Considerando a relação entre a cor vermelha e a branca nos Pastores
Alemães parece que estamos a relançar a ancestral dúvida entre o que apareceu
primeiro: se o ovo ou galinha, na já gasta oposição entre a “crença
criacionista” e a “teoria da evolução”. Os pressupostos originais que
presidiram à selecção da raça também pouco ou nada esclarecem, porque a cor dos
cães não era na altura um entrave para a raça, contribuindo vermelhos e
brancos, para além de cães doutras cores, para a sua formação, privilegiando-se
a funcionalidade em detrimento da cor. Nessa altura contribuíram de igual modo
cães vermelhos e brancos, sendo os últimos mais uniformes que os primeiros,
facto comprovado pelas imagens e registos que nos chegaram até hoje. Contudo,
nalgumas das fotos mais antigas e anteriores ao aparecimento dos pastores
brancos, são visíveis alguns cães de pastoreio vermelhos que serviram ao
protótipo original e que se encontram por detrás dos já raros Pastores Alemães
de pelo crespo ou com manifestos remoinhos no seu manto.
Pelo nosso experimento, esperando doutros a devida explicação científica
e usando termos menos próprios mas mais acessíveis, estamos em crer que a cor
branca resulta da diluição da vermelha. E dizemos isto pelo sucedido com os
dingos e também com os nossos podengos, onde a proliferação desta cor, quando
exclusiva, normalmente gera alguns exemplares brancos e jamais canídeos doutras
cores. Ao dizermos isto, estamos a lembrarmo-nos de um homem simples mas ao
mesmo tempo experimentado na canicultura que dizia ser o branco “um cão de
pintar”, uma espécie de cor neutra que possibilitava o alcance doutras para
além do vermelho na sua origem, o que imediatamente nos transporta para a
variedade “Panda” no Pastor de Shiloh. No Pastor Alemão passa-se exactamente o
mesmo, já que o cruzamento consecutivo entre dourados, para além de desprezar
os benefícios das outras variedades cromáticas, acabará por descolorá-los até
ao alcance de algum branco, desaparecendo progressivamente nuns e noutros a
máscara. Reforçamos o que acabámos de dizer com dois factos: no beneficiamento
entre um cão vermelho e um branco, o mais natural de acontecer é que toda a
prole saia vermelha e quanto mais clara for a variedade cromática a cruzar com
o vermelho (lobeiro, por exemplo), mais cachorros “red sable” nascerão, ainda
que mais para o ouro (golden) do que para o vermelho propriamente dito. A somar
a isto é também comprovado que a intensidade do vermelho numa ninhada mais
depende do tom de vermelho do progenitor não-dourado do que do progenitor
dourado utilizado, porque o primeiro irá reforçar a pigmentação do segundo.
Durante anos usámos a
designação de “dourados” para os nossos Pastores Vermelhos, porque mais nos
dedicámos à criação de Pastores Alemães de linha antiga (ancestral) do que à
actual, típica de exposição e de notória menos valia. Como é sabido esses cães
preto-afogueados ancestrais eram e são menos vermelhos que os actuais, por se
encontrarem mais perto do caldeirão genético que sustentou e levantou a raça,
alicerçado na multivariedade cromática.
Para evitar a recorrência aos Pastores Alemães Brancos para a
proliferação de dourados, que normalmente aumentam o branco nas patas e no
peito, para além dos despigmentarem, e necessitando para tal de uma variedade
cromática uniforme, sempre recorremos aos Pastores Alemães Negros, nomeadamente
aos descendentes de preto-afogueados bem vermelhos, para beneficiarem os
Pastores Vermelhos uniformes, apesar da ocorrência de dourados nas ninhadas
muito reduzida ou bem menor. Poder-nos-íamos também valer dos exemplares fígado
uniformes (Liver). Sabendo-se que os exemplares dourados, quando de pelo duro e
não comprido, têm um manto mais rarefeito, sempre procuramos como progenitores
exemplares de manto mais denso, não por questões estéticas mas pela rusticidade
que é exigível a um cão de guarda, utilitário ou de guerra. Para que o dourado
se transforme em vermelho e não perca a máscara, beneficiamos primeiro um
dourado com um negro, beneficiando depois os dourados deles nascidos com um preto-afogueado
bem vermelho para a obtenção da cor vermelha que desejamos. Por causa disto se
diz ser o vermelho um produto de 3ª geração. Estes exemplares vermelhos de
terceira geração poderão ter tonalidades diferentes e geralmente têm, sendo os
descendentes de Pastor Alemão Liver de um laranja vivo (achocolatado) e os descendentes de negro vermelhos
intensivos. Quando para o mesmo efeito se usam lobeiros modernos, notoriamente
mais vermelhos que os seus ancestrais, a cor achocolatada também se faz
presente.
Pondo de parte as questões
ligadas ao manto, à camuflagem e à rusticidade dos cães, o recurso à variedade
dominante torna-se imperativa, uma vez que sucede com os dourados o mesmo que
acontece com os Pastores Alemães doutras variedades recessivas que, quando
somente beneficiadas entre si (cite-se o caso da variedade negra uniforme),
acabam por produzir exemplares mais pequenos, com menos envergadura e peso, o
que ninguém deseja. Convém não esquecer que a raça nasceu da multivariedade
cromática e que esta lhe transmitiu saúde, versatilidade e maior abrangência de
serviços, contrariamente ao que hoje se vê, quando se cria isoladamente cada
variedade cromática e se faz da endogamia prática sistemática, o que claramente
anuncia o fim da raça. Por enquanto, os Malinois só têm a ganhar com isso, já
que um dia poderá suceder-lhes o mesmo se obrigados a idêntica “selecção” e calvário.
