Quando se
fala em cães de guerra vêm-nos logo à memória os que se encontram a prestar
serviço no Afeganistão e nem nos lembramos doutras guerras, conflitos ainda
mais antigos, onde os cães são também chamados a intervir, como é o caso da
guerra palestino-israelita, que dura há décadas e sem fim à vista, tardando a
paz que Yitzhak Rabin tanto procurou e que se tornou mais difícil depois do seu
assassinato. Todos os exércitos nacionais têm orgulho nas suas unidades
cinotécnicas, considerando-as as melhores e as Forças de Defesa Israelita não
escapam à regra quando se pronunciam a sobre a sua Unidade Oketz, uma força
possivelmente fundada em 1939, desmantelada 15 anos mais tarde e reactivada em
1974. Mas serão os cães da Oketz superiores aos de outras forças
internacionais? E se são, donde lhes virá a supremacia?
Avaliando
aquilo que nos chega, do ponto de vista operacional, nada há de surpreendente
que justifique uma clara supremacia daqueles cães em relação aos seus
congéneres doutras paragens, porque os métodos, os exercícios e os cães são em
tudo iguais aos outros. A haver diferenças e certamente as haverá, mais terão a
ver com o particular daquela guerra e dos seus opositores do que com a novidade
de métodos, a qualidade dos cães e a dos seus treinadores (tratadores). A
primeira grande vantagem que apresentam é o seu aparecimento de surpresa, e se o
segredo é alma do negócio, na guerra ele induz à vitória por retardar ou
impossibilitar a defesa, ainda que jamais pensássemos haver tanta informação das
“IDF” (Israel Defense Forces) na Internet, onde não faltam comentários, fotos e
vídeos, alguns até altamente comprometedores e nada honrosos.
Naquele
cenário de guerrilha urbana, que por vezes lembra a caça ao homem na fronteira
entre os Estados Unidos e o México, onde a desproporção de meios é por demais
evidente, para além do efeito surpresa, os cães partem debaixo doutras
vantagens, porque são mais polícias do que soldados, já que os seus oponentes encontram-se
desarmados, temem-nos, são inexperientes, não sabem como combatê-los e
raramente lhes fazem frente, pondo-se em fuga na maioria dos casos, o que
facilita de sobremaneira o seu trabalho e mantém-lhes a moral, potenciando
assim os seus ataques e capturas pela certeza do sucesso.
Qualquer
cão nestas condições produzirá o efeito esperado, ainda mais quando enquadrado
entre soldados humanos que com ele dividem as acções, restando-lhe somente
operar as capturas. Como as acções são recorrentes, a moral vai alta, os
inimigos/cobaias não faltam e não lhes causam dano, estes cães, com
possibilidade de treinarem no meio das missões, partem para elas ávidos e
resolutos, tornando-se gradualmente mais atentos, decididos e eventualmente letais,
condições que os tornarão superiores a outros menos solicitados e com menor
experiência.
A Unidade Oketz, ao que tudo indica,
encontra-se bem apetrechada de meios e instalações, nomeadamente de pistas
tácticas e de aparelhos mecânicos para o exercício dos cães, sendo uma unidade
independente das forças especiais israelitas dedicada ao treino canino para uso
em operações militares. Originalmente foi criada para dar combate aos
sequestradores e hoje prepara os seus cães de ataque para acções urbanas e
rurais, quando importa perseguir e caçar indivíduos subversivos.
Para além
destes, outros são treinados para sentinelas e batedores, para guardar perímetros
e instalações-chave, para detectar inimigos infiltrados e dar-lhes caça, para perseguir
alvos seleccionados, auxiliar nas defesas fronteiriças, para procurar armas,
munições e explosivos escondidos, encontrar pessoas em prédios desmoronados e
extrair terroristas de edifícios fortificados. Estes cães encontram-se ainda
preparados para todo e qualquer tipo de transporte, embarque e desembarque em
diferentes ecossistemas e anfiteatros operacionais, invadindo ou defendo
posições que lhe são confiadas, constituindo-se como parte das tropas de
guarnição e assalto. O contributo militar canino é tão importante que, no
Afeganistão, os talibãs não hesitam em bombardear os canis dentro das unidades
militares, fazendo deles um dos seus alvos preferenciais.
Como não podia deixar de ser, porque
são cães de guerra, treinam o ataque a alvos imóveis, progridem debaixo de fogo
e exercitam-se exaustivamente em obstáculos de vária índole. Hoje a Oketz
prefere o Pastor Belga Malinois aos Rottweilers e Pastores Alemães de outrora,
muito embora mantenha nas suas fileiras alguns deles, porque o cão Belga é
suficiente para atacar eficazmente o inimigo, é mais pequeno e o particular do
seu manto, (curto, menos denso e de cor neutra) é mais resistente à insolação e
presta-se à camuflagem naqueles ecossistemas. O Malinois da foto seguinte
apresenta-se com botas de protecção, próprias para as patrulhas mais longas,
para pisos quentes, duros e rochosos, e também para evoluções entre erva alta
ou arbustos espinhosos, acessórios que os cães de guerra não tiveram na Guerra
Colonial Portuguesa e no Vietname, o que limitou a sua acção e contribuiu para
um sem número de infecções e doenças. E se elas são indispensáveis nestes ecossistemas, sê-lo-ão também naqueles mais frios e gelados, com temperaturas negativas constantes e pisos de gelo, não sendo de estranhar que façam parte do equipamento dos cães de trenó.
A
supremacia dos cães da Oketz (a quem muitos chamam “craques”), quando
comparados com outros, resulta da experiência de guerra israelita e do
conhecimento objectivo e profundo dos seus inimigos, do intercâmbio com outras
unidades estrangeiras e do avanço da sua cinotecnia, que teve o seu início na
década de 30 do Século passado, factores determinantes para o treino que
garante o sucesso nas suas missões. Oxalá a guerra acabe, queira Deus que a paz
não tarde e que árabes e judeus possam viver como irmãos, sem raids, rockets,
bombardeamentos, homens-bomba e cães à perna!
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