Também nos cães força e inteligência raramente combinam, pelo menos essa
é a experiência que temos e que nos tem servido de lição. Os cães mais fortes correm
riscos desnecessários e desconsideram o perigo, enquanto os mais fracos, ao
serem mais cautelosos, medem os riscos e não se expõem gratuitamente. Os primeiros
tendem a sucumbir precocemente e os segundos a sobreviver-lhes. Conhecedores deste
particular, quando somos obrigados a optar entre um cão muito-dominante e um dominante,
optamos sem reservas pelo último, que em contraposição ao primeiro, por ser mais
atento e moldável, com mais facilidade aprenderá os seus limites, adoptará as
regras e aquilatará dos riscos para a sua salvaguarda, predicados que o outro
mais assimilará pela inibição do que pelo conselho, teimando em evoluir por
modo próprio. A excessiva dominância visível nalguns cães, diga-se em abono da
verdade que cada vez são mais raros, acaba por causar-lhes entraves cognitivos
pela inusitada prevalência dos impulso à luta e ao poder, o que à partida
torna-os indesejáveis e condiciona o seu uso.
Os cães mais valentes e que enchem o olho aos sonhadores (que
invariavelmente reclamam para si mesmos o estatuto de justiceiros), são animais
ardilosos e recalcitrantes, carentes de travamento acérrimo e duma liderança
inquestionável, normalmente desafiadores e predispostos ao disparate, que inventam
serviço e não esperam ordem, que dispensam a provocação nas suas arremetidas e
que insistem na procura de alvos, não se compadecendo dos fracos e chegando a
atacar os donos debaixo de contrariedade ou confusão. Cães assim não foram
feitos para andar ao nosso lado, mas para varrer tudo o que se atravessar na
nossa frente! E como se isto não bastasse, na cegueira pela peleja, são capazes
de saltar de um carro em andamento ou de se jogarem dum prédio de vários
andares abaixo, para satisfazerem os seus insaciáveis instintos e impulsos,
sendo por isso mesmo suicidas. Eu não quero e penso que ninguém quer um cão que
seja carne para canhão, ao invés, quero um que aprenda a desviar-se da
trajectória das balas, que tenha noção do certo e do errado, que não confunda
inimigos e seja controlado, que tenha noção do perigo para viver mais tempo ao
meu lado.
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