Conhecedores da problemática dos beneficiamentos entre as variedades
recessivas no Pastor Alemão e reconhecendo a cada uma delas os seus méritos,
entendemos que todas as elas têm a ganhar quando beneficiadas com o
preto-afogueado, porque não foi por acaso que se tornou a variedade dominante.
A discriminação, na sua origem nazi, que levou à expulsão da variedade branca
da raça, é um assunto que nos é grato e ao mesmo tempo penoso, grato porque a
conhecemos e consideramos válida e penoso porque tardam em fazer-lhe justiça. O
Pastor Alemão Branco transmite juízo, tamanho e envergadura à variedade
dominante e a sua supressão teve como resultado o aparecimento de pastores
alemães miniatura, mal vestidos de carne e parcos de osso, irritadiços e menos
multifacetados. Se um dia a variedade branca vier a ser reintegrada na Pastor
Alemão, oxalá os seus criadores não ousem continuar a criá-la em separado,
porque se o fizerem, apesar de aceites continuarão em separado. Pelo que atrás
dissemos, a variedade branca não se presta aos vermelhos, como não se presta
aos negros e a outras variedades recessivas uniformes ainda reconhecidas,
porque de alguma forma as descaracteriza. A diluição do vermelho para o branco
não implica unicamente na perca de cor e vai muito para além disso. Quem já
criou e treinou Pastores Alemães Vermelhos sabe quanto são rijos e como vivem
às ordens dos seus donos, contrariamente aos brancos que na sua maioria são
mais amistosos e sociáveis, ainda que mais fechados em si mesmos, como se
quisessem disfarçar a sua presença ou passarem sem ser notados, realçando um
ascetismo que não se confunde com o carácter operário dos cães vermelhos, sendo
por vezes mais instintivos e distantes, características que a nosso ver
resultam do isolamento a que se viram forçados e que os vem impedido de serem
beneficiados pelos seus irmãos doutras variedades cromáticas.
Raramente no alcunhado “Pastor Suíço” e com mais frequência no “Pastor
Canadiano” é possível verem-se exemplares brancos sólidos com as orelhas “tan”
ou vermelhas, exemplos típicos da diluição da cor que se esconde por detrás da
branca e que nalguns casos resulta também do beneficiamento entre os brancos e
outros, coisa fácil de acontecer face à surdez selectiva de alguns criadores de
Pastor Alemão Canadianos, que há muito suprimiram do seu léxico as decisões
para eles da arbitrárias da “SV”.
Os desprendimento visível nos criadores canadianos, relativo ao parecer
dos alemães contemporâneos, não tem sido acompanhado de igual modo pelos
criadores do “Pastor Suíço”, que tudo têm vindo a fazer para serem de novo
aceites na “SV”, eliminando diferenças morfológicas e aproximando os seus cães Dos
pastores actuais, cujo parentesco é por demais remoto, considerando os mais de
80 anos que os separam, política subversiva de selecção, que a nosso ver nada
beneficia a variedade branca, cuja rusticidade, biomecânica e disponibilidade são
incomparavelmente superiores às encontradas nos actuais pastores alemães, não
sendo por isso de estranhar que por detrás de um “Pastor Suíço” se esconda um
dos mais reputados descendentes da linha estética.
A obtenção de exemplares vermelhos e azuis (cinzentos) a partir do
branco sempre gerará animais despigmentados e com ausência de máscara, que
verdadeiramente não serão nem uma coisa nem outra e muito menos terão a
apresentação esperada dum Pastor Alemão. Daí a nossa opção pelo Pastor Alemão
Negro para chegar a essas variedades. Os beneficiamentos dos vermelhos com os
lobeiros cinzentos, com os brancos ou com outros vermelhos perdem a sua razão
de ser diante da presença ostensiva que sempre caracterizaram o Cão de
Sephanitz. Exemplo dessa indefinição é a foto do cão que se segue, estaremos na
presença de um branco ou dum dourado? Para nós trata-se de um branco, porque de
vermelho tem pouco!
Não elaborámos este artigo para exaltar os cães vermelhos em detrimento
doutros e tampouco o fizemos para aumentar a sua procura, porque nenhuma
variedade cromática é superior às outras e todas contribuíram a seu modo para a
exaltação da raça. Há maus exemplares dourados, pouco disponíveis e
bonacheirões? Certamente que sim, exactamente como os há doutras cores! O que
enalteceu e enaltece os nossos cães vermelhos, que sempre foram em pequeno
número foi o nosso cuidado e saber na selecção, mais-valias advindas do
conhecimento da raça, da comprovada qualidade dos seus progenitores e da
identificação individual dos principais impulsos herdados. Como é óbvio, não
trocamos um bom preto-afogueado, negro ou lobeiro por um dourado qualquer, mas
também não trocamos um dourado dos nossos por qualquer um que nos apareça! O
objectivo deste texto é apenas subsidiar aqueles que se interessam por esta
variedade cromática e pretendem perpetuá-la, para que não partam às cegas e de
pronto se estampem.
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