou recrutados como
auxiliares. Julga-se hoje, com alguma base científica, que a domesticação do
lobo familiar aconteceu primeiro na Ásia, o que a ser verdade mais credenciará,
do ponto de vista histórico, os adestradores asiáticos pelo peso da ancestral
convivência. Baixando “às terras de Espanha e areias de Portugal”, importa
continuar a denunciar os maus tratos e o abandono que continuam a vitimar os
nossos cães, flagelos que apenas nos envergonham diante de sociedades mais
evoluídas e perante outras mais primitivas que há muito não procedem assim.
CÃES NEGROS: MITOS E FACTOS
Não resta dúvida que os
Pastores Alemães negros granjearam-nos fama, tanta que sempre nos associaram a
eles, apesar da sua proliferação nunca ter excedido, mesmo nos momentos de
maior procura, 25% do total de todos os Pastores Alemães que criámos, sendo os
lobeiros a variedade que mais produzimos (40%), seguida dos preto-afogueados
(30%), distribuindo-se o restante pelas variedades uniformes cinzenta (3%) e
vermelha (2%). Por causa disso, ao longo de toda a nossa existência, só numa
ocasião conseguimos apresentar uma esquadra composta exclusivamente por negros
(agrupamento táctico e fracção evolutiva de um grupo canino constituído por
seis cães), tanto em treino como em exibições, apesar de desejarmos
ardentemente possuir e apresentar mais esquadras dessa cor, porque nela
descobrimos cães excepcionais dos pontos de vista morfológico, cognitivo e funcional,
ainda que ao tempo a variedade fosse depreciada por ser recessiva, pouco vista
e por muitos desconhecida.
Uma ONG no Reino Unido que
se dedica a encontrar novos lares para os galgos dispensados das corridas,
normalmente por estoiro ou velhice, está com um grave problema, porque a maior
parte desses lebréis é de cor negra e a maioria dos potenciais interessados
desiste da sua adopção por causa desse pormenor. Para o aumento dos Greyhounds
desta variedade cromática melânica muito contribuiu um famoso campeão negro:
“Top Honcho”, que foi pai de 10.411 cachorros, o que fez com que 80% dos galgos
retirados das corridas e carentes de adopção sejam ali dessa cor. Em vão se tem
esforçado os seus resgatadores, tentando sensibilizar as pessoas interessadas
para a adopção de um galgo negro (passa-se idêntico problema com os gatos
negros para adopção).
Esta aversão à cor negra
deve-se apenas ao nosso imaginário colectivo, a mitos e lendas ancestrais que
ainda não varremos da nossa cultura, a um todo de superstições que teimamos em
não largar, que associam os animais negros a bruxas, maus presságios, a mortes,
desgraças e até à presença do diabo, (ultimamente tem sido usado um gato negro,
assanhado e com as unhas afiadas como símbolo do anarquismo), o que leva muitos
a não temer cães doutra cor e a intimidar-se perante os negros, apesar destes
serem ordinariamente mais “ajuizados” que os seus congéneres doutras cores, como
iremos explicar e perceber já a seguir, uma vez que tal asco, ao ser contrário
à razão, assenta sobre um preconceito irracional. Bem sabemos que os cães
negros são difíceis de fotografar, que carecem de uma intensidade de luz
específica para ficarem bem no retrato e que se confundem entre iguais, o que
os torna indiferenciados e menos apelativos para os mais desatentos.
Como os lobos não possuíam
originalmente o gene da cor negra, vindo a adquiri-lo mais tarde através dos
cães, os cães negros são menos silvestres e mais cúmplices, mais aptos para o
trabalho binomial e fáceis de ensinar. A somar a isto, são os que largam menos
odor, porque secam mais rápido que os seus companheiros doutras cores, o que
lhes irá facilitar a coabitação dentro do lar dos seus donos. E como são
precoces, atingindo as diferentes maturidades mais cedo, assumem prontamente o
seu status e incumbências. A cor negra nos cães encontra-se ligada a um maior
impulso ao conhecimento, vantagem que os dotará de maior capacidade de
aprendizagem, facto que temos vindo a comprovar. A maioria das raças caninas
que se têm notabilizado no trabalho tiveram na sua origem ou ainda conservam
exemplares negros (ex: Border Collie, Bouvier da Flandres, Labrador, Pastor
Alemão, Pastor Belga, Podengo Português, Rottweiler, Terra Nova e a maioria das
raças bicolores “Black and Tan”, entre tantas outras). Contrariando a infundada
fama demoníaca que injustamente os persegue, é nos cães negros que se encontram
os companheiros mais dóceis e humildes, como é o caso do Cão de Água Português.
