Celebra-se hoje, dia 05/03/2015, conforme se pode ver na página de
abertura do Google, o 105º aniversário do nascimento do empresário japonês
Momofuku Ando, um industrial e filantropo que criou o macarrão instantâneo,
mundialmente conhecido como “miojo”. Tinha como convicção e há que dar-lhe
razão, porque não estava nada enganado, que a paz só virá ao mundo quando todas
as pessoas tiverem o que comer, o que realça a necessidade de todos andarmos de
barriga cheia, como causa por detrás de todas as guerras. E se assim é entre os
homens, o mesmo se passa com os canídeos, quer eles sejam lobos, chacais ou
cães, selvagens ou domésticos, porque a morte a todos espreita e torna-se
imperativo sobreviver. É a necessidade de sobrevivência quem está por detrás do
tão aclamado método do “reforço positivo”, já que o patrão da comida é o dono
do cão, sujeitando o animal a partir dos seus instintos mais básicos, o que não
esconde o ardil humano nem tampouco a relação interesseira que os cães mantêm
connosco (estamos bem uns para os outros).
Pela comida podemos construir ou destruir um cão, arranjar um amigo ou
alcançar um inimigo, pacificar um beligerante ou transformar um manso num
bravo, o que parece dar razão aos teólogos do Antigo Testamento Bíblico, que
situavam Deus nas suas entranhas (barriga). Todos sabemos que a maioria dos
cães é sôfrega pela comida e quando não são, também não virão a ser grande “espingarda”,
considerando o seu uso e desenvolvimento laboral. É evidente que um cão mais
apreciará um naco de carne crua ou um osso fresco do que um prato cheio de
ração, que normalmente não come de uma só vez, muito embora hajam excepções
causadas por um excelente impulso ao alimento ou pelo exagerado consumo de
energia. Acontece com frequência e não convém, por razões que explicaremos a
seguir, ser a avidez da comida precedida ou acompanhada pela sua defesa,
rosnando alguns cães para os donos logo após a sua distribuição, ameaça que não
lhes deverá ser consentida, que ao não ser contrariada, para além de colocar em
causa a liderança, poderá ser secundada pelo ataque, o que não é tão raro
acontecer.
Para que isso não aconteça, a vontade do cão permaneça e o dono saia
intimidado, por temor ou agressão, a distribuição do alimento irá carecer de
regras que garantam em simultâneo a hegemonia humana e a submissão do animal,
independentemente do tipo de alimento a distribuir e logo após ter chegado a
nossa casa. A primeira regra é esta: o cão só deverá comer debaixo de ordem
expressa para esse efeito e não imediatamente após a sua distribuição, para que
se submeta e não guerreie contra quem o alimenta e lhe quer bem. A segunda aponta
para a interrupção da refeição, que deve acontecer amiúde para que o animal se
acostume à autoridade do dono, perceba que ele não é um concorrente e que a
comida também é dele. A terceira irá implicar no mexer do penso quando o cão se
encontra comer, alertando-o para o efeito para que não reaja negativamente.
Quando estas regras são incutidas desde tenra idade, dificilmente o animal
rosnará ou escorraçará o dono. A propósito, quando intentar dar ao algo ao cão
da sua mão, faça-o de mão aberta e não com a ponta dos dedos, para que ao
abocanhar o petisco não lhos morda acidentalmente.
O comer debaixo de ordem, a interrupção da refeição e o mexer no prato
da sua comida, pelas razões que atrás mencionámos, irão reforçar a sua
liderança e pacificar definitivamente o seu companheiro de quatro patas, o que
contribuirá de sobremaneira para o entendimento recíproco, que não dispensa a
hierarquia por detrás de toda e qualquer harmonia. Dissemos no 2º parágrafo que
pela comida se pode transformar um manso num bravo e vamos já dizer porquê,
apesar de facilmente se antever como. A guarda da comida, motivada pelo
instinto de sobrevivência, é um acto natural e extensível a todos os animais
(homens inclusive) e os cães na escapam à regra, pois até os mais fracos e
cobardes, não tendo como defendê-la, não hesitarão em escondê-la dos demais,
vindo depois a consumi-la. Qualquer cão fraco, devidamente auxiliado e
instigado pelo dono, perante a tentativa de roubo da sua comida por parte de um
estranho, num ápice aprenderá a defendê-la e a usar os dentes para fins
diversos da alimentação, o que torna a tentativa de roubo do prato da comida na
melhor das manobras indutoras prà disciplina de guarda. Aprendendo a guardar a
comida e ao ser bem-sucedido no afastamento dos estranhos, com naturalidade e
quase automaticamente, aprenderá a guardar brinquedos, outros objectos e demais
pertences, tanto seus como do seu dono. E se o repasto do bicho for carne e não
ração, os resultados serão ainda mais surpreendentes.
Pelo que acabámos de dizer, por cobardia ou ausência de saber (quiçá por
ambas), muitos acabam por ensinar indevidamente os seus cães a morder-lhes.
Realmente o japonês (Momofuku Ando) tinha e tem carradas de razão: a luta pela comida
sustenta todas as guerras! Ainda que vos possa parecer estranho, quanto mais
conheço os animais, melhor compreendo os homens, que os julgava tão diferentes
e que agora vejo-os tão iguais. A grandeza do Homem não poderá vir do seu
quotidiano ou da sua história, mas de algo que perdeu no passado e que ainda
espera encontrar no futuro. O que é, não sei, mas se os cães não podem voltar a
ser lobos, dificilmente os homens conseguirão, só por si, deixar de ser cães
uns para os outros. E, como não podia deixar de ser, neles me incluo eu!
Dissertações à parte, regre o seu cão antes que ele o regre a si!
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