quinta-feira, 26 de março de 2015

A DILUIÇÃO DO VERMELHO ATÉ CHEGAR AO BRANCO

Considerando a relação entre a cor vermelha e a branca nos Pastores Alemães parece que estamos a relançar a ancestral dúvida entre o que apareceu primeiro: se o ovo ou galinha, na já gasta oposição entre a “crença criacionista” e a “teoria da evolução”. Os pressupostos originais que presidiram à selecção da raça também pouco ou nada esclarecem, porque a cor dos cães não era na altura um entrave para a raça, contribuindo vermelhos e brancos, para além de cães doutras cores, para a sua formação, privilegiando-se a funcionalidade em detrimento da cor. Nessa altura contribuíram de igual modo cães vermelhos e brancos, sendo os últimos mais uniformes que os primeiros, facto comprovado pelas imagens e registos que nos chegaram até hoje. Contudo, nalgumas das fotos mais antigas e anteriores ao aparecimento dos pastores brancos, são visíveis alguns cães de pastoreio vermelhos que serviram ao protótipo original e que se encontram por detrás dos já raros Pastores Alemães de pelo crespo ou com manifestos remoinhos no seu manto.
Pelo nosso experimento, esperando doutros a devida explicação científica e usando termos menos próprios mas mais acessíveis, estamos em crer que a cor branca resulta da diluição da vermelha. E dizemos isto pelo sucedido com os dingos e também com os nossos podengos, onde a proliferação desta cor, quando exclusiva, normalmente gera alguns exemplares brancos e jamais canídeos doutras cores. Ao dizermos isto, estamos a lembrarmo-nos de um homem simples mas ao mesmo tempo experimentado na canicultura que dizia ser o branco “um cão de pintar”, uma espécie de cor neutra que possibilitava o alcance doutras para além do vermelho na sua origem, o que imediatamente nos transporta para a variedade “Panda” no Pastor de Shiloh. No Pastor Alemão passa-se exactamente o mesmo, já que o cruzamento consecutivo entre dourados, para além de desprezar os benefícios das outras variedades cromáticas, acabará por descolorá-los até ao alcance de algum branco, desaparecendo progressivamente nuns e noutros a máscara. Reforçamos o que acabámos de dizer com dois factos: no beneficiamento entre um cão vermelho e um branco, o mais natural de acontecer é que toda a prole saia vermelha e quanto mais clara for a variedade cromática a cruzar com o vermelho (lobeiro, por exemplo), mais cachorros “red sable” nascerão, ainda que mais para o ouro (golden) do que para o vermelho propriamente dito. A somar a isto é também comprovado que a intensidade do vermelho numa ninhada mais depende do tom de vermelho do progenitor não-dourado do que do progenitor dourado utilizado, porque o primeiro irá reforçar a pigmentação do segundo.
Durante anos usámos a designação de “dourados” para os nossos Pastores Vermelhos, porque mais nos dedicámos à criação de Pastores Alemães de linha antiga (ancestral) do que à actual, típica de exposição e de notória menos valia. Como é sabido esses cães preto-afogueados ancestrais eram e são menos vermelhos que os actuais, por se encontrarem mais perto do caldeirão genético que sustentou e levantou a raça, alicerçado na multivariedade cromática.
Para evitar a recorrência aos Pastores Alemães Brancos para a proliferação de dourados, que normalmente aumentam o branco nas patas e no peito, para além dos despigmentarem, e necessitando para tal de uma variedade cromática uniforme, sempre recorremos aos Pastores Alemães Negros, nomeadamente aos descendentes de preto-afogueados bem vermelhos, para beneficiarem os Pastores Vermelhos uniformes, apesar da ocorrência de dourados nas ninhadas muito reduzida ou bem menor. Poder-nos-íamos também valer dos exemplares fígado uniformes (Liver). Sabendo-se que os exemplares dourados, quando de pelo duro e não comprido, têm um manto mais rarefeito, sempre procuramos como progenitores exemplares de manto mais denso, não por questões estéticas mas pela rusticidade que é exigível a um cão de guarda, utilitário ou de guerra. Para que o dourado se transforme em vermelho e não perca a máscara, beneficiamos primeiro um dourado com um negro, beneficiando depois os dourados deles nascidos com um preto-afogueado bem vermelho para a obtenção da cor vermelha que desejamos. Por causa disto se diz ser o vermelho um produto de 3ª geração. Estes exemplares vermelhos de terceira geração poderão ter tonalidades diferentes e geralmente têm, sendo os descendentes de Pastor Alemão Liver de um laranja vivo (achocolatado)  e os descendentes de negro vermelhos intensivos. Quando para o mesmo efeito se usam lobeiros modernos, notoriamente mais vermelhos que os seus ancestrais, a cor achocolatada também se faz presente.
Pondo de parte as questões ligadas ao manto, à camuflagem e à rusticidade dos cães, o recurso à variedade dominante torna-se imperativa, uma vez que sucede com os dourados o mesmo que acontece com os Pastores Alemães doutras variedades recessivas que, quando somente beneficiadas entre si (cite-se o caso da variedade negra uniforme), acabam por produzir exemplares mais pequenos, com menos envergadura e peso, o que ninguém deseja. Convém não esquecer que a raça nasceu da multivariedade cromática e que esta lhe transmitiu saúde, versatilidade e maior abrangência de serviços, contrariamente ao que hoje se vê, quando se cria isoladamente cada variedade cromática e se faz da endogamia prática sistemática, o que claramente anuncia o fim da raça. Por enquanto, os Malinois só têm a ganhar com isso, já que um dia poderá suceder-lhes o mesmo se obrigados a idêntica “selecção” e calvário.