Muito mais haveria a dizer sobre eles e as vantagens que carregam, o que não os
isenta em simultâneo de alguma menos valia ou dificuldade. Contudo, o que
dissemos acerca deles basta para que sejam melhor considerados e não
desprezados. Se depois do que fizemos saber ainda alguém persistir em achá-los
demoníacos, será melhor que se mande exorcizar ou então que vá para o diabo que
o carregue!
QUAL DELES SERÁ O INDICADO (2)?
Determinada senhora tem
uma Pastora Alemã preta-afogueada, bastante robusta e de linha laboral,
portadora de uma garupa forte e por sinal sensivelmente mais alta do que a
cernelha, pormenor associado a uma menor angulação dos posteriores. Vista de
frente a cadela é irrepreensível, porque se apresenta bem aprumada, com o
preito largo e profundo, mais-valias que associa a uma excelente ossatura. Como
o animal já tem mais de 3 anos, a dona pretende beneficiá-la, apostada em não
transmitir ou minorar nos cachorros o defeito visível na futura matriarca. Como
resposta ao seu propósito, 4 cães foram postos à sua disposição: um
preto-afogueado com 70cm de altura, robusto e de linha laboral; um macho
lobeiro convexo de dorso e bem angulado de traseira, apesar de estreito de
peito e com divergência de mãos; um cão negro bem aprumado e de linha laboral,
com a linha do dorso paralela ao solo e de excelente ossatura e finalmente um
cão de linha estética, mais leve de osso, todo padronizado e muito angulado dos
quartos traseiros. Por qual deles deverá optar? Para a semana adiantaremos qual
a escolha certa e porquê, equacionando para os nossos leitores um novo caso.
RESPOSTA PARA O PROBLEMA DA EDIÇÃO ANTERIOR
A escolha certa para o problema da edição
anterior aponta para o 4º caso: o do
cão preto-afogueado homozigótico de
linha de trabalho, uma vez que se procura a obtenção de melhores garupas,
porque é nesta variedade laboral que se encontram as melhores e mais
equilibradas, respeitando a conformação clássica “1-2-1” (28% de espádua, 44%
de dorso e 28% de garupa sobre o comprimento entre o externo e o ânus). Apesar
de sempre subsistirem na raça cães muito-angulados e angulados, a opção pelos
segundos generalizou-se, o que torna impróprios os preto-afogueados de linha
estética para este efeito, porque são essencialmente frente em detrimento da
traseira. Sobre esta matéria e para comprovação, convém ver os registos
fotográficos dos cães das décadas de 20 e 30 do século passado, responsáveis
pelos robustos cães dos anos 50 e 60. De qualquer modo, porque os dois tipos de
morfologia e angulação sempre se fizeram presentes na raça (as garupas
estreitas são próprias dos cães muito angulados), somente nalguns cachorros
será visível o beneficiamento procurado, necessitando todos eles de virem a ser
beneficiados com parceiros de garupa equilibrada, uns para a fixação desse
pormenor morfológico e os outros para o alcançarem, porquanto não são “produto acabado”
e só 3 gerações depois verão fixada a melhoria pretendida, que finalmente se
estenderá sobre a totalidade da sua descendência.
Pelo que atrás dissemos, o
beneficiamento da cadela com um cão preto-afogueado de linha estética seria um
autêntico disparate, porque mais contribuiria para o estreitamento da garupa na
futura prole. Também o beneficiamento com o cão negro de meia-linha seria de
desprezar, por descender da linha estética e a sua variedade cromática, quando
pura, não apresentar a robustez necessária, perdendo tamanho e envergadura ao
longo das gerações por ser precoce. É sabido que os bons negros resultam de
beneficiamentos com outros de cor diferente e com uma curva de crescimento mais
longa. Historicamente costumam cruzá-los com os lobeiros, o que do ponto de
vista funcional se tem revelado óptimo mas que morfologicamente os condena,
sendo geralmente pernaltos (com muita altura e pouca envergadura ou baixos com
excesso de comprimento). O beneficiamento negro-preto-afogueado é o que melhor
serve a ambas as variedades, desde que o segundo possua a robustez necessária,
o que cada vez é mais raro. Beneficiar a cadela com um lobeiro grande mais
aumentaria a disparidade entre a espádua e a garupa, o que seria um grave retrocesso.
