quinta-feira, 5 de março de 2015

É OBRIGATÓRIO MEXER-LHE NO PRATO DA COMIDA!

Celebra-se hoje, dia 05/03/2015, conforme se pode ver na página de abertura do Google, o 105º aniversário do nascimento do empresário japonês Momofuku Ando, um industrial e filantropo que criou o macarrão instantâneo, mundialmente conhecido como “miojo”. Tinha como convicção e há que dar-lhe razão, porque não estava nada enganado, que a paz só virá ao mundo quando todas as pessoas tiverem o que comer, o que realça a necessidade de todos andarmos de barriga cheia, como causa por detrás de todas as guerras. E se assim é entre os homens, o mesmo se passa com os canídeos, quer eles sejam lobos, chacais ou cães, selvagens ou domésticos, porque a morte a todos espreita e torna-se imperativo sobreviver. É a necessidade de sobrevivência quem está por detrás do tão aclamado método do “reforço positivo”, já que o patrão da comida é o dono do cão, sujeitando o animal a partir dos seus instintos mais básicos, o que não esconde o ardil humano nem tampouco a relação interesseira que os cães mantêm connosco (estamos bem uns para os outros).
Pela comida podemos construir ou destruir um cão, arranjar um amigo ou alcançar um inimigo, pacificar um beligerante ou transformar um manso num bravo, o que parece dar razão aos teólogos do Antigo Testamento Bíblico, que situavam Deus nas suas entranhas (barriga). Todos sabemos que a maioria dos cães é sôfrega pela comida e quando não são, também não virão a ser grande “espingarda”, considerando o seu uso e desenvolvimento laboral. É evidente que um cão mais apreciará um naco de carne crua ou um osso fresco do que um prato cheio de ração, que normalmente não come de uma só vez, muito embora hajam excepções causadas por um excelente impulso ao alimento ou pelo exagerado consumo de energia. Acontece com frequência e não convém, por razões que explicaremos a seguir, ser a avidez da comida precedida ou acompanhada pela sua defesa, rosnando alguns cães para os donos logo após a sua distribuição, ameaça que não lhes deverá ser consentida, que ao não ser contrariada, para além de colocar em causa a liderança, poderá ser secundada pelo ataque, o que não é tão raro acontecer.
Para que isso não aconteça, a vontade do cão permaneça e o dono saia intimidado, por temor ou agressão, a distribuição do alimento irá carecer de regras que garantam em simultâneo a hegemonia humana e a submissão do animal, independentemente do tipo de alimento a distribuir e logo após ter chegado a nossa casa. A primeira regra é esta: o cão só deverá comer debaixo de ordem expressa para esse efeito e não imediatamente após a sua distribuição, para que se submeta e não guerreie contra quem o alimenta e lhe quer bem. A segunda aponta para a interrupção da refeição, que deve acontecer amiúde para que o animal se acostume à autoridade do dono, perceba que ele não é um concorrente e que a comida também é dele. A terceira irá implicar no mexer do penso quando o cão se encontra comer, alertando-o para o efeito para que não reaja negativamente. Quando estas regras são incutidas desde tenra idade, dificilmente o animal rosnará ou escorraçará o dono. A propósito, quando intentar dar ao algo ao cão da sua mão, faça-o de mão aberta e não com a ponta dos dedos, para que ao abocanhar o petisco não lhos morda acidentalmente.
O comer debaixo de ordem, a interrupção da refeição e o mexer no prato da sua comida, pelas razões que atrás mencionámos, irão reforçar a sua liderança e pacificar definitivamente o seu companheiro de quatro patas, o que contribuirá de sobremaneira para o entendimento recíproco, que não dispensa a hierarquia por detrás de toda e qualquer harmonia. Dissemos no 2º parágrafo que pela comida se pode transformar um manso num bravo e vamos já dizer porquê, apesar de facilmente se antever como. A guarda da comida, motivada pelo instinto de sobrevivência, é um acto natural e extensível a todos os animais (homens inclusive) e os cães na escapam à regra, pois até os mais fracos e cobardes, não tendo como defendê-la, não hesitarão em escondê-la dos demais, vindo depois a consumi-la. Qualquer cão fraco, devidamente auxiliado e instigado pelo dono, perante a tentativa de roubo da sua comida por parte de um estranho, num ápice aprenderá a defendê-la e a usar os dentes para fins diversos da alimentação, o que torna a tentativa de roubo do prato da comida na melhor das manobras indutoras prà disciplina de guarda. Aprendendo a guardar a comida e ao ser bem-sucedido no afastamento dos estranhos, com naturalidade e quase automaticamente, aprenderá a guardar brinquedos, outros objectos e demais pertences, tanto seus como do seu dono. E se o repasto do bicho for carne e não ração, os resultados serão ainda mais surpreendentes.
Pelo que acabámos de dizer, por cobardia ou ausência de saber (quiçá por ambas), muitos acabam por ensinar indevidamente os seus cães a morder-lhes. Realmente o japonês (Momofuku Ando) tinha e tem carradas de razão: a luta pela comida sustenta todas as guerras! Ainda que vos possa parecer estranho, quanto mais conheço os animais, melhor compreendo os homens, que os julgava tão diferentes e que agora vejo-os tão iguais. A grandeza do Homem não poderá vir do seu quotidiano ou da sua história, mas de algo que perdeu no passado e que ainda espera encontrar no futuro. O que é, não sei, mas se os cães não podem voltar a ser lobos, dificilmente os homens conseguirão, só por si, deixar de ser cães uns para os outros. E, como não podia deixar de ser, neles me incluo eu! Dissertações à parte, regre o seu cão antes que ele o regre a si! 

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