Conhecedores da problemática dos beneficiamentos entre as variedades recessivas no Pastor Alemão e reconhecendo a cada uma delas os seus méritos, entendemos que todas as elas têm a ganhar quando beneficiadas com o preto-afogueado, porque não foi por acaso que se tornou a variedade dominante. A discriminação, na sua origem nazi, que levou à expulsão da variedade branca da raça, é um assunto que nos é grato e ao mesmo tempo penoso, grato porque a conhecemos e consideramos válida e penoso porque tardam em fazer-lhe justiça. O Pastor Alemão Branco transmite juízo, tamanho e envergadura à variedade dominante e a sua supressão teve como resultado o aparecimento de pastores alemães miniatura, mal vestidos de carne e parcos de osso, irritadiços e menos multifacetados. Se um dia a variedade branca vier a ser reintegrada na Pastor Alemão, oxalá os seus criadores não ousem continuar a criá-la em separado, porque se o fizerem, apesar de aceites continuarão em separado. Pelo que atrás dissemos, a variedade branca não se presta aos vermelhos, como não se presta aos negros e a outras variedades recessivas uniformes ainda reconhecidas, porque de alguma forma as descaracteriza. A diluição do vermelho para o branco não implica unicamente na perca de cor e vai muito para além disso. Quem já criou e treinou Pastores Alemães Vermelhos sabe quanto são rijos e como vivem às ordens dos seus donos, contrariamente aos brancos que na sua maioria são mais amistosos e sociáveis, ainda que mais fechados em si mesmos, como se quisessem disfarçar a sua presença ou passarem sem ser notados, realçando um ascetismo que não se confunde com o carácter operário dos cães vermelhos, sendo por vezes mais instintivos e distantes, características que a nosso ver resultam do isolamento a que se viram forçados e que os vem impedido de serem beneficiados pelos seus irmãos doutras variedades cromáticas.
Raramente no alcunhado “Pastor Suíço” e com mais frequência no “Pastor Canadiano” é possível verem-se exemplares brancos sólidos com as orelhas “tan” ou vermelhas, exemplos típicos da diluição da cor que se esconde por detrás da branca e que nalguns casos resulta também do beneficiamento entre os brancos e outros, coisa fácil de acontecer face à surdez selectiva de alguns criadores de Pastor Alemão Canadianos, que há muito suprimiram do seu léxico as decisões para eles da arbitrárias da “SV”.
Os desprendimento visível nos criadores canadianos, relativo ao parecer dos alemães contemporâneos, não tem sido acompanhado de igual modo pelos criadores do “Pastor Suíço”, que tudo têm vindo a fazer para serem de novo aceites na “SV”, eliminando diferenças morfológicas e aproximando os seus cães Dos pastores actuais, cujo parentesco é por demais remoto, considerando os mais de 80 anos que os separam, política subversiva de selecção, que a nosso ver nada beneficia a variedade branca, cuja rusticidade, biomecânica e disponibilidade são incomparavelmente superiores às encontradas nos actuais pastores alemães, não sendo por isso de estranhar que por detrás de um “Pastor Suíço” se esconda um dos mais reputados descendentes da linha estética.
A obtenção de exemplares vermelhos e azuis (cinzentos) a partir do branco sempre gerará animais despigmentados e com ausência de máscara, que verdadeiramente não serão nem uma coisa nem outra e muito menos terão a apresentação esperada dum Pastor Alemão. Daí a nossa opção pelo Pastor Alemão Negro para chegar a essas variedades. Os beneficiamentos dos vermelhos com os lobeiros cinzentos, com os brancos ou com outros vermelhos perdem a sua razão de ser diante da presença ostensiva que sempre caracterizaram o Cão de Sephanitz. Exemplo dessa indefinição é a foto do cão que se segue, estaremos na presença de um branco ou dum dourado? Para nós trata-se de um branco, porque de vermelho tem pouco!
Não elaborámos este artigo para exaltar os cães vermelhos em detrimento doutros e tampouco o fizemos para aumentar a sua procura, porque nenhuma variedade cromática é superior às outras e todas contribuíram a seu modo para a exaltação da raça. Há maus exemplares dourados, pouco disponíveis e bonacheirões? Certamente que sim, exactamente como os há doutras cores! O que enalteceu e enaltece os nossos cães vermelhos, que sempre foram em pequeno número foi o nosso cuidado e saber na selecção, mais-valias advindas do conhecimento da raça, da comprovada qualidade dos seus progenitores e da identificação individual dos principais impulsos herdados. Como é óbvio, não trocamos um bom preto-afogueado, negro ou lobeiro por um dourado qualquer, mas também não trocamos um dourado dos nossos por qualquer um que nos apareça! O objectivo deste texto é apenas subsidiar aqueles que se interessam por esta variedade cromática e pretendem perpetuá-la, para que não partam às cegas e de pronto se estampem.

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