A variedade red sable é uma versão optimizada, se assim se puder chamar, dos
ancestrais lobeiros, que resultou da contribuição destes, do negro e de cães de
linha estética, sendo por isso um cão a evitar para este propósito, por não se
saber ao certo o que transmitirá, se a robustez doutrora ou a perca ponderal
actual, se perpetuará a proto-selecção lobeira ou transmitirá as
características dos cães de linha estética. Em qualquer dos casos,
morfologicamente falando, não seria o cão indicado para beneficiar aquela
cadela.
NOVA FOTO DE HACHIKO
Segundo divulga a “LIFE WITH
DOGS”, foi encontrada recentemente uma foto inédita do cão japonês Hachiko,
exactamente a que ilustra este texto, que ficou famoso pela sua lealdade ao
dono e cuja história deu origem a vários filmes, animal de quem falámos na
nossa rubrica “HACHIKO–HACHI:
PATRIMÓNIO DO JAPÃO”, datada de 15 DE
MARÇO DE 2014. A foto, que tem 81 anos e é original, foi tirada por Isamu Yamamoto na
Estação de Comboios de Shibuya em 1934, local onde cão esperou sem sucesso o
retorno do seu dono durante nove anos e foi encontrada por familiares de
Yamamoto quando se encontravam a limpar a sua antiga casa. Mais pormenores
sobre a vida deste cão e da devoção que os japoneses lhe dedicam, podem ser
encontrados no artigo que atrás mencionámos. A presente foto vai juntar-se às
escassas que existem deste inigualável Akita, em muito responsável pela
veneração nipónica por esta raça.
CORREIO DOS LEITORES (1)
Esta semana recebemos dum
leitor o seguinte comentário acerca do texto “BALI NÃO É SÓ PAISAGEM, TAMBÉM TEM O KINTAMANI!”,
editado em 27/12/2014,
que transcrevemos na íntegra: “Amo tanto
os Kintamanis... São cães tão belos e misteriosos quanto a terra que os formou.
Como não amar esses cães tão imponentes? É óbvio que eles carregam a mística e
a amabilidade Balinesa no olhar, como não se apaixonar? Eles são a pérola de
Bali, a jóia mais preciosa da ilha. Conheço alguns vendedores, e pretendo
comprar um casal para difundir essa raça cá no Brasil”. Resta-nos dizer que
este leitor é uma pessoa de bom gosto, que prima pela diferença e sabe bem o
que quer. Oxalá consiga realizar os seus intentos brevemente. Recebemos outro
email de um leitor apaixonado pelos Pastores Alemães e também pelo Kintamani,
como resposta ao artigo “UNSER
KAMPF: VERHINDERN, DASS DIE TÖTUNG ZUM DRITTEN MAL”
editado na semana passada, que adiantamos sem rasuras: “Belíssimo post! Amo pastor alemão. Pena que não tenho um :(também amo
muitooo o kintamani, uma raça de cachorro lá de Bali. Não é à toa que amo os
balineses e seu cão indígena. Acho que devia ter nascido em Bali hahaha falando
sério, queria ter um kintamani. Inclusive, tenho os contatos de um canil. Se me
mudar para uma casa, é certo que compro um casal de kintamani ;) é meu maior
sonho. PS: também quero fundar um abrigo para animais abandonados”. Supomos
que o seu autor também seja brasileiro e torcemos para que realize os seus
sonhos.
PIADA DA SEMANA
Eis aqui um claro exemplo
da sabedoria presente na terceira idade, neste cartoon enviado por um nosso
leitor.
RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS
O Ranking semanal dos
textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ OS FALSOS PASTORES
ALEMÃES, editado em 24/02/2015
2º _ PASTOR
ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
3º _ A CURVA DE
CRESCIMENTO DAS DIVERSAS LINHAS DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
4º _ UNSER KAMPF:
VERHINDERN, DASS DIE TÖTUNG ZUM DRITTEN MAL, editado em 02/11/2015
5º _ A ESCOLA OFICINA,
editado em 14/09/2009
6º _ BRENO D’ACENDURA
BRAVA: NASCIDO EM ALCAINÇA PARA RASTREAR NA ALEMANHA, editado em 02/11/2015
7º _ PASTORES ALEMÃES
LOBEIROS: O QUE OS TORNA ESPECIAIS, editado em 02/11/2015
8º _ O PREÇO DOS CÃES E A
VENDA DOS CAVALOS NA GOLEGÃ, editado em 02/11/2015
9º _ O MELHOR E O PIOR DO
PASTOR SUIÇO: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FUNCIONAL, editado em 21/06/2011
10º _ SERÁ O BOERBOEL UMA BESTA APOCALÍPTICA?, editado em 02/05/2015
TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS
O TOP 10 semanal de
leitores por país ficou assim escalonado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º
Estados Unidos, 4º Ucrânia, 5º Alemanha, 6º Reino Unido, 7º França, 8º Itália,
9º Irlanda e 10º Rússia.
