quinta-feira, 19 de março de 2015

CINOTECNIA: CONDUZIR COM O CÃO NA FRENTE

Sempre defendemos e ensinámos no adestramento 3 tipos de condução: linear, dinâmica e nuclear. Designamos por condução linear aquela que executamos com o cão ao nosso lado (atrelado ou em liberdade) com ele em marcha (no segundo andamento natural), em percursos lineares, sem mudanças de andamento e sem obstáculos a transpor, tipo de condução que usamos para robustecer o animal, ganhar o “junto”, alcançar os comandos básicos de imobilização e ensinar vários subsídios direccionais. Entendemos como condução dinâmica aquela que o condutor desenvolve com o seu cão lado a lado, tirando partido das mudanças de andamento para a execução de várias tarefas ou obstáculos. Chamamos condução nuclear àquela que possibilita a maximização do esforço canino e a minimização do esforço humano, dispensando os condutores do acompanhamento dos cães, que trabalharão adiante debaixo de ordem, uma vez preparados para isso. Considerando o princípio pedagógico da progressão, começamos pela linear, evoluímos para a dinâmica e alcançamos finalmente a nuclear, tipo de condução que iremos agora tratar.
Sabemos que a maioria dos condutores jamais chegará à condução nuclear de forma satisfatória, quedando-se invariavelmente pela dinâmica, apesar do adestramento procurar a autonomia condicionada e não dispensar a condução nuclear no seu uso multidisciplinar. Sem faltar à verdade, qualquer cão que não consiga trabalhar a 50m de distância do dono não se pode considerar apto ou pronto, considerando-se excepcional o cão que obedece para além dos 150m distância, respondendo a diferentes linguagens, com o dono à vista ou escondido. Debaixo do mesmo propósito e objectivo, a prevalência das ordens deverá acontecer num mínimo de duas horas com o dono ausente, podendo esse período ser aumentado mediante treino específico. Certa vez, por lapso, deixei um cão esquecido (Zucker) por 3 horas num café (debaixo dum lavatório) e outro numa bomba de gasolina a meio caminho entre Lisboa e o Porto (Faruk), retornando depois da Invicta para o ir buscar, encontrando-o exactamente no mesmo sítio e posição em que o deixei, 85 minutos depois.
Na disciplina de guarda são considerados exercícios de condução nuclear os ataques lançados e a sua interrupção a mais de 50m, assim como a “ronda” de propriedades, com o cão isolado, num perímetro superior à velocidade do som ou constituído por várias mudanças de direcção. O desempenho dos cães destinados ao salvamento, ao resgate, à detecção e ao cerco é de natureza nuclear. E o que dizer do agility, valerá a pena entrar em pista sem condução nuclear? Já falámos deste assunto no texto “MAMÃ,QUANTOS PASSOS DOU? QUATRO À CARANGUEJO!”, editado na semana passada e vamos agora desenvolvê-lo, porque o assunto é também útil para os condutores caninos que usam os seus cães para outros fins, já que técnica de condução é imprescindível a todos, inclusive àqueles que se dedicam aos obstáculos tácticos, onde a posição dos condutores é deveras importante, particularmente naqueles de uso duplo, triplo ou psicologicamente mais exigentes.
Se na maior parte das disciplinas cinotécnicas os cães fazem usos dos sentidos e já sabem ao que vão (para isso treinaram), no agility partem pelo gozo dos obstáculos e debaixo de ordem, desconhecendo os percursos das provas a que concorrem, o que obriga os seus condutores a trabalhar por antecipação enquanto seus guias. É evidente que todos os cães que concorrem a esta competição, porque é impossível aos donos acompanhá-los, têm que ser condicionados a obedecer longe da sua presença, a serem conduzidos pela retaguarda, requisito técnico excepcional que carece de treino paciente e muito condicionamento. Contudo, este tipo de condução, por ser excepcional, deve dar lugar, sempre que possível, ao adiantamento dos donos em relação aos percursos a efectuar pelos cães, para que saibam ao que vão, não percam tempo e não sejam induzidos em dúvida ou engano. Condutor experiente não se deixa surpreender, estuda o percurso, está no sítio certo, não grita desalmadamente, não corre à toa e sabe colocar-se. De quem será a culpa do engano dos cães, do abandono dos percursos, dos saltos na diagonal e das verticais deitadas abaixo? Dos cães não será certamente! Conduzir por sistema atrás, mais serve ao travamento do que à célere evolução desejável.
O mesmo sucede na execução de obstáculos tácticos a partir da condução nuclear, quando transformados em percursos, onde a posição do condutor é o garante do acerto dos cães, reflectindo-se no seu modo de execução, que deve ser seguro e não constituir-se em risco para os animais, para que marquem os saltos no sítio certo e não incorram em esforços desmedidos, tantas vezes responsáveis pela aversão e resistência a um ou mais obstáculos. É no adestramento não-desportivo, no clássico que pressupõe a obediência, a guarda e a pistagem, que a condução nuclear a partir da retaguarda se torna mais necessária, porque exige o perfeito equilíbrio entre a acção e a sua suspensão. Agora, quando a prova é ao cronómetro, não há tempo a perder e “candeeiro que vai na frente alumia duas vezes”, porque o travamento cede lugar à velocidade e o cão precisa de ser guiado instantaneamente, para que mal toque no chão saiba para onde ir. 

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