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
UNSER KAMPF: VERHINDERN, DASS DIE TÖTUNG ZUM DRITTEN MAL
Relativamente aos Pastores
Alemães, passámos os últimos 40 anos a lutar para que não morram pela terceira
e derradeira vez, porque tanto homens como cães morrem 3 vezes, sucedendo
primeiro a morte física, depois o desaparecimento da sua memória e finalmente
assiste-se à sua deturpação, e tudo isso tem acontecido com este excelente cão
de trabalho, cada vez menos visto e com um legado inconfundível, que mercê do
rompimento com os pressupostos selectivos originais, aparece hoje falsificado e
com menor préstimo, sendo actualmente uma ténue imagem do seu passado glorioso
e um vivo atentado ao que já foi. Apesar de conhecermos os responsáveis e as
causas que levaram a tamanho descalabro, que temos identificado e denunciado
através deste blog, mais nos importou, mediante a recolha de escassos
exemplares dispersos, devolver à raça as suas mais-valias e perpetuá-las entre
nós, tarefa morosa e dispendiosa a que não nos furtámos e missão que tem valido
a pena. É possível que futuramente o nosso labor seja inglório mas não o será
de todo, porque ao “ressuscitarmos” os cães do passado, ainda os teremos por
mais algumas décadas, cabendo às gerações vindouras o seu desprezo ou
proliferação. E nisto não estivemos sós, porque noutras latitudes outros
abraçaram e continuam a abraçar o mesmo objectivo, teimosamente trilhando o
mesmo caminho, passando idênticas agruras na procura do mesmo sucesso. Daqui
queremos enviar uma palavra de alento e de esperança para os criadores das
variedades recessivas presentes na raça, para que continuem a apostar nelas, assim
como incentivar os criadores da variedade branca, para que não deixem de lutar
até alcançarem a mais do que justa integração dos seus cães, uma vez que são
parte importante do património desleixado do Cão de Pastor Alemão.
E para que amanhã não
adulterem o que dissemos e fizemos, vamos agora manifestar as nossas
preocupações e prioridades relativas aos Pastores Alemães, em tudo idênticas às
presentes na sua origem e a quem emprestámos um cunho particular, considerando
que cada cruzamento é um beneficiamento. Sempre que possível optámos por
beneficiamentos entre exemplares de variedades cromáticas diferentes, sabendo
que cada uma delas transporta qualidades em défice nas outras, por força da
exasperada eugenia negativa que levou à criação isolada de cada uma delas,
saldo negativo garantido pela despudorada endogamia e pela inevitável
consanguinidade. Ainda debaixo desta preocupação, valemo-nos de reprodutores de
100 canis diferentes, tanto nacionais como estrangeiros. Esta política
selectiva de “quadro aberto” teve como resultado a obtenção de exemplares mais
completos e melhor equilibrados dos pontos de vista sensorial, atlético, psicológico e cognitivo, que viriam a dotar os nossos cães de maior disponibilidade,
resistência e longevidade. Para combatermos eficazmente o pernaltismo e a
ausência de envergadura, também o nanismo e gigantismo, entendemos e nisso
fomos bem-sucedidos, não cruzar progenitores com uma diferença de altura
superior aos 4cm. Mais do que nos machos, assentámos a nossa criação sobre a
qualidade das fêmeas, já que estas pesam mais na reprodução, facto que
comprovámos pelo empirismo.
A nossa primeira demanda
tem sido e sempre foi pelo superior impulso ao conhecimento, prémio genético
que possibilita a melhor adaptação dos cães e que lhes garante em simultâneo a
versatilidade e a multifuncionalidade. Cativos a esse propósito, nunca usámos
exemplares dispensados ou arredados do trabalho, porque nenhum indivíduo
laboral sobrevive exclusivamente de expectativas, necessitando de ser testado
para aquilo que foi criado e nisso ser aprovado. Assim, arredámos da criação os
exemplares que não conseguiam absorver facilmente 35 comandos básicos de
obediência e 8 dinâmicos, os pouco curiosos e nada astutos, os parcos de
autonomia, os cobardes, os ansiosos e pouco atentos, os inseguros e dados a
provocações, os portadores de pirofobia e acrofobia, os hidrófobos e os
claustrofóbicos, os deficitários da percepção sensorial exigível, os que
apresentavam dificuldades de travamento, os resistentes à sociabilização e à
cumplicidade, assim como os demasiado instintivos, ainda que morfologicamente
irrepreensíveis e agradáveis à vista, desprezando também os menos apetrechados
de memória mecânica e aqueles que resistiam à transição da linguagem verbal
para a gestual e/ou sonora.
Uma vez comprovado o
superior impulso ao conhecimento dos candidatos a progenitores, aquilatávamos
da sua riqueza nos principais impulsos herdados (ao alimento, movimento, à
defesa, à luta e ao poder), dispensando de imediato os candidatos com fraca
apetência pelo alimento, os avessos ao exercício físico, os incapazes de se defender
e atacar e os que não resistiam à sua despromoção social. Apostados na vertente
atlética dos nossos cães, exigíamos e exigimos deles, independentemente do
sexo, os seguintes valores ou marcas mínimas: 45km/h de velocidade instantânea;
cadência natatória de 3.6km/h; 3.25m de salto em extensão; 1,2m de salto em
altura; 2,75m na Ponte-Quebrada, muro de 2,5m; subida de escadas; solução de
obstáculos tácticos combinados; saltos sobre obstáculos de projecção negativa;
desembraço no rastejador e nos túneis; transporte de halteres até 3kg, superior
equilíbrio sobre diversas plataformas oscilantes e baloiços, dando a prioridade
aos que recuperam mais depressa dos esforços e aqueles que em descanso oscilam
entre as 50 e 80 pulsações por minuto.
Como nunca entendemos a
disciplina de guarda desregrada mas como decorrente da cumplicidade e da
obediência, exigimos aos nossos reprodutores que aguardem ordens até 2 horas,
permanecendo quietos no mesmo local na ausência dos donos (travados ou com
tarefa distribuída); que sejam resistentes à contra-ordem (indiferentes a
ordens alheias) e ao suborno (recusa de engodos), que absorvam e cumpram todo o
currículo clássico da obediência, tanto em situações favoráveis como debaixo de
tensão. Nenhum deles virá a ser seleccionado se não defender o seu condutor e
os seus pertences, efectuar ataques e capturas a uma distância mínima de 50m,
debaixo de fogo ou não, acontecendo o último disparo exactamente no momento da
captura. Todos deverão ser aprovados no verdadeiro contra-ataque e terão que
ser capazes de desarmar, revistar e acompanhar debaixo de custódia os seus
agressores. Todo o cão que cuja cessação dos ataques não seja igual à sua
prontidão, será automaticamente dispensado da reprodução, assim como aquele que
apresentar dificuldades em se constituir parte de uma matilha funcional (com
idêntico propósito e objectivo). Este grau de exigência, ainda que não seja
esse o nosso principal objectivo, visa a futura participação e aprovação das
proles nas distintas provas destinadas aos cães de utilidade. Cão que não se
presta prá pistagem também deverá ser arredado da reprodução. As exigências não
se esgotam aqui e não é por acaso que dizem que os cães da Acendura Brava já
nascem ensinados, “com uma drive ou cassete” (não há como experimentar e para
comprovar basta adquirir um dos noticiados “panzerhunde”. Os cães da Acendura
Brava encontram-se distribuídos por uma dúzia de afixos, só sendo detectáveis,
para quem os desconhece, pela sua genealogia).
O nosso objectivo sempre
foi o de produzir cães dedicados, de fácil ensino, guardiões, multifacetados,
valentes, atletas, disponíveis, competitivos, com boa presença física,
resistentes, impolutos e incorruptíveis, de igual valia em ecossistemas
terrestres e aquáticos, próprios para a detecção de diversas substâncias
químicas e para o resgate e salvamento, capazes de acompanhar os seus donos nas
situações mais duras e através de qualquer meio de transporte. Diante de
tamanho encargo não podíamos e não podemos descorar também o seu pormenor
morfológico, para que fisicamente pudessem e possam responder de modo
afirmativo às mais variadas solicitudes. Assim, continuamos a isentar da
criação os indivíduos parcos de cabeça e ossatura, de peito estreito ou
invertido, os selados, os muito angulados e por demais abatidos de traseira
(preferindo os que apresentam a convexidade natural do dorso), os de garupa
estreita e de pouca massa muscular (porque o “motor” dos cães é atrás), os de
mãos atiradas para fora e com exagerado abatimento de metacarpos, aqueles que
descodilham em marcha, os que apresentam dificuldades na transição dos
andamentos naturais, os portadores de costelas rectas e com jarrete de vaca, os
de propensão quadrada e os exemplares demasiado compridos. Atendendo à
necessidade de se produzirem cães para todo o terreno e com características
anfíbias, escolhemos para progenitores os indivíduos que apresentem membranas
interdigitais menos rasgadas, particular que sempre tem caracterizado os nossos
cães.
Diante da saúde exigível
aos cães, abominamos a consanguinidade e a endogamia, desprezamos para o mesmo
fim os criptorquídeos, os diferentes prógnatas, os ricos em alergias, os de
tendência obesa, os afectados pela insuficiência endócrina, pelo abatimento ou
má implantação de orelhas, com histórico familiar em otites, doenças
coronárias, artroses, bolsas de líquido sinovial, mielopatia, panosteíte,
displasias do ombro e coxo-femoral, assim como os pouco angulados de traseira e
os portadores doutras más formações que impliquem nalgum tipo de insuficiência
ou menos valia. Quanto à displasia coxo-femoral, porque já fomos vítimas dela
no passado, não beneficiamos hoje cães que não se encontrem isentos até 4
gerações para trás, porque já aconteceu beneficiarmos cães isentos mas que eram
portadores da doença. Do mesmo modo, desprezamos os cães que foram e são
fabricados em laboratório, aqueles que beneficiaram dos bons ofícios do bisturi
e do socorro de anabolizantes e hormonas de crescimento, “ajudas” que
geneticamente não transportam.
A nosso ver é obrigatório,
a quem se propõe criar Pastores Alemães, aprender com os erros do passado,
evitá-los no presente e projectar a raça para o futuro de acordo com o seu propósito,
qualidade, mais-valias e bom-nome originais. A experiência ensinou-nos a não
nos valermos de cadelas com menos de 58cm e abaixo dos 34kg e de machos acima
dos 68cm, com peso abaixo dos 38 ou acima dos 45kg. Dividindo-se o peso pela
altura, o valor desejável para os machos aos 12 meses deverá ser de 1.7 e o das
fêmeas de 1.8 a 1.9, considerando as suas múltiplas atribuições, pois estamos a
falar de cães de trabalho e não de infiltrados gerados pela beleza. Um cachorro
CPA razoável nasce com 450g e os maiores com 700g (excepcionalmente surgem
animais acima deste limite). Oportunamente debruçar-nos-emos sobre o cuidado a
haver na gestação e no acompanhamento dos filhotes. Se quando morre um cão,
morre um pouco de nós, atendendo ao valor e ao número dos que já nos deixaram,
há muito que deveríamos estar mortos. E se ainda cá estamos, não nos resta
outro remédio do que tentar produzir outros iguais e encorajar outros a
alcançá-los.
Seleccionar cães assim não é tarefa fácil, exige conhecimento, estudo e
disponibilidade, há que conhecer e identificar, nos animais e no papel, as
principais matrizes da raça (linhas), a sua origem e por onde se encontram
dispersas ou encobertas, para tornar possível o retorno à qualidade original, o
que nos leva agora a filtrar os cães da extinta DDR no meio das linhas checas
em voga, procurando nelas a dominância das afamadas linhas doutrora, no intuito
de nos livrarmos das criações desastrosas que lhes sucederam. Menos trabalho,
despesa e revezes teremos, se optarmos pelos Pastores Alemães produzidos na
Bélgica, há várias décadas de qualidade muito superior aos que se produzem na
Alemanha. Tanto no Canadá como nos Estados Unidos, subsistem ainda nichos de
criadores de cães de trabalho, animais de que vamos tendo conhecimento pela
internet e cuja origem incólume muito procuramos, trabalho de prospecção que
visa combater a pretensa evolução que se atribui à raça. Entre as linhas
tangentes às duas Grandes Guerras assistiu-se a uma clara evolução e é ainda possível
chegar à qualidade dos cães dos anos 40 e 50 pelo contributo dos Pastores da Commonwealth.
A qualidade dos Pastores Alemães tem vindo a crescer entre nós, facto que ficou
a dever-se ao aumento dos criadores de pretos e lobeiros e aos beneficiamentos
entre ambos para melhorar o actual preto-afogueado.
Dito isto, uma pergunta
paira no ar: porque não nos agradamos dos actuais Pastores Alemães? Porque
morfologicamente são disfuncionais, psicologicamente são pouco seguros e a sua
capacidade laboral é diminuta (é evidente que existem excepções). Em vão nos
acusarão de idealistas, porque produzimos e continuamos a produzir cães que
ombreiam lado a lado com os cães do passado, Pastores Alemães na verdadeira
acepção da palavra, animais multifuncionais e robustos, seguros e decididos,
próprios para as tarefas que sempre abraçaram, aptos para os desafios do
presente e prontos para os do futuro, graças ao superior impulso ao
conhecimento que transportam e à disponibilidade que sempre os notabilizou.
BRENO D’ACENDURA BRAVA: NASCIDO EM ALCAINÇA PARA RASTREAR NA ALEMANHA
Apesar de termos exportado
(também importámos) Pastores Alemães para todos os continentes, de enviarmos
alguns para várias polícias africanas, de vermos congelado o sémen de dois
deles para futura utilização (já na década de 90) e da sua qualidade ser
respeitada um pouco por toda a parte, por se evidenciarem em distintos serviços
e provas, nunca embandeirámos em arco, porque mais nos importava a satisfação
dos donos que o nosso enaltecimento. Debaixo deste princípio e não por
ingratidão aos cães, raramente fizemos menção dos seus feitos. Tardiamente,
porque já morreu, vamos falar aqui do Breno D’Acendura Brava, um pastor nascido
na Escola de Alcainça/Mafra, em 03/11/97, filho de Brusko-Grau da Quinta do ABC
(cinzento) e da Zulmi (preta-afogueda), um cão de trabalho e um rastreador de
nomeada, registado sob o nº 175245 no LOP e conduzido pela Sr.ª Liliana Wieman,
uma cidadã argentina casada com um alemão, um alto funcionário da Tabaqueira
Philip Morris, dos quais não temos hoje notícia. A foto que introduz este
artigo é do Breno já em avançada idade, facto comprovado pelas faces brancas e ausentes
de máscara.
E foi na Alemanha que se notabilizou como cão de trabalho e um excelente
pisteiro, mantendo-se no activo e concorrendo a provas até aos 12 anos de
idade, alcançando na sua esmagadora maioria a nota de “excelente” e por vezes
100 pontos nos 100 possíveis! Nascido à sombra do Convento de Mafra, viria a
revelar-se um rastreador de nomeada em terras teutónicas, tendo igual prestação
nas diferentes Estações do Ano. Não sabemos com que idade se finou, mas temos a
certeza de duas coisas: que teve uma vida plena e uma dona que sempre o amou!
Cães de idêntica qualidade e com a mesma matriz encontram-se nas mãos de
ex-alunos nossos, merecendo especial destaque a cadela Dharma, propriedade do
Sr. Luis Matos, uma fêmea vermelha em tudo igual ao melhor que já produzimos e
que carrega o excelente impulso ao conhecimento que notabilizou o Warrior
D’Acendura Brava e o McLarambee do Casal da Coutana, seus ascendentes. Cães da
mesma linha poderão ainda ser vistos junto dos Srs. António da Cunha, Augusto
Ribeiro, Isabel Paiva da Silva, Joana Moura, Maria Duarte, Pedro Carvalho, Rui
Santos e Tiago Coelho Soares, entre outros. Resta dizer que o Breno descendia
directamente das antigas linhas alemãs de trabalho e, como tantos outros,
cumpriu com o propósito para que foi criado.
PASTORES ALEMÃES LOBEIROS: O QUE OS TORNA ESPECIAIS
PREÂMBULO: Este texto dá continuidade ao já
publicado em
26/10/2009:
“O CÃO LOBEIRO: UM
SILVESTRE ENTRE NÓS”. Em todas as variedades cromáticas do Cão de Pastor Alemão
existem bons e maus exemplares e as menos valias de alguns devem-se, entre
outros factores a: cruzamentos arbitrais, à criação isolada das distintas
variedades, ao desprezo pelo contributo da variedade dominante
(preto-afogueado), à eugenia negativa, a mutações resultantes da endogamia e
também ao despreparo de alguns donos, por desaproveitamento e ignorância, muito
embora o que nasça bom raramente se perca, emergindo a sua qualidade intrínseca
mais cedo ou mais tarde diante de determinadas circunstâncias.
Quando um lobeiro assenta
sobre 6/8 dessa variedade na sua construção, nasce rico nos principais impulsos
herdados, sem entraves sensoriais ou de carácter e não foi objecto de nenhum
trauma, realçará as mais-valias presentes na sua variedade cromática, que serão
tanto ou mais potenciadas pela contribuição de outros. Do ponto de vista
funcional-laboral, os lobeiros puros são mais instintivos, menos cúmplices,
mais esquivos, de menor presença física e de autonomia circunstancial e até
imprestável, porque respondem a apelos atávicos que os levam a rumo próprio,
deméritos do conhecimento dos seus criadores, que ao longo dos tempos os têm beneficiado
com outros, mormente com os negros, na procura de melhor carácter pelo uso e
aproveitamento das suas potencialidades específicas. “Mexer” em lobeiros não é
tarefa para amadores, porque através deles também se poderá chegar a algum tipo
de involução racial. Contudo, a ascendência lobeira, mais do que outras, tem
notabilizado o Cão de Pastor Alemão, não sendo acidental a sua preferência e
regresso nos tempos que correm.
O que os torna tão especiais? São 10 as mais-valias que apresentam em
termos funcionais, a saber: propensão para o serviço nocturno; excelente máquina
sensorial, identificação olfactiva automática; tendência para a dissimulação;
preferência pela emboscada; resistência ao suborno; facilidade na
sociabilização; maior autonomia, superior persistência e maior resistência
(rusticidade). Esta humilde variedade, que é naturalmente silenciosa (quando
não o é fica a dever isso à herança doutros), transfigura-se a partir do lusco-fusco,
tornando-se mais activa e curiosa, por ser praticamente inaudível e invisível entre
as sombras da noite, policiando objectivamente os perímetros que são confiados e
evitando satisfazer as suas necessidades fisiológicas nessas ocasiões. Contrariamente
a maioria dos Pastores Alemães, que fazem a prévia identificação pelo ouvido,
os lobeiros fazem-no maioritariamente pelo olfacto, o que os torna mais
difíceis de incorrer em enganos e ataques acidentais, de serem distraídos, ludibriados
e manietados. Naturalmente adeptos da dissimulação, aguardam oportunidade, mostram-se
menos e não denunciam a sua presença, pormenores que enriquecem o seu serviço e
garantem-lhes a salvaguarda. Como são geneticamente induzidos a emboscar-se,
estudam os invasores, descobrem a sua vulnerabilidade e actuam de surpresa,
vantagem que os torna menos defensáveis e melhores captores. Esta tendência têm
sido responsável pela baixa pontuação de alguns lobeiros em provas desportivas,
porque são-lhes contranaturais e dificilmente optariam por ataques lançados a
várias dezenas de metros, o que lhes diminuiria substancialmente as hipóteses
de êxito na captura. E se acabam por fazê-lo, fazem-no porque já experimentaram
que vão ser bem-sucedidos. Nem sempre os shows são bons simulacros para as
acções reais!
Os lobeiros são naturalmente resistentes ao suborno e quando vítimas
dele tornam-se piegas, dependentes e ansiosos, porque são naturalmente
biqueiros, selectivos nos manjares, carentes de protocolos próprios e desconfiados, sendo por isso mais
resistentes às tentativas de envenenamento e às amenas cavaqueiras com
estranhos. Como são de fácil sociabilização, integram-se sem grandes
dificuldades em matilhas funcionais com o mesmo propósito, muito embora as
cadelas desta variedade possam apresentar inicialmente alguma resistência,
podendo guerrear com outras ou desinteressar-se do serviço, opções ligadas ao
seu perfil psicológico, qualidade do impulso à luta e inegável apelo silvestre.
E quando assim sucede, mais vale deixá-las conviver e capacitá-las
individualmente. A variedade lobeira é a que apresenta maior autonomia
funcional, porque é astuta, assaz exploradora e menos dependente da protecção
dos donos, equilibrando-se e tirando vantagem dos terrenos ao seu redor.
Exactamente por ser menos dependente da protecção dos donos e usar de astúcia,
o lobeiro é mais persistente que os demais, encontrando soluções que outros não
encontrariam sem o concurso de treino específico. A inquestionável rusticidade
dos lobeiros concorre para o aumento da sua resistência e melhor adaptação aos
diversos ecossistemas nas diferentes estações do ano, sendo próprios para
trabalhar em díspares amplitudes térmicas e em qualquer ponto do Globo,
mantendo incólumes os seus índices de prontidão e efectividade de serviço. Ser
proprietário de um lobeiro é um privilégio, porque exige pouco e tem muito para
dar, reclamando apenas que o compreendam.
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